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“É um retrocesso. As vacinas de vírus inativado não podem ser aplicadas em pessoas imunodeprimidas, idosos ou gestantes — justamente os grupos mais vulneráveis”, explica Jean Gorinchteyn, infectologista e secretário de Saúde de São Bernardo do Campo (SP) ao G1.As vacinas de vírus inativado são produzidas a partir do vírus real, que é cultivado em laboratório e posteriormente “morto” por processos químicos ou físicos. Esse método, usado em imunizantes como o da febre amarela e da poliomielite, tem a vantagem de ser mais barato e fácil de armazenar. No entanto, gera uma resposta imunológica mais fraca e exige doses de reforço frequentes.Já as vacinas de RNA mensageiro representam um salto tecnológico. Elas não contêm o vírus, mas sim uma sequência de RNA com instruções para que o organismo produza uma proteína semelhante à do patógeno, ativando o sistema imunológico.Durante a pandemia de covid-19, as vacinas de mRNA, como as desenvolvidas pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna, permitiram uma resposta rápida e eficaz à emergência sanitária. Elas foram produzidas em tempo recorde, tiveram alto índice de eficácia e ajudaram a reduzir hospitalizações e mortes em todo o mundo.NegacionismoMesmo com esse histórico, o governo Trump insiste em alegações sobre a segurança dos imunizantes — o que, para especialistas, reflete uma agenda política alinhada ao movimento antivacina e não baseada em evidências científicas.Para a infectologista Luana Araújo, a medida é sintoma de uma “aliança entre ignorância e ideologia”, que nega avanços científicos comprovados e coloca em risco a saúde pública.“É uma decisão criminosa do ponto de vista sanitário. Nega os dados, o histórico da pandemia e o futuro das descobertas científicas”, afirma.Outro temor dos especialistas é que a decisão alimente ainda mais o movimento antivacina, que já vinha ganhando força nos EUA nos últimos anos.“Quando a hesitação parte de um líder de Estado, o impacto é muito maior. Isso gera medo, insegurança e afasta investidores”, afirma Stephen Stefani, oncologista da Oncoclínicas e da membro Americas Health Fundation.A alegação do governo de que vacinas mRNA seriam “instáveis” ou “inseguras” já foi refutada por diversas agências de saúde, incluindo a FDA (agência reguladora dos EUA), a OMS e estudos revisados por pares.“Não existe nenhuma comprovação científica de que essas vacinas causaram doenças graves. Isso é fake news”, reforça Fernando de Moura, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.O que pode acontecer agora?Ainda não se sabe se os estudos em andamento serão imediatamente interrompidos ou se o corte afetará apenas novos projetos. Mas o risco existe — e preocupa.“Se um paciente está com a doença controlada e o centro de pesquisa perde o financiamento, o tratamento pode ser suspenso”, alerta Moura.“Vamos levar o dobro do tempo para alcançar resultados que estavam próximos. E o sofrimento adicional dos pacientes estará nas costas de quem tomou essa decisão”, conclui Luana Araújo.