
Equipamentos foram instalados em Aracruz e Itaúnas, no Norte do estado, vão operar por dois anos e ajudar a mapear riscos sísmicos no litoral brasileiro. Professora da Ufes explica como funciona um sismógrafo, para monitorar terremotos
Duas estações sismográficas temporárias foram instaladas no Norte capixaba, no final do mês de junho. Os equipamentos vão operar por dois anos e ajudar a mapear riscos sísmicos. O Espírito Santo já registrou 45 tremores desde o século XVIII.
Com esse histórico de terremotos – ainda que não tão intensos ou frequentes -, o estado entrou no radar de pesquisadores que buscam entender melhor a atividade tectônica na costa sudeste do Brasil.
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O objetivo é coletar dados sísmicos em tempo real para auxiliar pesquisas em neotectônica, avaliação de riscos geológicos e ações de prevenção a desastres naturais.
Os equipamentos não funcionam para prever um evento eminente, mas auxiliam no entendimento do fenômeno e dos ciclos de um terremoto.
Chamados de ARA01 e ITA01, os sismógrafos estão localizados, respectivamente, na Base Oceanográfica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Aracruz; e no Parque Estadual de Itaúnas, área monitorada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), em Itaúnas, Conceição da Barra.
Espírito Santo recebe estações sismográficas para reforçar rede nacional de monitoramento de terremotos.
Reprodução
A iniciativa faz parte de um projeto da Rede Sismográfica Brasileira para o Mar (RSBR-Mar), coordenado pelo Observatório Nacional, com apoio da UFES.
Os sismógrafos foram adquiridos por projetos de pesquisa, financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Além dos equipamentos temporários instalados em junho, o Espírito Santo possui duas estações sismográficas permanentes, uma em Rio Bananal e uma em Alfredo Chaves, que pertencem ao governo, instaladas pelo Observatório Nacional (ON).
Por que Aracruz e Itaúnas foram escolhidas?
A equipe capixaba é coordenada pela professora Luiza Bricalli, do Departamento de Geografia da UFES, responsável pelo Laboratório de Neotectônica e Sismologia (Lanesi). O projeto também conta com pesquisadores do Observatório Nacional, do Rio de Janeiro.
Segundo os pesquisadores, os locais foram selecionados por serem áreas estratégicas, além de estarem próximas ao mar, onde há maior ocorrência de abalos, e não existirem anteriormente estações sismográficas nessas regiões.
Os dois pontos oferecem proteção adequada para os equipamentos, que ficam na superfície, em abrigos técnicos com controle de temperatura, energia e internet, e acesso facilitado às equipes técnicas.
A expectativa é que os dados coletados fortaleçam a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) e aprimorem o monitoramento sísmico especialmente na margem sudeste do Brasil, região conhecida como Amazônia Azul, onde está concentrada a maior parte da atividade sísmica da costa brasileira.
Es recebe estações sismográficas para reforçar monitoramento de terremotos. Na foto, professora faz o nivelamento durante a instalação do equipamento.
Arquivo pessoal
Os dados registrados pelos sismógrafos serão armazenados em cartões de memória acoplados aos equipamentos. A coleta e análise vão ocorrer a cada dois ou três meses e mostrar o histórico registrado.
“Não existe prevenção de terremotos, infelizmente. [O projeto] é para monitorar a atividade sísmica no Espírito Santo, contribuindo para pesquisas em neotectônica, avaliação de riscos geológicos e colapso de terreno, como por exemplo extração de recursos naturais”, explicou Bricalli.
Além das duas estações temporárias já em funcionamento no Espírito Santo, o projeto prevê a instalação de mais quatro unidades, sendo duas no estado do Rio de Janeiro e duas em São Paulo.
“Democratizar o conhecimento sobre esses fenômenos é essencial para proteger a população e planejar o uso responsável do território. […] Os dados das estações vão contribuir para a elaboração de políticas públicas mais eficazes e planejamento sustentável”, avaliou a professora.
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Espírito Santo já registrou 45 terremotos
No Espírito Santo, o monitoramento de terremotos começou a se tornar mais eficiente a partir da década de 2000, com a expansão da RSBR e a instalação de estações locais. No entanto, registros históricos de abalos sísmicos existem desde o século XVIII. No total, são 45 eventos terremotos listados no estado, no período.
O primeiro ocorreu em 1767, em Vitória, com magnitude de 3.5 mR, relatado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
O mais intenso foi em 1955, com magnitude de 6.3 mR e epicentro a 300 km da costa capixaba, considerado o quarto maior terremoto da história do Brasil. Embora não tenha causado mortes, o tremor provocou rachaduras em paredes, queda de telhados e pânico entre a população, segundo relatado nos arquivos de pesquisa.
Mais recentemente, no ano 2020, um abalo de 1.9 mR foi registrado no bairro Fradinhos, na capital. A população da Grande Vitória relatou ter sentido o abalo.
Tremor de terra foi registrado em Lajinha, em Pancas, no ES
Reprodução/ TV Gazeta
Já em 2021, a região de Pancas, no Noroeste do estado, também registrou três tremores de baixa magnitude, que chegaram a ser sentidos pela população da localidade de Lajinha.
“Foram abalos de 1.3 mR, 1.7 mR e 1.4 mR. Apesar da intensidade relativamente baixa, os tremores foram sentidos, especialmente na localidade de Lajinha. Em uma residência e em um supermercado, as estantes chegaram a se mover, derrubando mercadorias”, lembrou a professora.
Atualmente, a escala que mede a magnitude de um terremoto é a Magnitude de Momento Sísmico (Mw ou mR), que substituiu a antiga Escala Richter.
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