Por mais de uma década, o lítio reinou soberano nas baterias que impulsionam a mobilidade elétrica. Leve, potente e compacto, tornou viáveis os primeiros carros elétricos de sucesso comercial. Mas a dependência de poucos fornecedores, preços elevados e impactos ambientais questionáveis abriram espaço para um desafiante: a bateria de sódio.
Empresas chinesas, europeias e até brasileiras já enxergam nessa tecnologia uma alternativa viável — e mais democrática — para popularizar os elétricos fora dos bairros nobres e reduzir a dependência de minerais raros.
Por que o sódio pode destronar o lítio?
O sódio, sexto elemento mais abundante da crosta terrestre, é barato, amplamente disponível e fácil de extrair, diferente do lítio, cujo fornecimento é dominado por poucos países como China, Chile e Congo.
Nos últimos anos, avanços tecnológicos tiraram o sódio do papel de “patinho feio” para colocá-lo no centro do desenvolvimento automotivo.
A chinesa Haina Battery lançou baterias de íons de sódio que prometem carga completa em 25 minutos, com preço até 40% menor do que as de lítio, maior estabilidade térmica e vida útil superior a 8.000 ciclos — tudo isso sem uso de metais raros.
Outras gigantes como CATL, maior fabricante de baterias do mundo, anunciaram modelos com autonomia de até 400 km baseados nessa tecnologia. Até a sueca Northvolt, parceira da Volkswagen e BMW, já apresentou baterias de sódio com densidade de 160 Wh/kg e foco em segurança.
Carros reais já usam baterias de sódio
O Dieway 3, fabricado por uma joint venture entre a chinesa JAC e a Volkswagen, já roda com uma bateria de sódio de 23 kWh. Ele entrega cerca de 230 km de autonomia, suficiente para o uso urbano, e se recarrega em 25 minutos.
Apesar de não rivalizar com os 600 km de um Tesla, para frotas urbanas, entregadores e motoristas de aplicativo, trata-se de uma solução segura, sustentável e barata.
Dados comparativos: sódio x lítio
Característica | Lítio (NMC) | Sódio |
---|---|---|
Densidade energética | 250–270 Wh/kg | 160–165 Wh/kg |
Custo por kWh | ~US$ 120 | ~US$ 70 |
Tempo de recarga (até 80%) | ~30–60 min | ~25 min |
Ciclos de carga (antes de perder 20% da capacidade) | 3.000–5.000 | 6.000–8.000 |
Uso de metais raros (cobalto, níquel) | Sim | Não |
Atualmente, 70% da refinação de lítio e 60% da produção de cobalto estão nas mãos da China e do Congo. Isso gera gargalos logísticos e riscos estratégicos. Já o sódio está presente em praticamente todos os continentes, inclusive no Brasil, Índia e EUA, permitindo uma cadeia de suprimentos mais distribuída e menos suscetível a choques.
O futuro próximo
Analistas estimam que até 2030, as baterias de sódio ocuparão cerca de 30% do mercado global de veículos elétricos, especialmente nos segmentos de entrada, comerciais leves, ônibus e scooters. O lítio, por sua maior densidade energética, deverá continuar no topo para modelos premium e de longa autonomia.
O Brasil, por sua vez, tem potencial para se tornar um fornecedor estratégico de sódio e para desenvolver a tecnologia localmente — mas ainda está atrasado em relação à industrialização de baterias.
O que esperar?
A entrada de grandes players como Volkswagen, CATL, BYD e Northvolt no mercado de baterias de sódio indica que a tecnologia não é uma aposta de nicho, mas uma transição séria em curso.
Com governos e montadoras buscando reduzir custos e emissões, a bateria de sódio pode ser o empurrão que faltava para democratizar os elétricos e finalmente aposentar os motores a combustão — ou pelo menos reduzir sua hegemonia.
O post Bateria de sódio desafia o lítio e pode popularizar os carros elétricos no mundo apareceu primeiro em O Petróleo.