De graça! Festival de cinema celebra 20 anos com foco no humor feito por mulheres

A preservação e a memória do audiovisual brasileiro são o grande chamariz do CineOP, o mais longevo e importante festival sobre o tema em atividade no país. Realizado na histórica cidade mineira de Ouro Preto, o evento completa duas décadas de existência, olhando para o passado a fim de entender o presente e antever o futuro do cinema.O evento, que começou na noite desta terça-feira, 24, e segue até a próxima segunda-feira, 30, tendo como temática central “Preservação e Educação – a alma do cinema brasileiro”. Já a proposição histórica recai sobre o humor no cinema, marcadamente feito por mulheres à frente e atrás das câmeras.A grande homenageada este ano é a atriz, cantora e apresentadora Marisa Orth, muito associada pelo grande público à personagem Magda do sitcom global Sai de Baixo. Mas ela possui participações muito mais versáteis em longas como Doces Poderes, de Lúcia Murat, e nos curtas A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti, de Anna Muylaert, e A Má Criada, de Sung Sfai – os curtas compõem a sessão de abertura na noite de hoje.“Os grandes emblemas da comédia no cinema brasileiro foram predominantemente masculinos. A comédia com protagonismo feminino, como fenômeno cultural, é algo mais recente, do século XXI”, afirmou Cléber Eduardo, curador do CineOP que conversou exclusivamente com A TARDE sobre a escolha do tema.

Leia Também:

Nova febre na Netflix: esta é a série de apenas 8 episódios que todo mundo está maratonando

Esses filmes de terror psicológico mexem com a mente de verdade

O filme faroeste que afundou um estúdio e virou clássico anos depois

Humores múltiplosEduardo disse ainda que, junto com a curadora assistente Juliana Gusman, iniciou uma grande pesquisa para ver se era possível criar uma seleção de filmes e debates não apenas com destaque para as atrizes, mas também para diretoras encarregadas do gênero.O resultado é uma programação diversa que resgata não só clássicos do cinema brasileiro, como Os Homens que Eu Tive (1973), de Tereza Trautman, e Das Tripas Coração (1982), de Ana Carolina, como produções mais recentes, tais como Sinfonia da Necrópole (2014), de Juliana Rojas, e a produção baiana Na Rédea Curta (2022), de Glenda Nicácio e Ary Rosa. “A gente tem ampliado essa discussão abarcando alguns filmes que, em um primeiro momento, não necessariamente seriam vistos como comédia, mas existe um humor muito forte ali”, destacou o curador.É certo que a produção de comédia, especialmente como feita hoje em dia, se encaminhou para um viés mais popularesco que mira o grande público. Estes filmes também fazem parte do escopo da mostra – como é o caso de Linda de Morrer (2015), de Cris D’Amato, com Glória Pires.Mas, ao destacar o aspecto cômico das obras, Eduardo apontou para uma maneira mais abrangente de olhar para esses filmes: “A gente buscou montar uma modulação desse humor, desde o mais popular até o mais segmentado, um humor um pouco mais autoral, sem reportar excessivamente só para um lado”.Cinema com arquivosUma das novidades desta edição do evento é a criação de uma mostra competitiva composta de longas-metragens contemporâneos. Para se adequar ao recorte do CineOP, foram selecionados filmes que utilizam algum tipo de material de arquivo na sua composição narrativa.“Já havia no festival uma ‘Mostra Contemporânea’ composta de filmes que apresentam uma abordagem sobre o passado ou que tenha uma relação com a memória”, pontuou o curador. Surge daí a proposta de uma competitiva relacionada ao uso dos arquivos, já que eles se tornaram quase que onipresentes na produção contemporânea, sobretudo no documentário.“O arquivo virou, talvez, uma facilidade excessiva, o que incorre também em uma falta de rigor na sua utilização nos filmes. Então a gente propõe um posicionamento crítico em relação a essa facilidade atual”, complementou.Dois dos filmes da competitiva lançam luz sobre a obra de importantes cineastas brasileiros. Em Um Olhar Inquieto: O Cinema de Jorge Bodanzky, o próprio cineasta, juntamente com Liliane Maia, investigam o trabalho do diretor paulista; já em Os Ruminantes, de Tarsila Araújo e Marcelo Mello, é a vez do cineasta Luiz Sergio Person ganhar destaque.Completam a competitiva do CineOP os longas Paraíso, de Ana Rieper; Itatira, de André Luís Garcia; e Meu Pai e Eu, de Thiago Moulin.

As peripécias de Júnior e Mainha marcam a comédia baiana Na Rédea Curta

|  Foto: Divulgação

Demais destaquesOutros filmes e diversos debates compõem a programação do CineOP. O cineasta baiano Sérgio Machado apresenta no evento seu mais novo longa, 3 Obás de Xangô.A partir de uma intensa pesquisa de arquivo, o filme retrata a amizade de três nomes fundamentais das artes baianas e brasileiras e que ajudaram a construir uma imaginário sobre a baianidade mundo afora: Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé.Outro importante braço do evento é a apresentação de clássicos do cinema brasileiro em cópias restauradas. Este ano serão exibidos A Mulher de Todos (1969), de Rogério Sganzerla, protagonizado pela atriz baiana Helena Ignez; Alô! Alô! Carnaval! (1936), de Adhemar Gonzaga, obra seminal da chanchada, protagonizada por Carmen Miranda; e O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil (1971), de Antônio Calmon.Vale destacar também que o CineOP abriga o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, assim como o Encontro da Educação Rede Kino, além de diversos encontros e grupos de trabalho relacionados ao tripé História-Preservação-Educação.Toda a programação do evento é gratuita.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.