Bernardo e Elivelton oficializarm a união em 12 de julho de 2024, um mês após o nascimento do filho
| Foto: Reprodução Arquivo Pessoal
A família recém-formada ganhou ainda mais sentido e brilho, com a chegada do pequeno Dayó. O menino, planejado e amado desde a concepção, nasceu na Maternidade Climério de Oliveira, no dia 21 de junho de 2024, a tempo de testemunhar a oficialização do amor dos pais.O casamento de Bernardo e Elivelton aconteceu no dia 12 de julho, do ano passado, durante uma cerimônia civil comunitária na sede administrativa do Ministério Público do Estado (MP-BA), no Centro Administrativo da Bahia. Elivelton contou que ser pais era um desejo dos dois e que, antes do casamento, decidiram que Bernardo pararia com o uso da testosterona – hormônio masculino usado por homens trans na terapia hormonal. A intenção era engravidar após o enlace matrimonial. Mas, Dayó resolveu fazer uma linda e grata surpresa.
Elivelton com Dayó nos braços e Bernardo
| Foto: Reprodução Ladeira
“Foi rápido. Achávamos que iríamos ser pais esse ano, meados desse ano [2025]. A gente conseguiu engravidar muito rápido”, explicou o copeiro, revelando que, geralmente, a gravidez acontece, em média, um ano após a suspensão do hormônio.Companheirismo e cumplicidade”Minha relação com o Bernardo sempre foi de muito companheirismo, de muita cumplicidade, de muito apoio. E, nesse momento, hoje, a nossa relação está sendo complementada com o Dayó, com os desafios da paternidade, que são muitos, mas com muita felicidade e muito amor também. Acredito que é a concretização de muitas coisas que nós idealizamos durante esses anos”, disse o pai.Assim como o marido, Bernardo é pai de primeira viagem, mas foi quem gestou Dayó. Ele confessou que, embora tivesse o desejo de ter uma família, engravidar não estava nos planos. A decisão de gerar um bebê só veio com um tempo, após a construção de um relacionamento alicerçado no amor, no respeito e na confiança.
Bernardo e Dayó
| Foto: Reprodução Ladeira
“No início, eu sempre falei para ele que eu queria casar, que eu queria ter uma família e tudo. Só que eu não tinha a vontade de gerar. Eu tinha medo. Na verdade, porque eu não sabia como seria, não sabia quais desafios eu ia encontrar no meu corpo, o que ia acontecer. Depois de um tempo, vi que ele era uma pessoa que colava comigo pra tudo e que a gente poderia passar por isso, por esse processo. Foi aí que eu falei para ele que se quisesse um filho comigo, que eu poderia gerar”, disse Bernardo, afirmando que ter gestado Dayó foi a melhor decisão já tomou na vida.
Elivelton e Bernardo | Foto: Reprodução Ladeira
Dayó nasceu a tempo de testemunhar a oficialização do amor dos pais | Foto: Reprodução Arquivo Pessoal
Casamento foi na sede administrativa do Ministério Público | Foto: Reprodução Arquivo Pessoal
Bernardo e Elivelton oficializarm a união em 12 de julho de 2024, um mês após o nascimento do filho | Foto: Reprodução Arquivo Pessoal
Elivelton, Bernardo e Dayó | Foto: Reprodução Ladeira
Elivelton, Bernardo e Dayó | Foto: Reprodução Ladeira
Elivelton com Dayó nos braços e Bernardo | Foto: Reprodução Ladeira
Bernardo e Dayó | Foto: Reprodução Ladeira
Acompanhamento de pessoas transApesar de Bernardo ter suspendido a testosterona para engravidar, Ailton Santos, coordenado do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CEDAP), afirmou que não é necessário interromper a terapia hormonal com este propósito.”A maioria dos meninos trans, não tem esse conhecimento mais aprofundado de que o uso da testosterona não impede a gravidez. Porque a testosterona suspende a menstruação e, com isso, no imaginário deles: ‘se não estou menstruando, não posso engravidar’. Porém, o ciclo de fertilização continua de forma interna. Eles vão fertilizando e eles têm condições, sim, de engravidar se tiver sexo desprotegido com alguém com pênis”, explicou o coordenador.”O que acontece ainda no Brasil é que a gente tem trabalhado muito conhecimento sobre isso, sobre os efeitos do uso da testosterona durante a gestação. Há uma preocupação com indução a boto, com má formação do feto, com algum tipo de doença que pode ocorrer. Então, a orientação é que sim, durante o parto, não tenha ainda a hormonização com a testosterona, que é o que aconteceu com ele.”Ainda segundo Ailton, o Cedap tem o papel de acolher pessoas trans que querem ou já estejam gestando, desde o início até o parto.”Nós fazemos esse encaminhamento, esse preparo, essa orientação, esse cadastro, para que essas pessoas possam ter um lugar com ambiência segura, transinclusiva, um parto humanizado, cuidadoso, que respeite as necessidades de saúde, mas também as especificidades de pessoas transgestantes, que não se considerem identidade de gênero com a qual o sujeito se identifica”, declarou.É o próprio centro quem encaminha essas pessoas para serem acompanhadas na Maternidade Climério de Oliveira – unidade referência, em Salvador e na Bahia, no atendimento a pessoas transgestantes, através do programa “Transgesta”, iniciado em 2021.
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“Acompanhamos esses processos. A gente consegue, porque não são 30 partos semanais, mas já está no 13º ou 14º parto ao longo de 2018 para cá. Então, está acontecendo muito, porque é muito raro ter tanta gente trans tendo bebê na maternidade. Climério de Oliveira é a primeira maternidade com a maior quantidade de pessoas trans fazendo parto, fazendo pré-natal. E a gente consegue acompanhar cada experiência”, concluiu Ailton Santos.ServiçoAmbulatório trans/ CEDAP: Rua Comendador José Alves Ferreira, 240 – GarciaContato: (71) 3116-8888Funcionamento: Segunda a sexta-feiraMaternidade Climério de Oliveira: Rua do Limoeiro, 137 – NazaréContato: (71) 3283-9200Funcionamento: 24 horas