Comércio popular de SP enfrenta escassez de mão de obra; lojistas dizem haver mais de 11 mil vagas no Brás e no Bom Retiro


Anúncios de vagas de emprego no Brás e no Bom Retiro
Alobrás/Paola Patriarca/g1
“Contrata-se ajudante geral”, “Precisa-se de balconista”, ‘Precisa-se de vendedora”, “Precisa-se de ajudante geral, dobradeira, auxiliar de caixa, passadeira, balconista”. Papéis com anúncios de vagas de emprego estão tomando conta das vitrines de lojas no Brás e na Rua José Paulino, no Bom Retiro, tradicionais comércios populares no Centro de São Paulo.
Segundo a Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), são cerca de 10 mil vagas abertas em seu entorno. Já na região do Bom Retiro, a Câmara de Dirigentes Lojistas local estima mais de mil oportunidades.
De acordo com Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás, foi feita uma reunião com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico na última sexta-feira (1º) para firmar parceria com o Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate).
“Nós, da Alobrás, estamos buscando com a prefeitura ajuda para preenchermos essas vagas. Pedir em grupos de WhatsApp não resolve mais. Vamos ter que fazer campanhas porque são no mínimo 10 mil vagas, já pensando no segundo semestre”, afirmou.
Segundo ele, estão “em uma corrida antecipada”. “Falta mesmo mão de obra. Se deixarmos para a época que sempre procurávamos, que é de setembro em diante, não vamos achar, porque, hoje, um autônomo se vê mais recompensado que um CLT. A escala 6×1 também afasta as pessoas mais novas.”
Ainda conforme Lauro, as principais vagas de emprego abertas são para vendedor, caixa, cortador, overloquista, repositor, área administrativa e até para gerente.
“No mínimo 80% das lojas precisam de pelo menos uma pessoa. Queremos colocar um link do Cate dentro do site da Alobrás para ajudar a preencher essas vagas.”
Plaquinha permanente
Heloilson de Castro do Canto Leite é comerciante há 31 anos e tem uma loja que vende bolsas, malas e sacolas no Brás. Ao g1, ele relatou que precisa de 10 funcionários.
“Faz mais de um ano que eu não tiro mais a placa da frente [da loja]. Sempre está precisando de embalador, principalmente jovens de 18 anos até 30 anos, além de funcionária para atendimento. Está todo mundo passando por essa dificuldade”, afirmou.
A comerciante Sandra Maria da Silva conta que tinha uma loja no Brás desde 2014, mas precisou fechar as portas em fevereiro deste ano por encontrar dificuldade em contratar mais pessoas e não conseguir se manter com apenas dois funcionários. Agora, ela vende as mercadorias através de plataformas on-line.
“O horário dos funcionários era das 4h às 13h, e o salário, de R$ 2.500. Atraía muita gente. Mas no máximo de 15 dias já pediam demissão. Chegavam atrasados, faltavam às segundas-feiras, deixavam a loja sozinha ou até dormiam”, relatou.
Sandra também afirma que, mesmo com o modelo on-line, a dificuldade de contratar funcionários persiste.
“Estou procurando alguém para ajudar na separação de pedidos, embalagem, impressão de etiquetas e emissão de notas fiscais. Mas é difícil por três motivos: muitos não sabem mexer no computador, mesmo com treinamento; outros desistem logo após o primeiro salário, às vezes trabalham só quatro dias; e há os que ficam, mas faltam às segundas e aos sábados”, explica.
Dunia Saed é comerciante há 16 anos no Brás e tem cerca de 30 vagas abertas em suas lojas. “Desde vendas, reposição, estoque e também na parte de atendimento digital, como e-commerce, SAC e marketing. Não encontramos mão de obra, nem qualificada e nem não qualificada”, ressalta.
