Gestão de riscos sem mistério: como prever, prevenir e ganhar valor em projetos e empresas

Gestão de riscos é o processo estruturado de identificar, avaliar, tratar e monitorar ameaças e oportunidades que podem afetar objetivos, capital e resultados. Esses riscos podem vir de finanças, tecnologia, operações, questões legais e regulatórias, pessoas, cadeia de suprimentos, clima e eventos externos (como crises sanitárias).

Nos últimos anos, a relevância cresceu por três razões:

  • Complexidade e interdependência: cadeias globais, fornecedores críticos, sistemas digitais.

  • Velocidade das mudanças: inovação, ciberataques, novas regulações e volatilidade macro.

  • Tolerância zero a falhas críticas: segurança de pessoas e integridade de ativos são inegociáveis — sobretudo em setores como construção, óleo e gás, energia e transporte.

Dica-chave: gestão de riscos não é eliminar todo risco, e sim tomar riscos certos, com retorno adequado e dentro do apetite a risco da organização.

Gestão de riscos corporativos e “riscos positivos”

Na abordagem de gestão de riscos corporativos (ERM), o olhar é transversal: relaciona riscos entre áreas e analisa efeitos em cascata sobre a estratégia. Além das ameaças, considere riscos positivos (oportunidades): antecipar uma tecnologia, renegociar contratos, acelerar um lançamento. Ignorá-los também custa caro.

Alinhe risco à estratégia: apetite, limites e critérios

Antes do “como fazer”, defina quanto risco a organização aceita para alcançar metas — o apetite a risco. A partir dele, estabeleça:

  • Limites e tolerâncias (ex.: perda máxima mensal, tempo de indisponibilidade aceitável).

  • Critérios de impacto (financeiro, segurança, compliance, imagem) e probabilidade.

  • Papéis e governança (quem aprova, quem executa, quem audita).

Esse alinhamento evita dois extremos perigosos: paralisia por medo e tomada de risco imprudente.

As 5 etapas de um plano segundo boas práticas (ex.: ISO 31000)

1) Identificação de riscos

Mapeie o que pode dar errado (ou muito certo) ao longo do ciclo de vida do projeto/negócio. Use:

  • Entrevistas e workshops com áreas técnicas e de campo;

  • Lições aprendidas e relatórios de incidentes;

  • Análise de processos (BPMN) e de causa-raiz (5 Porquês, Ishikawa);

  • Cenários externos (regulação, clima, mercado, fornecedores críticos).

Em engenharia, inclua riscos de projeto e execução: sondagens, contenções, fundações, interferências, vizinhança, logística e comissionamento.

2) Análise (probabilidade x impacto)

Classifique cada risco por probabilidade e impacto (segurança, financeiro, prazo, qualidade, reputação, compliance). Construa uma matriz de risco (Baixo/Moderado/Alto/Extremo) e determine prioridades.

3) Priorização (com base em objetivos)

Concentre energia nos riscos com alto impacto em objetivos críticos (vida e segurança ficam no topo). Para empates, avalie velocidade de materialização, detecção e custo-benefício dos controles.

4) Tratamento (resposta ao risco)

Escolha e documente a resposta:

  • Evitar (mudar escopo/rota para eliminar a exposição);

  • Mitigar (reduzir probabilidade/impacto — engenharia, redundância, testes, treinamento, inspeções);

  • Transferir/Compartilhar (seguros, garantias, contratos EPC, SLAs, performance bonds);

  • Aceitar (quando custo do controle > benefício ou dentro do apetite);

  • Explorar/Compartilhar ganhos (para oportunidades).

Inclua planos de ação, responsáveis, prazos, indicadores e pontos de controle na obra/operação.

5) Monitorar, medir e melhorar

Risco muda. Acompanhe KRIs (Key Risk Indicators), auditorias de campo, dashboards, testes de contingência e comitês regulares. Registre eventos, quase-acidentes, desvios e lições aprendidas. Atualize a matriz.

Ferramentas essenciais do plano

1) Registro de Riscos (Risk Register)
Tabela viva com: descrição, causas, efeitos, dono do risco, classificação, resposta, status e evidências.

2) Matriz de Probabilidade x Impacto
Visual simples para comunicar prioridades e justificar alocação de recursos.

3) Planos de Contingência e Emergência
Procedimentos específicos para cenários críticos (ex.: falha de contenção, alagamento, pane elétrica, ciberataque). Trate comunicação de crise e coordenação com autoridades.

4) Controles de engenharia e operacionais
Ensaios, inspeções independentes, verificação de projetos, checagens de compatibilização (clash detection), testes de carga, medição geotécnica/instrumentação e barreiras físicas.

Exemplo aplicado: obras e integridade estrutural

Em projetos de infraestrutura, dois eixos lideram a priorização: segurança de vidas e integridade das estruturas. Um plano robusto costuma incluir:

  • Antes da obra: sondagens adequadas, modelagem de escavação e rebaixamento de lençol, análise de vizinhança, compatibilização BIM, revisão independente de projeto.

  • Durante: monitoramento geotécnico e estrutural (marcos superficiais, piezômetros, inclinômetros), inspeções de contenções, controle de recalques, checklists diários e liberação por engenheiro responsável.

  • Resposta rápida: gatilhos de contingência (parar a obra, escorar, evacuar), inventário de recursos (bombas, escoras, concreto), canais de comunicação, interface com defesa civil.

  • Pós-incidente: isolamento da área, perícia técnica, lições aprendidas e revisão de padrões.

Essa disciplina reduz custo total (retrabalho, paralisações, litígios), protege reputação e, principalmente, salva vidas.

Benefícios (e desafios reais)

Benefícios:

  • Consciência de risco em toda a organização;

  • Maior confiança no atingimento das metas;

  • Conformidade coordenada e eficiência operacional;

  • Ambiente mais seguro para equipes e terceiros;

  • Diferencial competitivo em licitações e auditorias.

Desafios:

  • Custo inicial (processos, sistemas, sensores, seguros);

  • Disputa sobre gravidade e prioridades entre áreas;

  • Risco de paralisia por análise;

  • Dificuldade em demonstrar ROI de medidas preventivas.

A saída? Critérios claros, foco em riscos materiais e ciclos de melhoria curtos com métricas.

Checklist rápido para montar seu plano de gestão de riscos

  1. Defina o escopo e objetivos.

  2. Ajuste o apetite a risco e critérios de impacto/probabilidade.

  3. Monte a governança: papéis, comitês, aprovações.

  4. Identifique riscos (workshops, lições aprendidas, dados de campo).

  5. Analise e priorize (matriz de risco e racional de decisão).

  6. Planeje respostas (evitar, mitigar, transferir, aceitar, explorar).

  7. Implemente controles (engenharia, processos, seguros, contratos).

  8. Prepare contingências e planos de emergência.

  9. Monitore com KRIs, auditorias e reuniões periódicas.

  10. Registre lições aprendidas e atualize padrões.

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