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Filmografia de Rodrigo Aragão
| Foto: Divulgação
Natural do Espirito Santo, Aragão tornou-se um nome fundamental para o cinema de terror brasileiro contemporâneo, gênero que tem sido muito exercitado por aqui, em muitas vertentes distintas.A escolha de Aragão sempre foi pelo cinema de terror mais visceral, transformando o baixo orçamento e a estética amadora em uma virtude do seu cinema – ele se firmou no cenário brasileiro com a trilogia formada por Mangue Negro (2008), A Noite dos Chupacabras (2011) e Mar Negro (2013). Aos poucos, foi refinando seu cinema, mas sempre com um pé no trash.Por isso é curioso que ele tenha escolhido uma cidade do litoral capixaba para ser o cenário do seu novo filme. Guarapari é um conhecido destino turístico no Estado, repleto de viajantes no verão, mas que na baixa temporada fica um tanto deserta.É nesse cenário que a mãe de Luna (Lorena Corrêa) foi passar os festejos junto com um namorado tóxico. Ao ser agredida por ele, a mãe é acolhida pela zeladora, mas presencia uma morte traumática no lugar. A filha, preocupada com ela, parte então para Guarapari, junto com seu namorado, a fim de ajudar a genitora.Zelo de mãeMas eles não contavam não só com os mistérios malditos que rondam o lugar – com tantas aparições e espíritos maléficos que assustam os que se aventuram a entrar no prédio –, mas especialmente com a presença enigmática da tal zeladora.Em dado momento ela chega a dizer: “Eu sou praticamente a única alma viva durante todo o resto do ano”, ao se referir ao fato das pessoas deixarem o local assim que passa o Carnaval, justamente o período em que a trama se passa.Gilda Nomacce, grande atriz que é, preserva em sua atuação uma dubiedade muito atrativa. Ela é quem ajuda e acolhe a mãe agredida, mas é também quem encaminha os personagens para um fim tenebroso.É a típica figura de que é preciso duvidar, ainda mais quando a atriz carrega um olhar penetrante, no limite da sanidade.Além da trama envolvendo o socorro de Luna à sua mãe, existe um subtexto materno que também envolve a zeladora e sua própria filha, algo que vai ajudar a explicar os eventos que tomam conta daquele edifício maldito.Isso faz de Prédio Vazio também um estudo sobre a maternidade e de como isso alcança um tom de monstruosidade, a depender do nível de obsessão instintivo em cuidar de suas crias, remetendo a tantas figuras maternas sinistras que povoam o Cinema.Trash raiz
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Com esse conjunto todo, Aragão acaba investindo em um terror sobrenatural a partir da confluência de almas penadas que passam a participar da narrativa de modo cada vez mais crescente.Ele também faz uso de efeitos especiais – algo que já vinha experimentando em filmes anteriores como A Mata Negra (2018) e O Cemitério das Almas Perdidas (2020) –, mas sem grandes alardes, mantendo certa economia pelo próprio tom amador do filme.No entanto, como já era de se esperar, ele nunca abandonaria o tipo de terror raiz que fez sua fama. Os traços mais gore (representação gráfica de sangue, vísceras e violência), sanguinolentos e sujos, se fazem presente na trama, não deixando nenhum fã do gênero na mão.Aragão é quem assina o próprio trabalho de efeitos visuais e maquiagem, algo em que ele se especializou nos últimos anos. Apesar das intervenções digitais, os efeitos visuais práticos e a maquiagem realista são marcas indeléveis de seus filmes.Trata-se, portanto, de um cinema que investe de cabeça no horror mais visual e artesanal. Nem sempre isso se coaduna com a trama, que tem lá suas pontas soltas e alguma fragilidade narrativa. Mas Aragão segue acreditando em um cinema de raízes, pelo amor ao terror.
Prédio Vazio / Dir.: Rodrigo Aragão / Com Gilda Nomacce, Rejane Arruda, Lorena Corrêa, Caio Macedo, Telma Lopes, Walter Filho e Leonardo Magalhães / Salas e horários: cineinsite.atarde.com.br/