Festa da Luz 2025: criadora explica a frase do ano

Acabou a curiosidade! Amara Moira, artista criadora da icônica frase “Aqüenda o edi da mona cá gritando nesse oxó do axé”, destaque na Festa da Luz em BH, revelou ao BHAZ o significado do letreiro luminoso da edição deste ano. A obra está localizada na escadaria no metrô, na rua Sapucaí, e a visitação ocorre até este domingo (17).

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A doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp explica que a frase está escrita em bajubá, uma língua criada por travestis. Os dizeres significam “Vê só como o meu buzanfã se destaca nessa roupa que traz sorte”. De acordo com Amara Moira, essa linguagem depende de contexto e “adora dar pistas falsas pra quem não é da comunidade se perder”, explica. Por isso, quem conhece apenas a tradução dos termos famosos, como aqüenda, ficou perdido.

Segundo ela, o bajubá muda rapidamente, justamente para proteger a comunidade. Os termos mais conhecidos, que já constam até em dicionários, já não são mais usados nas ruas, como uma forma de manter língua fechada para quem não pertence à comunidade LGBTI+. Por isso, ela criou a frase reunindo os temos mais populares.

“Eu tenho começado a pensar que esse bajubá mais consolidado é ótimo para criações literárias, porque permite trazer uma ‘pimentinha’ travesti pro meio cultural sem ameaçar a segurança da comunidade. Gosto também de imaginar que uma língua que era tão discriminada pode começar a ser vista como língua de cultura”, explica Amara Moira.

O que é o bajubá ou Pajubá?

A língua bajubá ou pajubá, conforme Amara Moira, é uma língua oral que possui variação de pronúncia e de usos, criada por uma parcela da comunidade LGBTI+ e utilizada, principalmente, por travestis. “É uma forma de conversar em segredo, mas é também um elemento constitutivo da travestilidade: se você fala assim, você se valida como travesti perante suas iguais”, esclarece.

Conforme a autora, a linguagem existe há cerca de cem anos, sendo uma reinvenção do português, que passou por uma apropriação de termos dos terreiros e, depois, se apropriou de expressões usadas países em que há a presença de travestis brasileiras, como Itália, França e Espanha.

“Em suma, é um caldeirão linguístico que deixaria o Guimarães Rosa de queixo caído”, afirma.

Embora seja uma língua conhecida principalmente pela comunidade, Amara Moira defende que a sociedade também deve conhecer e entender a história do bajubá. “Por meio dela podemos entender melhor dos desafios que travestis enfrentam desde que começaram a marcar presença nas grandes cidades do Brasil. A existência de uma língua de segurança é um indicativo das condições atrozes enfrentadas por essa população”, disse.

A artista ainda explicou ao BHAZ o significado de outros termos, saca só:

“‘Ocó’ é ‘bofe’, o homem cis hétero. Se ele chegar na ‘mona’ (travesti) e se mostrar muito obcecado com a ‘neca’ (pênis) dela, aí ele vai ser chamado de ‘maricona’. ‘Amapoa’, ou ‘racha’, é a mulher cis. E por aí vai”, finaliza.

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