A Raízen anunciou no último dia 12 de maio a venda de uma de suas usinas sucroenergéticas localizada em LEM, por R$ 425 milhões, em uma tentativa clara de reduzir o alto endividamento e reestruturar suas operações. A compradora é a Ferrari Agroindústria S.A. em parceria com a Agromen Sementes Agrícolas, que também absorverão 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar associadas à unidade.
A transação marca mais uma etapa do plano de reestruturação iniciado após a companhia registrar um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no terceiro trimestre da safra 2024/2025. Desde então, a Raízen – controlada pela Cosan (CSAN3) e pela Shell – vem promovendo a venda de ativos considerados não estratégicos, como usinas de bioenergia, rede de lojas de conveniência e projetos de combustíveis sustentáveis para aviação.
Queda acentuada das ações e mudança de estratégia
Desde seu IPO, as ações da Raízen (RAIZ4) já acumularam uma queda de quase 75%, saindo de cerca de R$ 8 para atuais R$ 1,78. O mercado tem reagido negativamente aos sucessivos prejuízos e ao elevado nível de endividamento, que hoje ultrapassa os R$ 38 bilhões, com uma relação dívida líquida/EBITDA de 3,0x.
A nomeação de Nelson Gomes como novo CEO em fevereiro de 2025 acelerou a mudança de rumo. A nova estratégia prioriza o core business da companhia — produção e comercialização de etanol, açúcar e bioenergia —, deixando de lado negócios considerados periféricos.
Venda abaixo do mercado e urgência financeira
O valor pago pela usina LEM, que tem capacidade para processar 1,8 milhão de toneladas de cana, corresponde a R$ 236 por tonelada. O número é considerado abaixo do mercado, já que outras transações recentes no setor variaram de R$ 350 a R$ 724 por tonelada, a depender da estrutura e das condições da unidade.
Analistas apontam que a venda apressada se deu por necessidade de liquidez imediata para abater dívidas de curto prazo, especialmente as do ciclo 2024/25, estimadas em R$ 8,8 bilhões.
Receita cresce, mas custos explodem
Apesar do aumento de 14,3% nas receitas, os custos com produtos vendidos subiram 18,5%, comprometendo a rentabilidade da companhia. Em 2024, a Raízen vendeu R$ 18,8 bilhões, mas os custos consumiram R$ 18,2 bilhões, resultando em uma margem bruta quase nula e um fluxo de caixa operacional negativo de R$ 5 bilhões.
O EBITDA caiu 21% em relação ao trimestre anterior e 17% na comparação anual. A maior queda foi registrada no segmento de mobilidade, com retração de 35%, afetada pela concorrência e preços mais baixos de combustíveis alternativos.
Foco no core business e perspectiva futura
Entre os sinais positivos estão o crescimento no uso de etanol de segunda geração e o fortalecimento da atuação em biocombustíveis. A Raízen também aumentou sua rede de distribuição de combustíveis, atingindo mais de 7 mil postos no Brasil e 1.200 na Argentina e Paraguai, o que pode ajudar na retomada da rentabilidade.
Entretanto, o caminho é longo. A companhia ainda precisa lidar com um endividamento elevado, custos pressionados e necessidade de reconstruir a confiança dos investidores.
Comparação com concorrentes
O desempenho negativo da Raízen não é um caso isolado no setor. Desde o IPO da empresa, outras companhias do mesmo segmento também enfrentam desafios:
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Jalles Machado (JALL3): -53%
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São Martinho (SMTO3): -31%
Entre as três, a São Martinho se destaca por apresentar margens líquidas positivas, ROE atrativo de 16% e maior resiliência nos resultados.
Dividendos em queda e futuro incerto
Com os prejuízos acumulados e a prioridade no ajuste da estrutura de capital, os dividendos da Raízen tendem a cair drasticamente. Em 2023, o dividend yield chegou a 6,6%, mas a expectativa para os próximos trimestres é de redução significativa nos repasses.
A expectativa de analistas é que, com a consolidação das mudanças estratégicas e alívio do endividamento, a Raízen possa recuperar sua capacidade de geração de caixa nos próximos anos. No entanto, o cenário atual exige cautela por parte dos investidores.
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