Legado de Raul Seixas conquista gerações e mantém sua música viva

Mais do que um ícone do rock brasileiro – e baiano! –, Raul Seixas é um verdadeiro símbolo cultural celebrado com uma devoção que atravessa gerações. Ainda hoje o Maluco Beleza é redescoberto por crianças e jovens por todo o país: com 17 álbuns de estúdio, mais de 300 músicas e 26 anos de carreira bem vividos até seu falecimento em 1989, Raul Seixas possui mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify.

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A metamorfose é ambulante, as gerações mudam, o modo de ouvir rock’n’roll muda, mas a identificação quase imediata com as músicas de Raul permanece a mesma.Para a estudante Roberta Gabrielle dos Santos Pinto, de 18 anos, o que mais atrai os jovens para as músicas de Raul Seixas são as lições que ele tem a contar. “Raul era um cara muito inteligente, muito vivido. Então ele tem muita história pra contar e cada música é uma lição diferente. Você reflete ouvindo, não é qualquer som aleatório. São letras muito específicas. Acho que hoje em dia mais jovens deviam ouvir Raul, sabe? Para mim, a indústria musical está poluída demais com músicas sem letras e não dizem realmente nada”, reflete.Filha de um raulseixista – fã que segue a filosofia de vida adotada por Raul Seixas –, Roberta conta que não existe isso de ‘quando você começou a gostar de Raul?’, pois o músico, suas obras e feitos sempre estiveram presentes em sua casa. “Desde que me entendo por gente sei das histórias de Raul, conheço as músicas dele e, desde que me lembro, chamo meu pai de Maluco Beleza. Raul sempre esteve na minha rotina e na minha história, faz parte da vida do meu pai, da minha vida e acho que da vida da família inteira”, afirma ela, risonha.Seu pai, o chef de cozinha Sérgio Pinto, é proprietário do Boteco Panela de Barro (@b.paneladebarrooficial) – que possui a decoração baseada em Raul Seixas.Sérgio conheceu a obra de Raul aos 16 anos, quando ainda era do movimento punk de Salvador. “Aquele cara meio rebelde e revoltado, mas sempre procurando galgar algum lugar na sociedade, sabe? Não é exagero dizer que as músicas e a filosofia de vida de Raul me ajudaram a mudar de vida. Quando ouvi Raul pela primeira vez percebi o quanto ele era inteligente e minha empatia por ele surgiu daí, porque se você ficar perto dos bons, você fica bom. Ele sempre foi um cara fora da curva e isso fez da obra dele atemporal, por isso alcança as novas gerações. Ouçam Raul!”, aconselha Sérgio.

A paixão do chef Sérgio Pinto por Raul agora também é da sua filha Roberta Gabrielle

|  Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Sérgio acha difícil escolher uma música preferida. Já com Roberta, que tem Raul Seixas entre os artistas mais escutados em seu Spotify, não há hesitação quanto a sua: Medo da Chuva – ‘Eu perdi o meu medo, o meu medo da chuva, pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar. Aprendi o segredo, o segredo da vida, vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar’ – diz a letra. “Gosto dela pela história que carrega. Para mim ela fala muito sobre não perder tempo por causa do medo, sabe? Sobre dar a cara a tapa, fazer o que precisa e dane-se o resto. É uma ideia que gosto de carregar comigo”, afirma.Medo da ChuvaA música Medo da Chuva faz parte do álbum Gita (1979), que rendeu um Disco de Ouro para Raul, e é também o álbum que nos apresentou a faixa Sociedade Alternativa, uma das favoritas de Raul Lomba de Jesus, de 7 anos. “A escolha do nome dele foi um ponto bem pacificado em casa. Minha esposa, Camila, se tornou raulseixista com os anos de convívio. Nos conhecemos na infância, e antes de pensarmos em namorar ou casar, já cantávamos Raul no karaokê em sua casa. Nossos filhos, Raul e Malu, de 11 anos, escutam Raul Seixas desde a barriga”, conta o engenheiro químico e professor Luis Filipe Freitas de Jesus.Toda a família costuma ir aos tributos e homenagens a Raul Seixas que acontecem por Salvador, onde vários músicos e artistas mantêm viva a obra de Raul. “São shows, passeatas, feiras literárias e peças teatrais, por exemplo. E o público é o mais heterogêneo e diverso possível. A verdade é que Raul desenvolveu um lado místico que desperta curiosidade nas pessoas e segue vivo na sua obra. Ele musicou o cotidiano e sua própria vida, sempre com muito humor, deboche, rebeldia e atitude. Sua obra alcança todas as idades e classes sociais. É um verdadeiro encontro de tribos”, afirma o engenheiro.

