O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, vem sendo impulsionado por um fluxo robusto de capital estrangeiro, mesmo diante de um cenário internacional incerto. Especialistas apontam que, caso esse movimento se mantenha, o índice pode alcançar patamares entre 150 mil e 180 mil pontos nos próximos meses, segundo projeções divulgadas por importantes casas de análise.
Contudo, para que esse movimento de alta seja sustentável no longo prazo, é essencial que haja uma redução consistente da taxa Selic, atualmente elevada. O patamar elevado dos juros dificulta o fortalecimento do mercado de capitais, restringindo o acesso ao crédito e limitando investimentos produtivos no país.
Projeções otimistas para o Ibovespa
Em entrevistas recentes, analistas destacaram que o fluxo estrangeiro está sustentando a reprecificação de diversos ativos brasileiros, abrindo espaço para uma valorização significativa do Ibovespa. Projeções indicam possíveis níveis entre 180 mil e até 190 mil pontos, desde que as condições macroeconômicas permitam.
Entretanto, essa alta ainda é considerada pontual, fruto mais de uma reclassificação de posições no mercado global do que de uma mudança estrutural nos fundamentos da economia brasileira. Nas últimas duas décadas, os emergentes perderam protagonismo como destino preferencial de investimentos, frente à robustez da economia americana, impulsionada por ganhos em produtividade e tecnologia.
Selic elevada freia mercado de capitais
Apesar das perspectivas otimistas, a elevada taxa Selic segue como um dos principais entraves ao desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. “É difícil ver um mercado de capitais pujante com a carga tributária atual e com a taxa de juros nos níveis em que se encontra”, explicou um especialista.
Para que o Ibovespa avance de maneira consistente, seria necessário que a Selic caísse para patamares abaixo de dois dígitos. O elevado custo do crédito impacta diretamente empresas e consumidores, reduzindo a capacidade de investimento e consumo.
Além disso, medidas como o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) vêm agravando o cenário, tornando o crédito ainda mais caro, especialmente para o setor produtivo.
IOF pressiona ainda mais o setor produtivo
Recentemente, o governo elevou as alíquotas do IOF, o que, na visão dos analistas, sufoca ainda mais as empresas, reduzindo a oferta de bens e serviços. Esse movimento ocorre em um momento de estímulo à demanda agregada, intensificando o descompasso entre oferta e demanda e gerando pressões inflacionárias.
Embora parte do mercado tenha considerado que o aumento do IOF poderia colaborar para o controle da inflação e ajudar na condução da política monetária, especialistas ouvidos divergem: “O que vai ajudar a reduzir a Selic é a diminuição dos estímulos do governo e da demanda agregada, não a elevação do IOF”, destacaram.
Além disso, o uso do IOF como instrumento regulatório para fins arrecadatórios tem gerado incertezas no mercado e pressionado o câmbio, dificultando a competitividade das empresas brasileiras no cenário internacional.
Setor varejista é o mais afetado
Entre os setores mais impactados pelo aumento do IOF e pela manutenção da Selic em níveis elevados está o varejo. Empresas como Casas Bahia, Magazine Luiza e Vivara já enfrentam dificuldades para acessar o mercado de capitais, após episódios como o da Americanas, que evidenciaram o elevado nível de endividamento do setor.
Essas empresas passaram a recorrer mais intensamente ao crédito bancário, ficando ainda mais expostas às elevações do custo financeiro. Além disso, segmentos como o de locação de veículos, com empresas como Localiza e Movida, também são diretamente afetados, mesmo com estratégias de mitigação, como a criação de veículos financeiros alternativos (FIDCs).
Expectativas para a política monetária
A manutenção ou redução da Selic dependerá, segundo analistas, do comportamento da demanda agregada e da capacidade do governo em ajustar seus estímulos fiscais. Há expectativa no mercado de que a taxa básica de juros possa começar a cair no final deste ano, caso os fundamentos econômicos permitam.
Ainda assim, as incertezas geradas pela política fiscal e pelo uso de impostos como o IOF para aumentar a arrecadação seguem como fatores de risco para a economia e para o desempenho do Ibovespa.
Alta depende de ajuste macroeconômico
O Ibovespa tem potencial para avançar significativamente, com projeções que indicam até 190 mil pontos, impulsionado pelo fluxo estrangeiro e pela reclassificação de ativos. No entanto, para que esse movimento se consolide, será fundamental que a taxa Selic recue para níveis mais baixos e que o governo adote uma postura mais previsível na condução da política fiscal e tributária.
Sem esses ajustes, o mercado brasileiro pode seguir enfrentando limitações importantes, principalmente no setor produtivo, que já sente os efeitos da combinação de juros elevados e tributos como o IOF.
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