Rodrigo e Iara
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
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Há cerca de sete anos, em 2018, Rodrigo Pereira, soteropolitano, se mudava do Brasil para o Uruguai. Ele, que desde criancinha assistia as luzes do Barradão iluminando o céu pela janela de onde morava e mesmo crescendo em uma família torcedora do Bahia sempre foi encantado pelo Vitória, precisou se despedir da casa, da família, dos amigos e do time para viver uma nova vida com sua esposa, Laressa Magalhães, de Feira de Santana, em um novo país.Lá, a saudade sempre apertou. O amor pelo Vitória nunca diminuiu, e a cada visita ao Brasil, era pelo menos uma ida ao Barradão. Em Salvador, pai, irmão e irmã de Rodrigo continuavam a tradição deixada por ele, visitando o Barradão mesmo sem a presença do grande torcedor e vivendo o primeiro Ba-Vi antes mesmo do próprio Rodrigo.
Rodrigo e os irmãos no Barradão
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
“É uma paixão que eu tento passar, foi uma forma que eu consegui de sempre me conectar com minha família. De juntar meus irmãos e meu pai e a gente ir pro Barradão juntos, que era uma coisa que eu não imaginava porque ninguém ia pro estádio em casa. Eu fui o primeiro, fugindo da escola para ir assistir jogo”, conta ele.Início da sorteMudança para o Uruguai, pandemia em 2020, Vitória na Série C quase caindo para a quarta divisão e a maldosa sensação de que o dia de ver o time que amava jogar uma competição internacional no Uruguai jamais chegaria.Rodrigo voltou ao Barradão, e viu o Vitória perder para o Botafogo de Ribeirão Preto na Série C por 1 a 0. Depois, na Série B, viu vencer o Sampaio Corrêa por 2 a 1, já na esperança de dias melhores. Então, a sorte da vida de Rodrigo (e do Vitória) chegou.Em 2023, Rodrigo e Laressa engravidaram da pequena Iara, que por muitas negociações da mãe não se chamou Vitória como o pai queria. Desde que chegou na barriga, no entanto, Iara já provou ser não só rubro-negra, como também muito sortuda.
Rodrigo e Laressa durante a gravidez
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Foi durante a gravidez que o Vitória subiu para a Série A, na campanha que ficou marcada na memória de todo torcedor do Leão da Barra. “Para mim foi tudo muito místico, eles ganharam por causa dela”, afirma Rodrigo. A existência de Iara já vinha trazendo sorte, e prometia trazer ainda mais.Nasce uma torcedoraIara nasceu no Uruguai em época de carnaval, e o Vitória começou sua campanha na Série A. Do parto, a pequena foi diretamente para uma roupinha de Leão, vendo o escudo rubro-negro desde a maternidade na camisa de Rodrigo.
Iara com o body de leãozinho
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Rodrigo e Iara na maternidade
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Em casa, começou a vestir roupinhas do Vitória, de longe as mais especiais para o pai. “No chá de fraldas dela, primeira filha, neta e sobrinha, ganhamos tudo de presente. Berço, carrinho, tudo. Mas o que mais me emocionou foi o body do Vitória, sem dúvida”, conta ele.
O body do Vitória no chá de fraldas
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
O amor é tanto que, quando cresceu, o body foi cortado para se tornar uma camiseta e continuar sendo usado pela pequena, que agora já sabia brincar e ganhou de presente um cercadinho. Nele, é claro, mais uma vez estava o Leão.
O body cortado como camisa
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
“O cercadinho que ela brinca tem gols dos dois lados, parece um campo de futebol, e é vermelho. Eu ensinei ela a chamar de Barradinho, é o Manoel Barradinhas. Em cima do cercadinho tem a bandeira do Vitória, e ela foi aprendendo a reconhecer o escudo”, conta.Hoje, quando vê o escudo rubro-negro, a pequena já balbucia “itóia”, que o pai conta ter sido uma das primeiras palavras de Iara, junto com “papai”, “mamãe” e “gatinho”.
Rodrigo e Iara no cercado Barradinhas
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Baianão para IaraO primeiro grande jogo de Iara com o Vitória foi a ida da final do Campeonato Baiano de 2024. Na sala, ela e Rodrigo assistiam o Bahia vencer por 2 a 0, na tristeza de perder o título com que o pai da pequena de apenas dois meses tanto sonhava.No intervalo do jogo, Iara dormiu, e deitou no colo do pai para descansar. Foi então que Matheus Gonçalves e Iuri Castilho apareceram com três gols para consagrar a virada e conquistar o placar que mais tarde se tornaria o título do Baianão.
