Médico veterinário celebra 1º Dia dos Pais após recorrer à FIV para vencer barreira da infertilidade


Veterinário celebra 1º dia dos pais após recorrer à FIV para vencer a infertilidade
O médico veterinário Rafael Balbi, de 38 anos, comemora pela primeira vez neste domingo (10) o Dia dos Pais com o filho Miguel, de cinco meses, nos braços. O momento foi muito aguardado por ele e pela esposa, a biomédica Anna Karoline, de 35 anos.
Juntos há 12 anos, o casal de Ribeirão Preto(SP) enfrentou uma longa jornada até a chegada do bebê. O caminho envolveu exames, incertezas, dois ciclos de fertilização in vitro (FIV) e o rompimento de tabus em torno da infertilidade masculina.
A tentativa de engravidar começou em 2023, de forma natural. Após seis meses sem sucesso, Anna decidiu investigar a causa e procurar ajuda médica.
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Os exames dela estavam normais. Então as atenções se voltaram para Rafael. Ao fazer um espermograma, ele recebeu o diagnóstico de azoospermia. Nesta condição, não são encontrados espermatozoides no sêmen, o que causa a infertilidade masculina.
“No começo a gente fica preocupado, claro. Mas tentei pensar em soluções. Fiquei apreensivo, sim, principalmente por estarmos passando por dificuldades financeiras. Teve um momento em que pensei: ‘Talvez a paternidade não seja pra mim’. Mas depois amadureci essa ideia, fui me fortalecendo por dentro, me voltei à espiritualidade. E as coisas começaram a dar certo”, diz Rafael.
Rafael Balbi comemora pela primeira vez o dia dos Pais com o filho Miguel, de 5 meses, nos braços após recorrer à FIV para vencer barreira da infertilidade
Arquivo pessoal
A azoospermia pode ter causas genéticas ou adquiridas ao longo da vida, como explica o embriologista Marcelo Rufato, especialista em reprodução assistida em Ribeirão Preto.
“No caso do Rafael, foi feita uma investigação detalhada. Há casos em que mesmo após exames apontarem ausência de espermatozoides, conseguimos encontrá-los por técnicas cirúrgicas e laboratoriais mais específicas. Hoje a medicina ajuda muito”.
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Entre os principais fatores que podem comprometer a fertilidade masculina estão causas genéticas, variações hormonais, além de hábitos de vida como tabagismo, sedentarismo e obesidade.
No caso de Rafael, a suspeita é de que uma cirurgia nos rins na infância tenha interferido na produção de espermatozoides.
Caminho até a gravidez
Após o diagnóstico, o casal deu início ao processo de fertilização in vitro. Os espermatozoides foram coletados por procedimento cirúrgico direto nos testículos.
Rafael e Anna Karoline utilizaram a técnica ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide), uma das mais avançadas da reprodução assistida.
Na ICSI, são coletados os óvulos da mulher e, com auxílio de um microscópio de alta precisão, um único espermatozoide é injetado diretamente no óvulo. O embrião é cultivado em laboratório por até sete dias e só depois é transferido para o útero.
Fertilização in vitro com a técnica de ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide), são coletados os óvulos da mulher e, com auxílio de um microscópio de alta precisão, um único espermatozoide é injetado diretamente no óvulo
Stock
Foram necessários dois ciclos completos de fertilização in vitro até que a gestação de Miguel se concretizasse. Na primeira tentativa, o embrião não se desenvolveu como o esperado e o resultado foi negativo, o que obrigou o casal a recomeçar todo o processo.
“Cheguei a fazer foto com a mão na barriga. Achava que tinha dado certo. A gente viu o espermatozoide sendo colocado dentro do óvulo e já achamos que eu estava grávida. Mas o teste deu negativo. A frustração é grande. Aí vem a força para continuar. O Rafael me apoiou em cada etapa. Isso manteve nosso relacionamento forte”, lembra Anna.
