Espiritualidade em casa: como símbolos sagrados transformam o lar

A fé pode se manifestar de diferentes formas. Entre elas, a presença de ícones, símbolos, imagens e objetos sagrados reflete a espiritualidade de praticantes de muitas religiões. A casa, por sua vez, é vista por muitos como um espaço onde a fé se expressa no cotidiano, nos detalhes que aproximam os moradores de suas crenças. Incorporar elementos religiosos à decoração é uma forma de criar conexões simbólicas com o sagrado, ressignificar os ambientes e fortalecer tradições familiares e ancestrais.De acordo com a arquiteta Dinah Lins, “a inclusão de símbolos religiosos na decoração expressa a personalidade do morador”. A jornalista espírita Andréia Vitório concorda e acrescenta que, em sua casa, “esses símbolos contribuem para criar uma atmosfera acolhedora e carregada de sentido, memórias e afetos”. Já para a designer católica Larissa Ramos, esses elementos não apenas compõem o espaço, mas também fortalecem a espiritualidade e aproximam cada pessoa daquilo em que acredita.Camila Maia, arquiteta responsável pelo Living Conclave da Casa Cor Bahia 2025 – ambiente que propõe uma imersão simbólica na tradição da Igreja com um olhar contemporâneo – ressalta que “independentemente da crença, esses elementos funcionam como âncoras emocionais e espirituais, promovendo uma sensação de pertencimento e conexão com valores pessoais e familiares”. No Candomblé, os significados ancestrais ganham ainda mais força. “Os objetos sagrados são representações das nossas entidades e da nossa ancestralidade. Nós cultuamos através desses símbolos e objetos. Quando os trazemos para nosso lar, trazemos para perto o que mais temos de precioso”, destaca o Babalorixá Jorge de Odé.A presença de símbolos no lar também pode ser uma forma de levar para o cotidiano os ensinamentos e práticas aprendidas nos templos religiosos. “Aprendi que esses elementos visuais ajudam a expressar a fé e os ensinamentos da Igreja. Assim como na Igreja temos imagens de santos e outros símbolos sagrados, tê-los em casa me permite manter essa conexão viva no dia a dia. Eles me conectam com o Sagrado e tornam o momento da oração mais profundo”, relata Larissa Ramos.Sincretismo brasileiroNo Brasil, não é incomum que símbolos de diferentes religiões coexistam em um mesmo ambiente. “Muitas vezes, acaba acontecendo a mistura de elementos pelo misticismo e pela cultura”, observa Dinah Lins. É o caso do lar de Andréia Vitório: “Em minha casa há duas obras: uma de Nossa Senhora e outra de Iemanjá. Também tenho uma imagem de São Judas Tadeu, feita artesanalmente pela minha melhor amiga. Tenho carinho por duas bonecas feitas por uma artesã: uma de Iemanjá e outra de Oxum. Além disso, guardo imagens de anjos da minha infância, de Buda – por uma conexão com alguns conceitos budistas – e figuras egípcias e indianas. Bebo de várias fontes”.Com o devido respeito, o Babalorixá Jorge de Odé não vê problema nessa união: “O Candomblé não recrimina qualquer outro tipo de religião. No entanto, os símbolos já estão estabelecidos em seus significados. É preciso conhecer para poder usá-los da forma certa”.Para inserir esses elementos de maneira adequada, “a proposta estética deve respeitar o caráter sagrado desses símbolos, evitando excessos ou usos que desvirtuem seu significado”, pontua Camila Maia. O Babalorixá Jorge de Odé também adverte: “Nem todo mundo tem condições de ter esses objetos dentro de casa. Eles não podem ser confundidos com um objeto de decoração”. Afinal, como reforça Camila, o uso desses símbolos deve respeitar seu contexto e função, evitando apropriações estéticas sem o devido entendimento ou respeito pelas crenças envolvidas.Com o devido respeito aos contextos e sentidos originais desses símbolos, é possível transformar o lar em um espaço de conexão espiritual e acolhimento, onde diferentes tradições convivem e se enriquecem mutuamente. Dessa forma, a decoração torna-se uma extensão viva da espiritualidade de cada morador, fortalecendo laços familiares, culturais e a experiência do sagrado no cotidiano.*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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