
Estudo mede impacto do tarifaço dos EUA sobre 11 mil empresas exportadoras brasileiras de médio porte
Reprodução/TV Globo
Um estudo mediu o impacto da sobretaxa americana sobre as 11 mil empresas exportadoras brasileiras de médio porte.
Em uma cooperativa que fica em Patrocínio, no Triângulo Mineiro, saem mais de 50 mil sacas de café, por ano, para os Estados Unidos. Elas rendem R$ 120 milhões. E desde o anúncio do tarifaço, os 300 funcionários estão apreensivos.
“Nenhuma empresa brasileira estava preparada para taxações de 50%. Compradores estão em ‘stand by,’ aguardando a aplicabilidade efetiva das tarifas. Vendedores também, da mesma forma, em ‘stand by’, aguardando também para verificar qual seria o impacto”, diz Simão Pedro, diretor-executivo da ExpoCacer.
O Brasil tem 74 mil empresas de porte médio, e 15% delas são exportadoras, como a cooperativa mineira. De acordo uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, o aumento da tarifa de 10% para 50% traria um aumento de cerca de 36% no preço do produto brasileiro para o consumidor final nos Estados Unidos.
O professor Eduardo Menicucci analisou o impacto do tarifaço para o país, caso ele se mantenha.
“Em não conseguindo realocar essa produção, talvez num espaço de tempo de dois, três meses, não vai restar outra alternativa que não seja a redução de quadro. E o que é pior é que essas médias empresas, elas não têm normalmente uma estrutura financeira suficientemente grande para, num curto espaço de tempo, absorver essa mudança”, afirma Menicucci.
São consideradas empresas de médio porte as que empregam entre 50 e 499 pessoas. Como é o caso de uma indústria, na região metropolitana de Belo Horizonte, que produz peças para máquinas de perfuração. 20% dos produtos fabricados aqui vão para os Estados Unidos.
Alguns pedidos já foram transferidos para a filial da Itália.
“Daqui a 4, 5 meses, esses pedidos que estariam sendo faturados pelo Brasil vão ser faturados já pela Itália. Perder 20% do faturamento do dia para noite é algo que ninguém quer. Então nos preocupa bastante e nós vamos estar atentos para ver o que vai precisar ser feito nesse período”, diz o diretor industrial Vinicius Sartori.
O professor da Fundação Dom Cabral avaliou que uma das saídas tem sido cada empresa negociar individualmente com os compradores americanos para tentar reduzir os prejuízos.
“Por exemplo, açaí, só se produz no Brasil, então não faz tanto sentido o governo americano implementar uma tarifa de 50% em produtos que são tipicamente brasileiros. 30% do café consumido nos Estados Unidos vêm do Brasil. Então, talvez setorialmente eles consigam. Você faz um acordo com o cliente, um perde um pouquinho aqui, a empresa perde um pouquinho aqui de lucratividade, o cliente americano absorve um pouco da tarifa e vida que segue. Mas se nada disso acontecer, se não conseguir essa negociação neste mês de agosto, teremos um setembro mais arriscado”, explica Eduardo Menicucci.
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