Iara dormindo na final do Baianão
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
No sofá, Rodrigo comemorava em silêncio, com a filha nos braços, como já sabia fazer desde pequeno. No Vitória e ABC que testemunhou a virada com três gols de Neto Baiano, o pai de Rodrigo estava dormindo, e o treinando sem saber para o dia que seria o sono de Iara a preservar.“Eu já tinha experiência. Eu até achava cármico. Se eu gritar em algum dos gols, não vai ter mais gol. Então eu tenho que ficar calado. Só que eu não acreditava no que estava acontecendo, porque foram três gols, relâmpago, apoteótico. Aí eu falei, pronto, acabou. Ela é Vitória, não vai ter como”, conta Rodrigo.
Iara com o body do Vitória
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
“Na barriga, foi campeã da Série B. Primeiro título já quando nasceu, com dois meses, Campeonato Baiano. E eu sinto isso comigo também, porque eu nasci num dia de Ba-Vi, e um dia depois do aniversário do Vitória. Dia 14 de maio de 1995, foi um Ba-Vi e o Vitória ganhou de 4 a 1”, completa.
Rodrigo e Iara
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Destino, estreia e aniversárioO destino de datas, nascimentos e aniversários preparou uma nova surpresa para Rodrigo em 2025. O Vitória que desempenhou bem na Série A e finalmente chegou à competição internacional tão aguardada por ele caiu no mesmo grupo do Cerro Largo, time uruguaio que venceu o Vitória por 1 a 0 no primeiro confronto, marcando uma vitória inédita para o clube que nunca tinha vencido fora de casa.“Eu ficava aqui no Uruguai pensando, quando é que o Vitória vai jogar aqui? Ficava rezando, pedindo, oh Deus, manda um joguinho aqui, uma pré-Sula, uma pré qualquer coisa. Todos os meus amigos brasileiros aqui torcendo para Corinthians, Internacional, e tendo jogo quase todo ano, e eu nunca”, relembra.O destino decidiu mandar o jogo que Rodrigo tanto sonhou, mas de um jeito ainda mais especial. No dia do aniversário dele, 14 de maio, o Vitória jogou no Centenário, com a presença de Iara e da mãe em um estádio pela primeira vez na vida.
Rodrigo, Iara e Laressa no Centenário
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
O único problema para levar a pequena era o frio, já que o jogo era tarde da noite. Logo, os pais encontraram a solução, que fez com que a uruguaia viralizasse no Brasil e saísse até mesmo nas redes sociais do Vitória. Ao invés de ir vestida com as camisas do Vitória que tem, Iara foi agasalhada em uma fantasia de leão, chamando a atenção de todo o estádio.
Iara de leão no Centenário
| Foto: Divulgação I EC Vitória
Durante o jogo, ficou encantada: “Ela se divertiu um bocado, andou pra lá e pra cá. Amava quando a torcida cantava, gritava. Ela ficava quieta, só prestando atenção e batendo palma. Não dormiu, não fez birrinha de bebê, não chorou, nada. Ficou focada no jogo e na torcida cantando, apontando para as bandeiras e falando ‘itóia, itóia’”.
Rodrigo e Iara no Centenário
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
“Pra mim foi a melhor noite da minha vida. Meu aniversário de 30 anos não podia ser melhor nem se eu desenhasse, escrevesse. Um jogo do meu time, por um campeonato internacional, aqui onde eu moro, fora do Brasil, meu time ganhando fora de casa. Se eu fizesse um livro e escrevesse isso, seria muita ficção, muita mentira. Mas foi verdade”, comemora.Para fechar o dia de sonho de Rodrigo e Iara, uma última surpresa como presente de aniversário. Ao final do jogo, ele avistou o vice-presidente do clube, Djalma Nunes Abreu. Pegou a leoazinha no colo, empunhou a própria identidade e começou a gritar “é meu aniversário de 30 anos, eu posso provar, eu quero a camisa de Matheuzinho, número 30! Ela é uruguaia, é meu primeiro jogo com ela aqui!”.
Rodrigo e Iara de Vitória
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
Djalma ouviu, e entrou para buscar uma camisa para o torcedor. “Os caras do estádio estavam tirando todo mundo, tinha que sair, acabou o jogo. Eu comecei a desembolar meu espanhol com o cara. Por favor, deixa eu ficar, tenho que ficar aqui, foram buscar uma camisa pra mim, hoje é meu aniversário”, relata.No final, deu certo. A camisa oficial do clube foi para as mãos de Rodrigo, como um presente de aniversário do clube para ele. Agora, o plano é levar Iara para conhecer o Barradão em cores vivas na próxima vinda da família ao Brasil, em fevereiro, para o aniversário dela.
Rodrigo e Iara com a camisa
| Foto: Acervo Pessoal I Rodrigo Pereira
“O Vitória vir jogar aqui e no dia da partida ser o meu aniversário de 30 anos… foi para mim. Um amigo meu falou isso. Eles vieram me visitar. Não fui eu que fui ver o jogo, eles vieram me visitar”, se emociona.