E complementa: “Essas vagas ficam abertas o ano todo porque, na maioria dos casos, além da dificuldade de encontrar essas pessoas qualificadas para a vaga, a rotatividade de colaboradores está muito grande. Alguns deles nem sequer passam do período de experiência, e não é porque nossa empresa não quer registrar, eles mesmos não se adaptam à empresa e acabam saindo”.
Anúncios de vaga de emprego no Brás, Centro de SP
Lauro Pimenta/Alobrás
Sete meses de procura
O g1 também esteve na Rua José Paulino e constatou que a situação é a mesma que no Brás. Mais de 40 lojas estão com anúncios nas vitrines para vagas de emprego — desde vendedor até gerente. Uma vendedora relatou que a loja em que trabalha ficou sete meses tentando contratar funcionários.
“Ninguém quer mais trabalhar aqui, e isso sobrecarrega quem ainda está, porque ficam poucas vendedoras atendendo as clientes que chegam do país todo”, afirmou a vendedora.
Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, duas em cada três lojas estão com falta de mão de obra em vários setores. Uma representante ouvida pelo g1 e que preferiu não se identificar informou que a prefeitura ajuda, mas não se encontra quem queira trabalhar no comércio.
Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho informou que mantém diálogo com todos os setores que podem ajudar a gerar empregos e renda na cidade.
Segundo o comunicado, a pasta recebeu em 1º de agosto “representantes da Associação do Brás, e as equipes técnicas do Cate estão analisando as demandas da entidade para desenvolver ações conjuntas ainda neste ano. Essas ações visam facilitar a entrada de novos profissionais no mercado de trabalho. O Brás é conhecido pelo seu comércio vibrante, o que demanda uma mão de obra constante para atender a clientela de todo o país que frequenta esse importante polo de compras na capital”.
Anúncio de vaga na rua José Paulino, Bom Retiro
Paola Patriarca/g1
O que causa a escassez no comércio popular?
Segundo Vivian Almeida, professora de economia do Ibmec, num cenário com baixas taxas de desemprego, a oferta de mão de obra tende a ser menor para postos que costumam pagar menos, que não exigem uma habilidade técnica específica ou têm alta rotatividade.
A taxa de desemprego no Brasil foi de 5,8% no segundo trimestre de 2025, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada em 31 de julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice do trimestre encerrado em junho representa a menor taxa da série histórica iniciada em 2012.
“Se você primeiro ultrapassa a barreira de reduzir o desemprego e, com isso, atinge um público maior, mais pessoas ofertam a sua força de trabalho. As pessoas começam a ter a possibilidade de escolher os seus trabalhos. Para que ela troque aquela situação, ela precisa ter uma oferta melhor em termos de renda, que é basicamente o que a gente procura quando oferta a nossa força de trabalho”, afirma.
Mais de 40 mil postos de trabalho formais em junho
O estado de São Paulo fechou junho com 40.089 novos postos formais, resultado de 678.491 admissões e 638.402 desligamentos. Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgado na segunda-feira (4) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Conforme os dados, no acumulado do ano, São Paulo acumula 349.904 novos empregos formais entre janeiro e junho de 2025. Como comparação, em todo o ano de 2024, o estado paulista gerou 455.252 novos postos de trabalho com carteira assinada.
Em junho, São Paulo apresentou desempenho positivo nos cinco grandes grupamentos de atividades econômicas avaliados. O destaque foi o setor de serviços, que terminou o mês com saldo de 23.013 vagas.
Na sequência aparecem:
Comércio: 9.109
Agropecuária: 6.378
Construção: 947
Indústria: 642
A capital paulista foi o município paulista com melhor saldo em junho, com 16.859 novos postos. A cidade tem um estoque de 5 milhões de empregos formais.
Na sequência dos municípios com melhores desempenhos no estado aparecem: Barueri (3.634), Osasco (2.511), Guarulhos (1.903) e São José dos Campos (1.618).
Oferta de 500 vagas de emprego atraiu quase 3 mil pessoas na grande São Paulo
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