Se tem uma coisa que eu acredito é que boteco não é só lugar: é um estilo de vida. É ali, entre a cerveja gelada, a mesa de plástico o copo lagoinha, que a gente encontra liberdade. Liberdade de falar alto, de rir sem cerimônia, de espremer limão com a mão e de dividir com quem estiver por perto, seja amigo antigo ou alguém que acabou de conhecer.
E é essa liberdade que faz do boteco um lugar tão criativo e democrático. Porque no boteco o importante não é só o que se serve, mas como se serve: sem frescura, sem regra, sem etiqueta que diga quem pode ou não provar. É por isso que eu me encantei quando vi carnes exóticas, ingredientes mais utilizados em restaurantes de alta gastronomia, com decoração assinada por um designer internacional e garfo de sobremesa, ganharem a mesa do boteco, ali do lado do torresmo e do fígado acebolado.
A gente chama de alta gastronomia aquilo que costuma vir escoltado por taça de cristal, guardanapo de linho e silêncio ao redor. E de baixa gastronomia, aquilo que chega na travessa de inox, pra comer de pé, pegando com a mão, sentindo o cheiro, repetindo sem vergonha. Mas o que o boteco faz é desafiar essa fronteira: coloca na mesma mesa a picanha de cordeiro e a porção de fígado com jiló, a pimenta caseira e a rã à milanesa. Tudo servido do mesmo jeito: pra compartilhar, pra contar história, pra brindar.
E tem algo de revolucionário nisso. Porque democratiza o que antes era exclusivo: transforma o “prato chique” em tira-gosto, o medalhão em petisco, o menu restrito em conversa aberta. Tira o medo de “não saber usar o talher certo” ou “não estar vestido pra ocasião” e coloca todo mundo de chinelo e bermuda provando o que, até pouco tempo atrás, era coisa de quem podia pagar (e pertencer).
Eu mesma vivi isso no Köbes, boteco de quase 30 anos na garagem de uma família no bairro Santa Tereza. Ali, comi rã, codorna, coelho, cordeiro… Do mesmo jeito que sempre comi almondega, chouriço flambado na cachaça e linguiça: espremendo limão, pegando com a mão, rindo alto. E foi justamente isso que me fez sentir tão à vontade: não precisei mudar quem sou pra experimentar algo diferente.
Porque no fim das contas, boteco é isso: espaço onde várias tribos cabem, onde o cardápio muda, mas a alma segue a mesma. Onde a gente vai, não só pra comer, mas pra pertencer. E se tem picanha de cordeiro no meio do caminho? Melhor ainda.
Me conta aqui, qual o foi o prato mais diferente que você experimentou em um boteco?
Viva a botecagem e a liberdade que ele nos proporciona.
SAÚDE!
O post Boteco é liberdade: quem disse que picanha de cordeiro não combina com copo lagoinha e limão espremido? apareceu primeiro em BHAZ.