Jedjane Mirtes
| Foto: Filipe Oliveira / Divulgação
Formada em dança e pós-graduada em arte-educação, Jedjane é fruto de projetos sociais que um dia animaram as ruas do bairro, como os ternos de reis Rosa Menina e o extinto Arco-Íris. Hoje, no Instituto JCPM, ela devolve esse legado, ensinando identidade artística a jovens de periferias como Saramandaia e Boca do Rio. Casada, mãe e professora, sua trajetória é um espelho do que Pernambués tem de melhor: a capacidade de criar, mesmo na adversidade, e de transformar arte em ferramenta de orgulho e transformação.A produtora cultural que tece histórias e esperança, Jaciara ArandibaCom 52 anos de raízes fincadas em Pernambués, Jaciara Arandiba é a síntese de uma vida dedicada a transformar realidades através da cultura e da solidariedade. Servidora pública aposentada da Secretaria da Fazenda da Bahia, onde atuou como agente fiscal, ela nunca se contentou com a inércia. “Pernambués é o melhor bairro para se morar em Salvador”, afirma, destacando a valorização imobiliária, a infraestrutura médica e a efervescência cultural que marcam o local.
Jaciara Arandiba
| Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE
Desde a infância, quando distribuía merenda escolar a amigos no Pelourinho e levava crianças carentes para compartilhar refeições em sua casa, Jaciara já semeava o que hoje colhe como produtora cultural. À frente da Associação BBG, comanda oficinas de percussão, canto coral e dança, além de desfiles carnavalescos que resgatam desde Michael Jackson até os Flintstones em criativas homenagens. Sua luta por editais públicos, como o Fuzuê e o Furdunço, revela a persistência de quem busca dar visibilidade a um bairro onde “a diversidade cultural é gigante, porém invisível”. Herdeira de um tempo em que se carregava água na lata na cabeça, ela transformou a nostalgia em ação, provando que, mesmo sem apoios robustos, a arte pode ser um “tonel” de resistência — e Pernambués, seu palco de orgulho.A voz que canta e acolhe, Margarida MeiraHá 34 anos entrelaçada às ruas de Pernambués, Margarida Meira é mais do que uma cantora de bares e eventos: é um símbolo de resistência e generosidade em um bairro que viu praças renascerem, igrejas se reformarem e projetos juvenis florescerem. “Faço o que posso”, resume, com simplicidade, a mulher que já foi faxineira, babá e cuidadora de idosos, mas encontrou nos palcos improvisados sua verdadeira vocação.
Margarida Meira
| Foto: Acervo Pessoal / Divulgação
Nascida e criada no bairro, mãe de quatro filhos e avó dedicada, Margarida transforma microfones em pontes solidárias: participa de festas beneficentes, abre as portas de casa para animais abandonados e usa a música como abraço coletivo. Sua trajetória multifacetada — entre canções, panos de chão e noites em claro cuidando de idosos — reflete a alma de Pernambués: um lugar onde a comunidade se sustenta não só pelo progresso, mas pelo gesto cotidiano de quem, como ela, “ajuda a achar lar” até para os que não têm voz. Respeitada e acolhida por todos, Margarida prova que, às vezes, a grandeza está nos acordes simples da vida.A ativista por inclusão e pluralidade, Tuka PerezA líder comunitária, ativista incansável e ex-assessora parlamentar (ela foi a 1ª transexual que se tornou assessora parlamentar, em Salvador), carrega nas palavras a força de quem conhece cada dobra e desafio de Pernambués. “É um bairro que convive com as diversidades. Cada um tem que fazer o seu e respeitar o outro”, afirma, destacando a coexistência harmoniosa entre terreiros, templos e culturas que tecem a identidade local. Nascida e criada no bairro, foi ali também que Tuka “saiu do armário”, assumindo-se como mulher transexual e transformando sua trajetória pessoal em bandeira política.
CADERNO BAIRROS
PERNAMBUES
Na foto: Tuka Perez, personagem do caderno sobre bairros / Pernambués.
Foto: Divulgação
| Foto: Divulgação
À frente de projetos voltados à comunidade LGBTQIAPN+, ela combate invisibilidades enquanto cobra serviços públicos essenciais: “Precisamos de mais oportunidades, principalmente emprego para essa juventude”, critica, apontando falhas no acesso a programas como o Bolsa Família. Sua militância, que vai das ruas aos gabinetes, mistura a urgência por equidade com a celebração da pluralidade — um reflexo de Pernambués, lugar que ela define como “pulsante”, mas ainda em busca de justiça social. Entre enfrentamentos e esperanças, Tuka prova que resistência, para ser efetiva, precisa ser tão diversa quanto o chão que a sustenta.A professora e moradora antiga, que testemunha a transformação do bairroHá 57 anos moldando sua vida entre as ruas de Pernambués, Luisa Maria dos Santos é um arquivo vivo das transformações que ergueram um bairro. Chegou em 1967, aos 11 anos, quando as vielas eram de barro e as crianças corriam sob sombras de árvores centenárias, longe do asfalto e do Restaurante Popular que hoje pontua a paisagem. “É um lugar maravilhoso e bastante populoso”, diz, com a autoridade de quem viu surgirem escolas, postos médicos e o vibrante Terno Rosa Menina — grupo de reizado do qual ainda participa, ligando o passado de batucadas carnavalescas ao presente de aulas de dança na Associação 10 de Julho.
Luisa Maria dos Santos
| Foto: Arquivo Pessoal
Professora aposentada, ela narra a metamorfose de Pernambués como uma epopéia coletiva: da água carregada em latas na cabeça às delicatessens com deliciosos quitutes; das missas dominicais à efervescência de comércios que hoje sustentam o bairro. Mesmo após perder os pais e ver a família reduzir-se a três, Luisa mantém o espírito comunitário que a fez, nos anos 1970, frequentar cursos na Paróquia São José Operário — semente de uma vida dedicada a aprender e ensinar. Sua história, entrelaçada à do bairro, é um testamento de resistência: onde antes havia barro, hoje há memórias pavimentadas de orgulho.