ENGIE Brasil (EGIE3) dispara 7% em dois dias: valuation ainda atrativo?

A ação da Engie Brasil Energia (EGIE3) registra valorização superior a 7% em apenas dois pregões consecutivos, atingindo a faixa de R$ 43 — patamar próximo ao preço justo calculado por analistas e modelos fundamentalistas. O movimento ocorre sem a divulgação de fato relevante imediato, gerando questionamentos entre investidores sobre o que impulsiona o papel.

O que está por trás da alta?

Apesar da ausência de catalisadores recentes, especula-se que a emissão de debêntures no valor de R$ 1,3 bilhão, anunciada em 18 de junho, tenha repercussão tardia no mercado. O objetivo da operação é alongar o perfil da dívida e reduzir o custo médio de capital, estratégia fundamental em um cenário de Selic elevada.

Além disso, o papel pode estar reagindo à reprecificação setorial, em linha com o desempenho positivo de outras empresas elétricas em 2025. A Copel (CPLE6) acumula alta de 43% no ano, a CPFL (CPFE3) sobe 32% e a própria EGIE3 chega a 25%, superando o Ibovespa no mesmo período (+14%).

Dividendos em queda e menor atratividade no curto prazo

Historicamente conhecida por boa remuneração aos acionistas, a Engie já distribuiu R$ 2,62 por ação em dividendos líquidos em 2024, resultando em dividend yield de 6,33% ao preço atual. No entanto, esse valor representa queda em relação ao ano anterior.

Nos últimos cinco trimestres, a companhia apresentou fluxo de caixa livre negativo, pressionado por altos investimentos e aumento na alavancagem. A dívida líquida consolidada já alcança 3,5x o Ebitda, um nível considerado elevado para o setor elétrico.

Em média, o dividend yield líquido da empresa nos últimos três a cinco anos tem se mantido entre 6,18% e 6,34% ao ano, o que reforça seu histórico de pagadora consistente. No entanto, com a ação negociada acima de R$ 43, a atratividade da Engie como geradora de renda perde força no curto prazo.

Valuation: preço justo e múltiplos de mercado

De acordo com o modelo de múltiplos e fluxo de caixa descontado da InvestingPro, o preço justo médio para EGIE3 está em R$ 42,66. Isso indica que a ação já atingiu seu valor teórico, após a recente valorização.

Outros indicadores de valuation mostram:

  • P/L ajustado (sem itens não recorrentes) entre 15x e 18x, acima da média histórica da empresa.

  • EV/Ebitda da Engie: cerca de 8x, acima do múltiplo de Cemig (CMIG4), mas abaixo de Copel e CPFL.

  • Earnings Yield (Lucro/Preço): 9,7%, ainda abaixo da taxa Selic.

Comparando com seus pares, a Engie está mais cara que Cemig (4,7x EV/Ebitda), porém com menor alavancagem que Auren (7x dívida líquida/Ebitda) e maior previsibilidade de resultados que Eletrobras.

Operacional sólido, mas com pressão financeira

A Engie Brasil mantém uma base sólida de ativos em geração hidrelétrica e renovável, e também tem presença relevante no setor de gás por meio da participação na TAG. O desinvestimento parcial nessa última ajudou a equilibrar o caixa, mas evidencia a necessidade de liquidez para lidar com vencimentos de dívidas.

O custo do capital elevado (com Selic em 13,75% ao ano) afeta diretamente o lucro e o fluxo de caixa da companhia. Os gastos financeiros vêm pressionando a linha de resultado e limitando o potencial de expansão dos lucros recorrentes.

Análise técnica e comportamento recente de EGIE3

Na análise gráfica, a ação ultrapassou resistências relevantes:

  • Resistência superada: R$ 41,90

  • Resistência atual: R$ 43,82

  • Próximo alvo especulativo: R$ 46,50 a R$ 49,28

Com o volume financeiro aumentando e os prêmios de opções subindo mais de 400%, o papel entrou no radar de estratégias com derivativos, especialmente venda coberta de calls com vencimento em agosto ou setembro.

A volatilidade recente favorece esse tipo de operação, mas o investidor deve estar atento à possibilidade de realização de lucros no curto prazo, caso o papel se afaste ainda mais de seu preço justo.

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