
Dançarina de Sorocaba (SP) herda da mãe paixão pela dança e passa para a avó e primas
A dança embala a trajetória de uma família de Sorocaba (SP), unindo mãe, filha e netas em torno de uma mesma paixão. Além de se destacar em competições, como mais recentemente no tradicional Festival de Joinville, a família mostra o poder que a dança tem na socialização e na superação de desafios, principalmente em crianças.
O destaque fica por conta de Júlia Vieira Bercial, 19 anos, que no fim de julho sagrou-se campeã da categoria de danças urbanas (conjunto sênior) ao se apresentar com o grupo paulistano Raça Centro de Artes.
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A vitória coroou a trajetória da dançarina sorocabana, que desde os 10 anos participa do festival catarinense, onde já conquistou o primeiro lugar na categoria infantil e juvenil, em anos seguidos.
Três gerações unidas pela dança: Juliana Vieira Bercial (à frente), de Sorocaba, com a filha Julia (no fundo, à direita), que incentivou a avó Rose a entrar na atividade
Juliana Bercial/Arquivo pessoal
Herança da mãe
Tudo por influência da mãe, a bailarina Juliana Vieira Bercial, 45 anos, que descobriu a paixão na infância quando começou as aulas de balé, jazz e sapateado. “Sempre gostei de dançar, mas entrei numa escola porque as minhas amiguinhas também entraram. E acabei me apaixonando”, explica Juliana.
Aos 17 anos, surgiu o dilema do futuro profissional. “Comecei a me questionar. Achei que não iria viver da dança”, conta.
Ela se afastou da atividade para estudar odontologia e abrir um consultório. Mas nunca esqueceu daquela paixão de menina.
Paixão à primeira vista
Quando a filha estava com quatro anos, Juliana a matriculou em uma escola de balé. A surpresa foi grande quando percebeu que a menina demonstrava habilidades até então desconhecidas.
O ápice foi o contato da jovem com as danças urbanas: paixão à primeira vista, mesmo com a reprovação inicial da mãe. “Não me conformava. Falava para a Julia: fica no balé, que é tão básico, tão clássico, tão bonito”, lembra Juliana.
A partir de um encontro com o coreógrafo Eliseu Correia, Júlia passou a ser orientada tecnicamente e despontou em competições de dança urbana. Participou do Festival de Joinville, terminando em segundo lugar, mas a jovem não ficou satisfeita.
Com treinos exaustivos, voltou no ano seguinte e conseguiu o primeiro lugar na categoria. As performances chamaram a atenção, e surgiu oportunidade de participar em um torneio fora do país, em Los Angeles (EUA), onde saiu vitoriosa.
“No fim, a Júlia me despertou o gosto pelas danças urbanas”, comenta a mãe, que acabou resgatando a antiga chama. Incentivada pela família e pelo amigo coreógrafo Eliseu, abriu uma escola de dança em Sorocaba, em 2015.
Alternou com as atividades no consultório odontológico, até que a dedicação à dança passasse a ser em tempo integral.
Julia Vieira Bercial, durante competição de dança em Joinville, com 9 anos de idade: paixão herdada da mãe, e repassada para a avó e para as primas
Juliana Bercial/Arquivo pessoal
Válvula de escape
No terceiro ano da faculdade de medicina, a jovem Júlia hoje sonha em unir a área com a dança. “Quero seguir na área de medicina esportiva. É algo de que gosto muito. Não é só de dança, que é meu xodó, mas tem a ver com a coordenação motora e muito mais”, conta a jovem.
Júlia explica que tem na expressão corporal da dança uma válvula de escape para as tensões do dia a dia. Ela chegou a enfrentar uma depressão por se afastar das atividades na época da pandemia.
“Quando consigo fazer uma aula de dança no meio da semana, que é bem raro por causa do curso de medicina, já muda totalmente o meu dia, a minha semana. É muito bom voltar a fazer o que a gente realmente gosta de fazer”, afirma Júlia.
A mãe concorda e destaca o poder que a dança tem em renovar as energias diante dos desafios. “Observo isso com as crianças na escola. Quando tem algo preocupando, ela vai lá e dança, dança. Aí volta e consegue focar nos estudos, por exemplo. É muito prazeroso ver isso. Fora as amizades que a gente faz dentro e fora do palco”, conta.
Família envolvida
A paixão se espalhou: por influência de Júlia, a avó Rose, de 62 anos, antes distante das coreografias, passou a integrar um grupo de dança destinado a pessoas 60+.
O pai, Marcos Bercial, cirurgião plástico, tornou-se apoiador dos espetáculos. Ele ficou conhecido em 2022 por aprender a dançar para ajudar a filha a se recuperar da depressão.
E agora as primas, com 10 e 9 anos, seguem seus passos: são fãs incondicionais e tem Julia como primeira inspiração.
A avó Rose decreta: “Todos seguimos pelo mesmo caminho. Estamos criando memórias que espero que elas levem para sempre”.
Para Juliana, o envolvimento familiar na atividade, principalmente da mãe que nunca tinha dançado, é o tipo de “milagre dos netos”.
“Em casa, só eu tinha contato com a dança. Mas quando a Júlia começou a se destacar, e ganhar e ganhar, a minha mãe e a família inteira acabaram se envolvendo de cabeça. Então, quando ela ia para Joinville, ou em outros lugares, todo mundo ia junto”, revela.
A união familiar em Joinville chamou a atenção e foi parar nas telas da televisão: Rose, Juliana e Júlia foram entrevistadas ao vivo, durante o programa Encontro com Patrícia Poeta.
Julia com a avó Rose em Joinville; à esquerda, durante torneio de dança urbana em Los Angeles
Juliana Bercial/Arquivo pessoal
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