Cemig (CMIG4) promete dividendos de até 7% ao ano, mas exige cautela dos investidores

A Cemig (CMIG4), uma das maiores empresas elétricas do Brasil, ganhou destaque nos últimos meses após o pagamento de proventos extraordinários que impulsionaram seu dividend yield (DY) para níveis superiores a 17%. No entanto, especialistas alertam: esse desempenho não deve se repetir nos próximos anos.

Embora muitos investidores estejam empolgados com a perspectiva de altos dividendos, análises mais profundas mostram que os lucros inflados de 2024 foram causados por fatores não recorrentes, como a venda da participação na Aliança Energia por R$ 2,7 bilhões. Sem esses eventos, o lucro real da empresa está mais próximo de R$ 4 bilhões anuais.

Estrutura acionária sólida e ampla presença nacional

A Cemig possui uma estrutura acionária relevante: o Estado de Minas Gerais detém 50,97% das ações ordinárias e quase 17% do total, enquanto o investidor João Carlos de Figueiredo Ferraz Abdalla, via fundo Dinâmica Energia, controla cerca de 16% do capital total.

Além disso, a companhia possui aproximadamente 500 mil acionistas espalhados por 36 países, com 63% das ações em livre circulação. A presença da empresa se estende por 26 estados e o Distrito Federal, com atuação em distribuição, geração, transmissão e comercialização de energia, além do segmento de gás.

Proventos: recorrentes, mas com pagamento demorado

A Cemig se destaca pela regularidade na distribuição de proventos, com cinco anúncios anuais: março, abril, junho, setembro e dezembro. No entanto, a maior parte desses dividendos só é paga mais de um ano após a data de corte (data com). Por exemplo, dividendos anunciados em março e junho de 2025 só serão pagos em junho e dezembro de 2026.

Além disso, a empresa garante um dividendo mínimo anual de R$ 0,50 por ação preferencial (CMIG4), o que assegura algum retorno aos acionistas. Mas, para quem se baseia apenas nos últimos pagamentos, é preciso cautela.

Dividend yield: de quase 18% para cerca de 7% em 2025

Em 2024, o lucro da Cemig saltou para R$ 7,1 bilhões, inflado pelos créditos fiscais de PIS/Cofins e pela venda da Aliança Energia. Esse resultado permitiu o pagamento de dividendos extraordinários, criando a falsa impressão de que a empresa seguirá pagando rendimentos de 17% a 18% ao ano.

Porém, ao excluir os efeitos não recorrentes, a expectativa para 2025 é de lucro recorrente entre R$ 3,3 bilhões e R$ 4 bilhões. Com um payout mínimo de 50%, os proventos anuais devem girar em torno de R$ 0,73 por ação, resultando em um dividend yield estimado de 6,9% a preços atuais.

Esse cenário é compatível com a média histórica da empresa e do setor elétrico, mas bem distante do rendimento “turbinado” registrado em 2024.

Avaliação de preço: Cemig está realmente barata?

Muitos investidores acreditam que a Cemig está “de graça”, com um P/L (Preço/Lucro) em torno de 4 vezes. Entretanto, esse múltiplo está distorcido pelo lucro atípico de 2024. Considerando o lucro recorrente, o P/L ajustado sobe para cerca de 7,3 vezes — valor mais próximo da média histórica da companhia, de 7,5.

Ou seja, embora a Cemig esteja com valuation atraente, ela não está tão barata quanto parece à primeira vista. O investidor precisa levar em conta as perspectivas reais de lucro e distribuição de dividendos nos próximos anos.

Plano de investimentos robusto: R$ 40 bilhões até 2029

A Cemig projeta investimentos expressivos para os próximos anos, totalizando R$ 40 bilhões até 2029. A maior parte será direcionada para o segmento de distribuição (R$ 18,6 bilhões), mas também estão previstos aportes em geração distribuída (R$ 2,8 bilhões), transmissão (R$ 3,5 bilhões), gás (R$ 1,4 bilhão) e inovação (R$ 1,6 bilhão).

Esse volume de investimentos deve impulsionar a expansão da empresa, com ganhos futuros em receita e eficiência operacional, especialmente após as revisões tarifárias.

Endividamento controlado favorece crescimento sustentável

Apesar do plano agressivo de investimentos, a Cemig mantém uma alavancagem confortável, com dívida líquida equivalente a 1,41 vez o EBITDA. Esse patamar é significativamente inferior ao de outras elétricas brasileiras, que operam com alavancagem entre 3 a 3,5 vezes.

Esse equilíbrio financeiro permite que a Cemig continue investindo sem comprometer sua saúde financeira ou necessidade de reduzir a distribuição de dividendos.

Histórico de valorização superior ao Ibovespa

De 2009 até hoje, as ações ordinárias da Cemig acumularam valorização de 823%, enquanto as preferenciais subiram 532%. No mesmo período, o índice setorial de energia elétrica cresceu 218% e o Ibovespa apenas 75%.

Esses números mostram que a Cemig foi, historicamente, uma das melhores escolhas de investimento na Bolsa brasileira, especialmente para quem busca empresas resilientes e boas pagadoras de dividendos.

Vale a pena investir na Cemig (CMIG4 ou CMIG3)?

A Cemig segue como uma das principais elétricas do país, com forte presença nacional, estabilidade financeira e plano consistente de crescimento. No entanto, é essencial que o investidor esteja atento ao cenário atual:

  • O dividend yield de quase 18% observado em 2024 foi fruto de eventos extraordinários.

  • Para 2025, o rendimento deve ficar próximo a 7%, mais alinhado à média do setor.

  • A empresa investirá pesadamente nos próximos anos, o que deve reforçar sua competitividade e receita no médio e longo prazo.

Por outro lado, o investidor precisa considerar o tempo de pagamento dos proventos e o impacto futuro do aumento da dívida decorrente dos investimentos.

A Cemig é uma boa empresa para compor carteiras de longo prazo e focadas em dividendos, mas não representa uma “pechincha” como muitos acreditam. Cautela e análise criteriosa são fundamentais.

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