Família de Luis Filipe curte Raul e vai aos tributos

|  Foto: José Simões Tognasca / AG. A TARDE

Raulzinho cantarola Raul Seixas no banho e quando brinca – e sabe tocar Cowboy Fora da Lei no piano. Pela casa é possível encontrar quadros, livros, documentários, CDs e camisas, e o Maluco Beleza ainda ‘persegue’ a família pelas estações de rádio, restaurantes e… No parto do jovem Raulzinho. “Em 28 de junho, data de nascimento de Raul Seixas, mas em 2018, estava com um amigo em um show tributo e Raulzinho resolveu antecipar sua chegada em uma semana. Saímos às pressas para o hospital e Raulzinho nasceu na manhã seguinte e, coincidência ou não, o anestesista que acompanhou o parto é filho de um dos músicos da banda Raulzito e Os Panteras”, recorda Luis Felipe.O amigo que acompanhava Luis Felipe se tornou padrinho de Raulzinho. O cantor no palco durante o tributo? Rafa Luz, raulseixista que movimenta Salvador com o Trio das 7 e eventos como a Raulzada. O músico conheceu o Maluco Beleza aos 12 anos e ficou fascinado pelos clipes psicodélicos, letras sobre disco voador e toda a estética do próprio Raul. Ele e um amigo concordaram: esse cara é muito legal. “Naquela época não existia internet, então a gente tinha que correr atrás dos discos, alugava CDs e buscava conhecer mais da história dele”, conta.Rafa Luz explica ainda que a mãe teve uma grande influência em seu interesse por Raul Seixas, pois ela tinha um dos CDs de Raul. “Ouvi tanto que o disco acabou furando e não funcionava mais, isso me fez começar uma busca maior pelas obras dele e fez com que eu me tornasse um de seus maiores fãs. Por isso é muito emocionante para mim participar de tantas homenagens nesses 80 anos dele. Além disso, fazer tantos shows totalmente voltados à obra de Raul me fez perceber uma renovação significativa do público”, afirma.Para o contador e raulseixista Robenilson Matos – conhecido como Robson Seixas –, que teve seu primeiro contato com Raul Seixas aos 13 anos, quando Metamorfose Ambulante logo lhe chamou a atenção, o que faz Raul continuar conquistando milhares de fãs ainda hoje é a forma simples como ele escreveu suas letras, que as tornam fáceis de compreender. “Essa forma direta de falar com o outro, sabe? O uso constante da palavra ‘eu’, o que chama para si a responsabilidade do que canta. Isso projeta para nosso mundo nossas dores e vitórias. As novas gerações são fisgadas pela qualidade poética das letras, com melodias que misturam rock, baião, bolero e clássicos que agradam todos os ouvidos”, explica.

O contador raulseixista Robenilson Matos segue a filosofia

|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Robson participa de vários encontros e eventos em bares e espaços culturais pela cidade, assim como visita o túmulo de Raul Seixas no cemitério Jardim da Saudade em três datas específicas: 28/06 (aniversário), 21/08 (morte) e 02/11 (Dia de Finados). E claro, possui uma grande coleção de itens relacionados ao músico.”Posso destacar um livro em especial, O Baú do Raul, que achei em um sebo no Centro e que reúne poemas, contos e escritos do Raul que trazem um outro lado dele, entende? Principalmente o homem, e pai dedicado e amoroso que era para suas filhas, o que é uma inspiração para mim”, afirma ele.

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