O mundo assiste a uma reconfiguração silenciosa, porém poderosa. Enquanto economias ocidentais lidam com riscos de recessão e fragilidade nas cadeias logísticas, o grupo BRICS — agora expandido — constrói uma nova ordem geoeconômica com infraestrutura estimada em US$ 39 trilhões. Trata-se do chamado Projeto BRICS para Riqueza e Poder Global, uma estratégia de longo prazo que já reúne 46% do PIB mundial sob coordenação direta do bloco.
Corredores comerciais alternativos e o colapso do Canal de Suez
A crise do Canal de Suez em 2024 expôs um gargalo de US$ 2 trilhões no comércio internacional. Com a redução de tráfego de 26,4 mil para 13,2 mil embarcações e o aumento de seguros de 0,7% para 2%, os BRICS reagiram rapidamente.
Foram ativadas rotas estratégicas como:
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Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul, ligando Rússia, Irã e Índia.
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Corredor Econômico Índia-Oriente Médio-Europa (IMEC), com conexões ferroviárias e marítimas diretas.
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Rotas comerciais do Ártico, impulsionadas pelas mudanças climáticas, envolvendo China, Rússia e Índia.
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Rota via Cabo da Boa Esperança, que beneficia a África do Sul com aumento do tráfego marítimo.
Tabela: impactos da crise logística no Mar Vermelho
Indicador | Antes da crise | Após a crise (2024) |
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Tráfego de navios no Canal de Suez | 26.400 | 13.200 |
Custo de seguro marítimo (% do valor) | 0,7% | 2,0% |
Tempo de trânsito via Corredor Norte-Sul | 40 dias | 20 dias |
Participação do BRICS no PIB global | 31% (2020) | 46% (2025) |
O projeto está ancorado em cinco pilares integrados:
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Infraestrutura física: estradas, ferrovias e portos conectando Ásia, África e América Latina.
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Infraestrutura digital: plataformas como a Bharat Trade Net e o App Mestre do IMEC para comércio integrado.
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Corredores minerais: domínio de minerais críticos como lítio, cobalto e manganês, com plantas de processamento locais.
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Sistema financeiro alternativo: mecanismos como o Acordo de Reservas Contingentes e o Mecanismo de Cooperação Interbancária substituem gradualmente o sistema dolarizado.
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Governança institucional: um novo secretariado virtual para coordenação perene, em contraste com modelos temporários como o G20.
Alianças estratégicas: novos membros e funções geoeconômicas
A expansão recente do BRICS não foi aleatória. Cada novo membro oferece um papel estratégico:
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Emirados Árabes Unidos: expertise em marketing de commodities.
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Indonésia: liderança em processamento de minerais críticos.
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Arábia Saudita: capital via fundos soberanos.
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Etiópia: entrada para o mercado da Área de Livre Comércio Continental Africana.
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Irã: ligação energética entre Rússia e Oriente Médio.
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Vietnã: o 10º membro, símbolo da nova geografia econômica asiática.
Financiamento alternativo e nova ordem monetária
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como “banco dos BRICS”, já mobilizou:
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US$ 26,5 bilhões em empréstimos soberanos.
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US$ 3,4 bilhões para o setor privado.
Ainda assim, o déficit projetado em infraestrutura até 2030 é de US$ 12 trilhões. Como resposta, os BRICS lançam novas plataformas de investimento, contornando FMI e Banco Mundial.
Destaques:
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Cooperação em moedas locais, reduzindo dependência do dólar.
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Subsídios aos custos de conformidade com padrões internacionais.
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Plataformas como a DP World em Dubai já conectam rotas logísticas BRICS.
O papel da África e o projeto Bharat-Africa Setu
A África está no centro dessa transformação:
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30% das reservas minerais críticas do mundo.
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Metade do cobalto global está na República Democrática do Congo.
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O projeto Bharat-Africa Setu visa alcançar 260 mil pontos de venda no continente, ampliando as exportações da Índia de 6,5% para 12% até 2030.
Uma nova ordem econômica em construção
Enquanto o Ocidente ainda debate os rumos da política monetária e comercial, os BRICS constroem, investem e implementam. A nova Estratégia para a Parceria Econômica, válida por 10 anos, substitui o modelo anterior de 2025 com:
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Coordenação entre presidentes passados, atuais e futuros.
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Evolução do Conselho Empresarial BRICS para uma Parceria de Investimentos.
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Integração de jovens mercados consumidores africanos com cadeias produtivas globais.
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