Cafeicultores temem impacto da taxação de Trump sobre exportações brasileiras

O alerta veio do secretário de Política Econômica, Guilherme Melo: caso os Estados Unidos cumpram a ameaça de impor uma tarifa de 50% às importações brasileiras a partir de 1º de agosto, as exportações de café, carne e suco de laranja podem sofrer uma queda significativa. A medida pode até contribuir para reduzir a inflação interna no curto prazo, mas deve prejudicar fortemente os produtores rurais.

Atualmente, o Brasil é responsável por 40% de toda a oferta mundial de café, sendo que cerca de 20% dessa produção é exportada para os EUA, maiores consumidores globais, que produzem apenas 1% do que consomem e dependem do produto brasileiro para abastecer o mercado interno. Em 2023, os americanos compraram 8 milhões de sacas do Brasil, gerando mais de US$ 2 bilhões em receitas.

Efeito em cadeia: mercado interno e safra futura

Segundo Guilherme Melo, se as exportações forem inviabilizadas pela tarifa, os produtos deverão ser direcionados ao mercado interno, aumentando a oferta e pressionando os preços para baixo  um alívio para a inflação, mas uma dor de cabeça para os produtores, que teriam queda na renda e poderiam reduzir a produção em safras seguintes.

“O aumento da oferta no mercado doméstico ajudaria a conter os preços, mas afetaria diretamente a rentabilidade dos produtores rurais”, explicou Melo. O diretor executivo do Conselho Nacional do Café, Marcos Matos, reforça que essa relação comercial é vital para ambos os países: “Nós somos os mais importantes para eles, e eles para nós. Nenhum outro mercado substitui os Estados Unidos para o café brasileiro”.

Disputa é mais política que econômica

Especialistas como o ex-secretário de Comércio Exterior e doutor em Direito Internacional, Welber Barral, apontam que a iniciativa tem mais motivação política do que econômica. “As cartas enviadas pelo presidente Trump misturam temas como defesa e processos judiciais, que sequer são competência do Brasil, e não apresentam uma demanda econômica clara”, disse Barral.

O Brasil estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a medida, embora Barral reconheça que a OMC, atualmente enfraquecida, teria pouco efeito prático imediato. “Ainda assim, é importante para mostrar que o Brasil respeita as regras internacionais”, afirmou.

Impactos nos diferentes setores

Barral detalha que a indústria brasileira  especialmente de produtos industriais exportados por subsidiárias americanas no Brasil  seria a mais prejudicada, já que essa produção não tem demanda suficiente no mercado interno nem alternativa rápida para outros destinos.

Já as commodities, como café, carne e suco de laranja, poderiam ser redirecionadas para outros mercados  ainda que a preços menores  ou absorvidas pelo consumo interno, provocando uma redução temporária nos preços.

Projeções para o comércio bilateral

A tabela abaixo resume os principais produtos brasileiros exportados para os EUA e o potencial impacto da tarifa de 50%:

Produto Dependência dos EUA (%) Impacto provável
Café 20% das exportações Alto
Carne Relevante Alto
Suco de laranja Considerável Moderado
Produtos industriais Intrafirma Muito alto
Petróleo e petroquímicos Baixo (isento) Nulo

Para Marcos Matos, a prioridade deve ser a negociação. “A estratégia número um é negociação. E a número dois, também”, disse ele, ressaltando que o ideal é que as conversas sigam um viés econômico, não político.

Enquanto isso, produtores brasileiros acompanham com apreensão os desdobramentos dessa disputa que coloca em risco uma relação comercial de 200 anos entre os dois países.

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