
Jovem baleado lembra da abordagem policial em Jaboatão dos Guararapes
Um dos jovens baleados durante a perseguição policial a um carro que furou uma blitz recebeu alta do hospital na quinta-feira (17). Lucas Ricardo da Silva, de 25 anos, estava internado desde o dia 11 de julho após ser atingido na bunda (veja vídeo acima). Outro ocupante do veículo no momento do tiroteio, Lucas Brendo da Silva, de 29 anos, morreu após ser atingido no pescoço (saiba mais abaixo).
Os jovens foram baleados quando o carro em que estavam furou uma blitz do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar (PM) em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. O motorista, que preferiu não ser identificado, disse que fugiu da fiscalização por estar com o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) do veículo atrasado.
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Enquanto estava internado no Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, na área central da cidade, o técnico de celular Lucas Ricardo passou por uma cirurgia no abdômen e agora depende de uma cadeira de rodas para se locomover. Em entrevista à TV Globo, ele disse que, no dia em que foi baleado, estava voltando com amigos de um jogo de futebol na Zona Sul do Recife.
“A gente estava vindo de Boa Viagem de uma pelada que a gente faz toda sexta-feira. Era por volta de umas 22h, 22h30, e, a princípio, eu não me dei conta da blitz. Eu pensei que era brincadeira, mas quando eu vi a sirene, um barulho muito ensurdecedor, eu vi que a coisa era séria. Então, eu pedi para parar o carro, que dava tempo da gente conversar”, disse Lucas Ricardo.
Ainda segundo o jovem, o motorista do carro estava muito assustado com a abordagem dos policiais e não quis parar o veículo. “Ele não quis parar, ele estava com muito medo, e os policiais atiraram muito”, afirmou.
O carro acabou subindo na calçada. “Foi nessa que o BPTran [Batalhão de Polícia de Trânsito] cercou a gente, escutei mais disparos e pedi ajuda. Eles vieram: ‘Cadê arma?’. ‘Senhor, eu não sei de arma nenhuma, a gente estava jogando bola. Pode ver que tem bola, garrafão, tudo dentro de carro’. Eu desconheço qualquer tipo de arma, até porque eu nunca encostei em uma arma, nunca fiz isso em minha vida”‘, contou Lucas Ricardo.
Lucas Ricardo foi baleado quando carro onde estava furou blitz
Reprodução/TV Globo
O jovem preferiu não ter o rosto filmado durante a entrevista e declarou que está muito abalado com o acidente: “Não quero entrar em redes sociais, não quero absorver nada disso para mim”. Questionado sobre a possibilidade de voltar a andar, Lucas respondeu que ainda precisa fazer fisioterapia e, talvez, uma nova cirurgia.
“O risco era maior se eu fizesse uma cirurgia naquele momento, porque eu já tinha feito uma na barriga. Se eu fizesse outra, o risco era de não movimentar as pernas. Então eles [médicos do HR] optaram por fazer 20 sessões de fisioterapia. Caso não voltasse [a andar], eu teria que voltar lá [hospital] para tomar uma medida maior”, disse.
O jovem contou, ainda, que o tiro chegou a atingir a coluna vertebral, mas os danos não foram maiores porque a bala ficou alojada na gordura do fígado.
O pai de Lucas Ricardo, Marivaldo Severino Ricardo, lamentou o que aconteceu com o filho. “Era um menino cheio de saúde, cheio de vida, com projetos pela frente, e hoje se encontra numa situação dessa […] Espero que seja feita a justiça”, afirmou.
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Entenda o caso
Havia quatro homens dentro do carro que furou a blitz e foi perseguido pela PM. Um vídeo gravado por passageiros de um ônibus, que passou ao lado do veículo na hora da perseguição, mostra o momento em que policiais militares renderam dois homens que estavam no carro.
A filmagem mostra o veículo prateado cercado pelos agentes de segurança. Dois homens aparecem rendidos no chão, enquanto os policiais cercam o veículo. Além disso, passageiros do ônibus aparecem agachados entre os bancos, tentando se proteger dos disparos.
O técnico em informática Lucas Brendo da Silva, de 29 anos, levou um tiro no pescoço e morreu na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Imbiribeira, na Zona Sul.
O g1 teve acesso ao Boletim de Ocorrência (BO) registrado no dia 12 de julho. O documento cita crimes como porte ilegal de arma, desobediência, resistência, direção perigosa, dano, depredação e morte por intervenção de agente do estado.
Ainda de acordo com o boletim de ocorrência desse caso:
os ocupantes do carro atiraram contra os policiais, que revidaram;
o carro bateu em outro veículo estacionado;
os dois ocupantes da frente do carro saíram e o motorista entrou em luta corporal com os policiais;
depois que todos foram contidos, os PMs perceberam que os dois passageiros do banco de trás estavam feridos;
duas armas foram encontradas no carro.
Denúncia de violência policial
Na quinta-feira (17), além de Lucas Ricardo receber alta hospitalar, o advogado Ernesto Felipe registrou uma queixa contra os policiais envolvidos na abordagem. Ele representa a família do jovem morto, pois os parentes afirmam que os rapazes foram vítimas de violência policial.
De acordo com o advogado, os principais questionamentos da família são a forma como a operação aconteceu e por que as armas que teriam sido encontradas no carro não foram apresentadas. Ele também chamou atenção para o fato de que nenhum dos jovens foi autuado por porte ilegal de arma nem por tentativa de homicídio.
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