
Vídeo flagra gambá-de-orelha-preta predando caninana em área urbana
Um vídeo gravado recentemente mostrou um gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) predando uma caninana (Spilotes pullatus) em área urbana de Ilhabela (SP). Embora o comportamento não seja inédito para a ciência, os registros de gambás capturando serpentes de grande porte são raros.
O biólogo Gabriel Cupolillo, doutorando no programa de pós-graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o gambá é um animal onívoro e extremamente oportunista, com uma dieta variada que inclui frutos, insetos, pequenos vertebrados, ovos, fezes de animais e até lixo.
“Uma cobra do tamanho dessa caninana é um evento esporádico, que acontece quando ele tem a chance. Mas as serpentes fazem parte da dieta da espécie”, afirma.
A captura de serpentes peçonhentas pelo gambá já foi documentada, e o animal apresenta resistência à peçonha. Em alguns casos, ao ser mordido, ele pode perder os sentidos temporariamente, mas se recupera e retoma a predação de onde parou.
No caso da caninana (serpente não peçonhenta), o risco para o gambá é considerado baixo, já que, apesar de usar constrição para imobilizar suas presas, a força dessa espécie não é suficiente para conter um mamífero adulto.
Em alguns casos, ao ser mordido, o gambá pode perder os sentidos temporariamente, mas se recupera e retoma a predação de onde parou
Beatriz Medeiros
“O gambás e os marsupiais de uma forma geral têm um metabolismo mais lento do que os mamíferos placentários. Então, ele não tem uma agilidade muito grande para pegar as espécies. Acho que o que permite ele capturar essa cobra realmente é o comportamento oportunista dele de comer de tudo e conseguir se alimentar de tudo”, diz Gabriel.
Segundo ele, o registro de um gambás predando um bem-te-vi que estava debilitado chamou sua atenção recentemente. “O bem-te-vi deu mole e ele conseguiu pegar”.
Embora os gambás macho possam capturar serpentes um pouco maiores devido ao porte, não há evidências de que exista diferença significativa entre os sexos na frequência desse comportamento.
O especialista lembra que a presença do gambá nas cidades é benéfica. “É importante não atacar o animal quando ele aparece no quintal, porque ele ajuda no controle de animais peçonhentos, como escorpiões e serpentes. Em locais onde predadores maiores desapareceram, o gambá assume esse papel como mesopredador, ajudando no equilíbrio ecológico”, destaca.
Uma parceria entre Projeto Marsupiais e Herpeto Capixaba, resultou em uma nota científica sobre o caso na revista Herpetologia Brasileira.
Segundo os pesquisadores do projeto, esse foi o primeiro registro científico dessa predação, o que evidencia a importância da ciência cidadã na área da pesquisa e como estudos assim podem ajudar na conservação da natureza e vida selvagem.
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