Mesmo com a taxa Selic nas alturas, fixada em 14,75% ao ano, a economia brasileira continua surpreendentemente resiliente. Dados recentes mostram atividade aquecida e mercado de trabalho firme, o que levou o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, a expressar preocupação: “Com um juro tão restritivo, por que ainda não houve desaceleração?”
A resposta está no conflito entre as engrenagens da política econômica: de um lado, o Banco Central tenta esfriar a economia para conter a inflação. Do outro, o governo federal segue injetando estímulos, aquecendo o consumo e atrasando o efeito dos juros na atividade real.
Selic alta, mas sem efeito imediato: o que está acontecendo?
A taxa básica de juros no Brasil permanece em patamar historicamente elevado. Segundo o Boletim Focus, a expectativa é que a Selic permaneça em 14,75% até o primeiro semestre de 2025, sem previsão de corte no curto prazo.
Contudo, a curva futura de juros, que representa as expectativas dos investidores, já começou a precificar possíveis reduções no fim de 2024 — o que contrasta com as projeções mais conservadoras dos economistas.
Esse descompasso revela um dilema: a política monetária não está surtindo o efeito esperado no ritmo da economia.
Estímulo fiscal trava ação do Banco Central
A raiz do problema está na combinação de duas forças opostas:
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Política monetária restritiva: Selic elevada encarece o crédito, desestimula investimentos e visa conter a inflação.
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Política fiscal expansionista: o governo amplia gastos, incentiva o consumo (com medidas como o novo crédito consignado) e aquece o mercado.
Esse descompasso dificulta o trabalho do Banco Central. “A política monetária funciona, mas precisa de tempo. E esse tempo aumenta quando há estímulo do outro lado”, explicou a analista Helena, ao comentar os efeitos dessa engrenagem travada.
O que sustenta o ritmo da economia?
Apesar dos juros altos, a economia brasileira segue aquecida. Alguns fatores ajudam a explicar esse fenômeno:
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Crédito consignado em alta: o novo modelo de empréstimo com desconto em folha ganhou força no segundo trimestre de 2025, liberando recursos para o consumo das famílias.
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Demanda interna firme: o estímulo fiscal mantém o consumo aquecido, sustentando a produção e a geração de empregos.
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Emprego resiliente: mesmo com juros altos, o mercado de trabalho ainda não sentiu o baque da desaceleração.
Quando a desaceleração deve chegar?
Segundo especialistas, os sinais de desaceleração devem aparecer apenas no segundo semestre de 2025. A expectativa é que, ao longo dos próximos trimestres, a combinação do aperto monetário e uma eventual redução dos estímulos fiscais leve à queda gradual na atividade econômica.
“Para a política monetária funcionar plenamente, o ideal seria retirar os estímulos fiscais. Mas isso não parece ser o cenário base de ninguém”, destaca Helena.
Inflação ainda preocupa
Apesar do crescimento econômico, o Banco Central continua de olho na inflação. As expectativas seguem desancoradas — ou seja, fora da meta oficial —, o que exige atenção redobrada da autoridade monetária.
“A inflação ainda está elevada e, para combatê-la, precisamos deixar a política monetária agir. Mas, enquanto o governo seguir estimulando, o efeito será mais lento”, conclui Galípolo.
O que esperar para os próximos meses?
Enquanto o embate entre política monetária e fiscal continuar, o Brasil deve conviver com:
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Juros altos por mais tempo
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Inflação sob pressão
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Crescimento acima do esperado no curto prazo
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Risco fiscal no radar dos investidores
O desafio agora é encontrar equilíbrio entre as ações do governo e o compromisso com a estabilidade macroeconômica. Até lá, o custo do crédito continuará elevado, e a desaceleração seguirá adiada.
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