A bucólica região de Mammee Bay, em Saint Anne, está sendo palco da maior transformação urbana da história da Jamaica. O motivo: a construção de uma megacidade residencial pela empresa chinesa China Harbor Engineering Company (CHEC), que avança sobre uma área de 740 acres sob um acordo de concessão de US$ 700 milhões com o governo jamaicano. O projeto, que teve início em abril de 2025, está cercado de expectativas, promessas e críticas.
Uma nova cidade em seis fases até 2030
O empreendimento está dividido em seis fases e deve ser concluído até 2030. Ao todo, mais de 800 residências serão construídas para abrigar cerca de 4 mil pessoas. A proposta vai além de moradias: inclui hotel, centro comercial, instituições educacionais, áreas verdes, espaços comunitários e infraestrutura sustentável, como estações de recarga para veículos elétricos e tratamento de esgoto.
As construções já estão avançadas. Onde antes havia mata e terras agrícolas, o canteiro de obras agora toma conta da paisagem. Ruas estão sendo pavimentadas e casas erguem-se a passos largos, revelando uma nova era para Mammee Bay.
Impacto econômico: empregos, turismo e valorização
O governo jamaicano aposta na obra como vetor de desenvolvimento. Estima-se que o projeto gere milhares de empregos diretos e indiretos para trabalhadores locais, impulsione o turismo em Ocho Rios e valorize o mercado imobiliário em Saint Anne, hoje considerado o novo epicentro da construção civil na ilha — à frente de Kingston e Saint Andrew.
Outros empreendimentos também florescem na região, como o Draxhall Plaza e o projeto habitacional Paradesiac, consolidando o boom imobiliário em Saint Anne.
Controvérsias: meio ambiente, água e ancestralidade
Porém, o projeto tem provocado forte reação de ambientalistas e moradores. Parte do terreno fica dentro da bacia hidrográfica do Rio Roaring, responsável pelo abastecimento hídrico de boa parte da paróquia. O movimento Jamaica Beach Birthright chegou a protestar pacificamente e cogitou acionar judicialmente o governo, após denúncias de que a CHEC teria iniciado a destruição da área antes da aprovação completa do estudo de impacto ambiental.
Segundo documentos preliminares, o terreno abriga rios históricos, vegetação nativa e até vestígios de antigos assentamentos indígenas, possivelmente ligados aos ancestrais do herói nacional Marcus Garvey. Consultas públicas teriam sido realizadas de forma apressada, com pouca transparência e acordos imobiliários supostamente sigilosos.
“Se você perturba o lençol freático, perturba toda a região. Isso pode ser uma bomba-relógio ambiental”, alertam críticos.
Desenvolvimento ou desastre?
O projeto desperta debates acalorados sobre o futuro da Jamaica. Para uns, trata-se da “galinha dos ovos de ouro”, capaz de modernizar a região e atrair investimentos. Para outros, é um avanço irresponsável sobre o patrimônio natural e histórico da ilha.
A China Harbor afirma que adotará práticas de construção ecológicas e mitigará impactos ambientais. Ainda assim, a dúvida persiste: a Jamaica está dando um salto rumo ao progresso ou caminhando para uma crise ambiental?
Mammee Bay nunca mais será a mesma. A megacidade simboliza uma nova etapa do desenvolvimento urbano da Jamaica, mas expõe o dilema entre crescimento econômico e preservação ambiental. Com as obras já em andamento, resta à população, autoridades e ambientalistas acompanhar de perto os próximos capítulos.
Será este um exemplo de desenvolvimento sustentável ou o início de uma tragédia anunciada? O tempo e a vigilância pública darão a resposta.
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