“Fomos enganadas”: baiana relata terror na mesma trilha em que Juliana Marins morreu

Após o triste desfecho da jornada de Juliana Marins, que foi encontrada morta nesta terça-feira, 24, após estar desaparecida desde o último sábado, 21, ao cair de uma trilha em um vulcão na Indonésia, a baiana Malu Reuter relatou como foi a sua experiência fazendo a mesma trilha. Por meio de um longo relato em suas redes sociais, ela descreveu os desafios de cruzar o passeio que, no início teria a proposta de ser uma “trilha leve”, mas se tornou uma situação que beirou o limite físico e emocional.O grupo da baiana era formado por três brasileiras e turistas estrangeiros, sendo acompanhados por um guia local até o acampamento base, onde deveria começar a escalada ao cume do vulcão. A primeira surpresa foi o caminho até o acampamento já ter sido mais exigente do que o esperado: após mais de uma hora e meia de subida inicial, ainda houve uma longa caminhada de cerca de seis horas.

Leia Também:

Veja como é fácil escorregar e cair no vulcão onde brasileira morreu

Corpo de brasileira será içado de vulcão na Indonésia ao amanhecer

Lula se manifesta sobre morte de brasileira em vulcão

Governo brasileiro se pronuncia após morte de turista em vulcão

Estrutura precária e falta de informaçõesAo chegarem ao local para pernoitar, Malu relata que o grupo encontrou mais situações adversas: o espaço para montar barracas era estreito, cercado por espinhos e em desnível. Com isso, ela continua dizendo que a desconfiança tomou conta, principalmente, por uma integrante que apresentou um quadro de crise de pânico após ver o local onde passariam a noite.Outro ponto que gerou uma tensão foi o guia ter sugerido que uma das garotas dividisse barraca com um completo estranho.“Ele queria que a gente dividisse uma barraca de uma pessoa com um cara que a gente nunca tinha visto na vida. Aí a gente se revoltou com o guia, que só sabia rir da nossa cara. E a gente querendo matar o guia, mas não podia fazer nada”, disse Malu.Apesar das dificuldades, tanto Malu, quanto uma de suas amigas, Ana Clara, decidiram continuar com o plano de escalar o vulcão na madrugada, sem descanso adequado e com equipamentos limitados, como lanternas que falharam no momento crucial. Elas começaram a subida em solo arenoso e instável, onde a cada passo a areia cedia até os joelhos.“Quando você pisa, quando você começa a escalada, o solo é um solo arenoso, você pisa, a areia entra até o joelho. Graças a Deus a gente conseguiu subir, fomos lá pro topo, chegamos, agradecemos a todos os deuses”, contou Malu.Somado a isso, em meio a subida, o guia parou alegando cansaço, ficando para trás, com as brasileiras seguindo o caminho.“O guia simplesmente disse: ‘podem ir na frente, vão acompanhando as luzinhas de outros grupos’. E aí subimos eu e a Ana Clara, seguindo as luzinhas dos outros grupos, e a gente praticamente no escuro, pedindo à Deus a paz”, disse Malu.Muitos perigos e falta de suporteDepois de chegarem ao topo, a volta foi tão desesperadora quanto a ida, já que, segundo o relato, o retorno foi feito escorregando e caindo várias vezes, por conta do cansaço e do terreno instável.“Nunca imaginei que alguém ia me vender um passeio no qual eu teria risco de acidentes graves e até de morte, como se fosse um passeio de domingo. Uma trilha que idosos e crianças pudessem fazer, como foi vendido pra gente”, relatou Malu.Caso Juliana Marins e reflexãoFinalizando seu relato, Malu fez uma reflexão sobre a morte de Juliana Marins, que aconteceu na mesma trilha. De acordo com a baiana, a tragédia pode ter sido consequência do mesmo cenário de desinformação e descaso.Para Malu, a situação de Juliana, assim como a de seu grupo, aconteceu, provavelmente, pois ela teria sido “enganada” por conta de uma venda de uma trilha tranquila, quando na verdade, seria muito desafiadora.“Acho que o que aconteceu com Juliana foi o que aconteceu com a gente. Eu acho que ela foi enganada. E também acho que, a partir do momento que ela esteve lá, ela não teve a oportunidade de retroagir, infelizmente”, disse Malu.Malu criticou a falta de regulamentação e segurança oferecida a turistas na Indonésia, ressaltando que, diferente de outros destinos de aventura, não foi exigida a assinatura de termos de responsabilidade ou fornecido treinamento básico. Ela reforçou o alerta para que viajantes redobrem a atenção ao contratar esse tipo de atividade em países onde o turismo de risco não é adequadamente fiscalizado.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.