É possível abastecer todo o Brasil apenas com energia solar?

A cada hora, o Sol emite 430 quintilhões de joules de energia em direção à Terra — quantidade mais do que suficiente para suprir a demanda global anual. No entanto, a humanidade ainda enfrenta um desafio energético crescente: em 2024, apenas 28,7% da energia elétrica gerada no mundo veio de fontes renováveis como solar e eólica.

No Brasil, a energia solar representa 12% da matriz elétrica, sendo a segunda maior fonte, atrás apenas das hidrelétricas. Isso levanta uma pergunta fundamental: seria possível abastecer todo o Brasil apenas com energia solar?

Como funciona um painel solar

O princípio por trás dos painéis solares remonta a 1905, quando Albert Einstein descreveu o efeito fotoelétrico, pelo qual a luz solar pode liberar elétrons de certos materiais e gerar corrente elétrica. Apesar de não ter criado o painel solar, sua explicação rendeu o Prêmio Nobel de Física em 1921.

O primeiro painel funcional surgiu em 1883, mas com apenas 1% de eficiência. Hoje, os modelos mais avançados chegam a 23% de eficiência, e o custo de produção caiu drasticamente.

Evolução do custo de geração solar

Ano Custo por Watt (USD) Custo por Watt (BRL)*
1975 $100,00 R$ 500,00
2021 $0,27 R$ 1,36

Com essa redução, abastecer uma residência brasileira média (152,2 kWh/mês) passou de R$ 105 mil em 1975 para cerca de R$ 287 em 2021.

A limitação da energia solar: a curva do pato

Apesar do potencial, a energia solar enfrenta uma limitação crítica: intermitência. Painéis solares só funcionam quando há sol. À noite — exatamente quando o consumo residencial atinge seu pico — a produção despenca. Esse fenômeno é ilustrado pela chamada curva do pato, que mostra a discrepância entre geração solar e demanda de energia ao longo do dia.

A solução: baterias e usinas reversíveis

Para resolver o problema da intermitência, há duas soluções principais:

1. Baterias residenciais

Muitas casas com painéis solares já utilizam baterias para armazenar energia gerada durante o dia e utilizá-la à noite.

2. Bateria gravitacional (usinas reversíveis)

Uma alternativa mais ambiciosa é a chamada bateria gravitacional, onde a energia solar excedente é usada para bombear água morro acima, criando uma “reserva” de energia potencial. À noite, a água desce e movimenta turbinas, gerando eletricidade — assim como em usinas hidrelétricas convencionais.

Essa tecnologia já é realidade em vários países, embora ainda represente uma capacidade limitada diante das necessidades nacionais.

Seria possível cobrir todo o Brasil com painéis solares?

Tecnicamente, sim. Um painel solar moderno gera cerca de 200 watts por metro quadrado. O consumo elétrico anual do Brasil em 2021 foi de 497 TWh. Para suprir essa demanda exclusivamente com energia solar, seriam necessários cerca de 25.000 km², o equivalente a 58% do território de Santa Catarina.

Esse cenário é teoricamente viável, mas demandaria uma infraestrutura massiva de painéis, baterias ou usinas de armazenamento, além de políticas públicas e incentivos para viabilizar sua implementação em larga escala.

Energia solar e o futuro sustentável

A resposta para a pergunta inicial é sim, com ressalvas. A energia solar tem capacidade técnica de abastecer o Brasil por completo, mas desafios de armazenamento, distribuição e intermitência precisam ser resolvidos.

A energia solar é limpa, barata e abundante — e será uma peça-chave para a transição energética global. Porém, como mostram os dados e a ciência, é necessário muito mais do que apenas instalar painéis: é preciso um sistema inteligente, resiliente e integrado de geração, armazenamento e distribuição.

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