Crise na energia eólica no Brasil expõe falhas graves na infraestrutura

A energia eólica, que já figurou como um dos pilares do avanço energético sustentável no Brasil, enfrenta sua pior crise em mais de uma década. A desaceleração nos investimentos, aliada à estagnação de novos contratos e limitações na infraestrutura elétrica, ameaça o protagonismo do país no setor de energias renováveis.

Queda nas instalações e demissões em massa

Após três anos consecutivos de recordes, 2024 marcou uma inflexão drástica na expansão da energia eólica no Brasil. Enquanto 2023 registrou a instalação de 123 novos parques, totalizando 4,8 GW de capacidade, 2024 teve apenas 76 novos empreendimentos, somando 3,3 GW — uma queda de 31,25%.

Essa desaceleração teve efeitos imediatos no mercado de trabalho e na indústria de componentes eólicos. Uma das maiores fabricantes de pás eólicas do país, no Ceará, demitiu mais de 70% da força de trabalho, refletindo um impacto severo no setor. No total, mais de 11 mil empregos diretos e indiretos foram perdidos nos últimos dois anos.

Ano Novos Parques Eólicos Capacidade Adicionada (GW) Variação (%)
2023 123 4,8
2024 76 3,3 -31,25%

A crise no setor tem múltiplas causas. Uma delas é o crescimento da geração distribuída, especialmente da energia solar, que reduziu a necessidade de contratação de energia via leilões centralizados. Segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), isso travou novos contratos, congelando a cadeia produtiva dos parques eólicos.

Contudo, o problema mais crítico é a incapacidade da rede elétrica de transportar a energia gerada no Nordeste até os centros consumidores no Sudeste e Sul. Esse gargalo gera o chamado curtailment, termo técnico que se refere ao corte da produção de energia por falta de capacidade da rede.

Três principais causas do curtailment:

  • Indisponibilidade externa: falhas ou limitações em linhas de transmissão e subestações.

  • Confiabilidade elétrica: para evitar sobrecarga, a geração é reduzida.

  • Razão energética: sobreoferta de energia em momentos de baixa demanda.

Um levantamento da consultoria Volt Robotics aponta que, só em 2024, mais de 100 usinas eólicas e solares sofreram cortes ordenados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), gerando um prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao setor.

Riscos para o futuro e possíveis saídas

A insegurança jurídica e operacional desestimula novos investimentos. Sem previsibilidade sobre escoamento da produção e retorno financeiro, muitos projetos são engavetados. Isso coloca em risco a posição do Brasil como 5º maior gerador mundial de energia eólica onshore.

Apesar do cenário desafiador, o setor tem perspectiva de retomada a partir de 2027, com o crescimento da demanda impulsionado por:

  • Projetos de hidrogênio verde, que exigem energia renovável;

  • Expansão de data centers e inteligência artificial, altamente consumidores de energia;

  • Avanço dos veículos elétricos, que aumentarão a demanda por eletricidade limpa.

Além disso, estão previstos os primeiros leilões para energia eólica offshore, com operação estimada para 2030.

Caminhos para a recuperação:

  • Investimento em novas linhas de transmissão;

  • Atualização das regras regulatórias do setor;

  • Implantação de tecnologias de armazenamento, como baterias de sódio, para evitar desperdícios e estabilizar a rede.

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