Mesmo com o desgaste físico e emocional, Rafael e Anna decidiram insistir no sonho de ser pais, e no segundo ciclo, a transferência embrionária teve sucesso.
Casal Anna Karoline e Rafael Balbi recorreram à FIV para realizar o sonho de serem pais. Depois de 2 anos e meio de tentativas, finalmente a família está completa e cheia de vida
Arquivo pessoal
Infertilidade masculina deixa de ser tabu
O caso de Rafael reflete uma mudança no comportamento de muitos homens que desejam ser pais. De acordo com o embriologista, cerca de 15% dos atendimentos atualmente são iniciados por pacientes do sexo masculino, um cenário diferente do que se via até dois anos atrás, quando praticamente todas as procuras vinham das mulheres.
“A infertilidade masculina ainda carrega muito tabu. Mas isso está mudando. A busca por diagnóstico precoce tem aumentado, e os homens estão mais abertos a discutir o tema e procurar ajuda”, diz Rufato.
Segundo o médico veterinário, a experiência também foi uma quebra de barreiras para ele.
“A gente cresceu numa geração muito fechada, cheia de dogmas. Temos dificuldade até de dizer ‘eu te amo’. Mas não, a gente tem que ser mais maleável. No meu caso, talvez nem seja genético. Fiz uma cirurgia na infância, talvez aquilo tenha afetado algo. Mas o importante é procurar ajuda. A medicina está evoluída e está aí para nos ajudar. E nós ainda tivemos o privilégio de acompanhar o Miguel desde que ele era apenas células. Foi um processo muito mais seguro. A paternidade é possível, sim. Hoje, meu filho é tudo pra mim”, afirma Rafael.
Ribeirão Preto é referência em reprodução assistida
A fertilização in vitro é uma das principais alternativas para casais que enfrentam infertilidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas no mundo tem dificuldade para engravidar, o que representa 17,5% da população global.
Em Ribeirão Preto, o número de embriões congelados no Centro de Fertilidade, onde Rufato trabalha, saltou de 1.343, em 2020, para 6.525, em 2024, segundo dados da Anvisa. A cidade concentra cerca de 30% dos embriões armazenados no estado de São Paulo e é considerada um polo nacional na área da reprodução assistida.
“A tecnologia permite identificar e tratar diferentes causas de infertilidade. Com orientação adequada e tratamento multidisciplinar, as chances de sucesso aumentam significativamente”, explica o especialista.
Apoio do casal
O custo da FIV, envolvendo estimulação ovariana, coleta de óvulos, cirurgias e medicações, é alto. O casal estima ter gastado, em média, R$ 30 mil a cada etapa.
Rafael conta que o apoio emocional dos dois foi essencial durante o processo.
“A gente conversava muito. Tinha momentos difíceis, mas decidimos que seguiríamos juntos, independentemente do resultado. Hoje, com o Miguel nos braços, faria tudo de novo. Tudo valeu a pena. Ver nosso filho ainda como uma célula no laboratório foi emocionante. A ciência nos deu a chance de sermos pais. A vida agora tem outro sentido”.
O embriologista ressalta que, mais do que técnicas laboratoriais, o processo exige preparo emocional. “A infertilidade não é culpa de um ou de outro. É um desafio do casal. Por isso, é importante ter uma equipe que ofereça suporte integral: físico e psicológico.”
Para casais que enfrentam a infertilidade, Rafael e Anna deixam um conselho: manter a união e não perder o foco no objetivo.
“Nem sempre vai ser fácil. Às vezes, não acontece como a gente imagina. Mas, com apoio, amor e paciência, é possível chegar lá. E, quando chega, é transformador.”
Juntos há 12 anos, Anna Karoline e Rafal Balbi sempre tiveram o sonho de serem pais. Eles precisaram passar por dois ciclos de fertilização in vitro até que a gravidez de Miguel se concretizasse
Arquivo pessoal
*Sob supervisão de Thaisa Figueiredo e Flávia Santucci
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