Os Estados Unidos vêm ampliando tarifas e avaliações a quase 100 parceiros comerciais, incluindo países com vínculos econômicos com nações em conflito, como a Rússia. Essa estratégia, apresentada como instrumento de “proteção” e reposicionamento da cadeia de suprimentos, tem ampliado incertezas em mercados estratégicos — de energia a manufaturas — e levado governos a reavaliar rotas de importação e acordos bilaterais.
Índia sob pressão e o reflexo no Brasil
A Índia, compradora relevante de petróleo russo, tornou-se alvo de medidas adicionais, com a elevação projetada de tarifas que, segundo interlocutores, poderiam chegar a 50% para parte dos produtos exportados aos EUA. A leitura é que a iniciativa não foi bem recebida em Nova Délhi e deve provocar contraofensivas comerciais e diplomáticas.
No Brasil, que também importa petróleo russo, a percepção dominante é de que uma eventual nova elevação tarifária americana não mudaria substancialmente o quadro, porque os “táxons” já estariam em patamar tão alto que perdas marginais adicionais seriam limitadas. Para o setor privado, trata-se de uma política que, no limite, também onera a própria economia americana, ao forçar ajustes abruptos no portfólio de compras e elevar custos internos.
BRICS em foco: coordenação e “costura” de acordos
Entre países fundadores e membros do grupo BRICS, a avaliação é que todos sentiram os efeitos das medidas americanas em maior ou menor grau. A resposta tende a vir pela aceleração de novos acordos, maior integração logística e padronização regulatória entre China, África do Sul, Índia e Brasil, além dos novos integrantes. A agenda comum busca:
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Mitigar riscos tarifários com diversificação de destinos;
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Ampliar liquidações em moedas locais quando possível;
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Reforçar cadeias de energia e insumos para reduzir vulnerabilidades.
Encontro na Índia: pontes políticas e empresariais
Em reunião recente na Índia, com empresários e autoridades, o tom foi de aproximação prática: ampliar canais de investimento, remover gargalos alfandegários, harmonizar regras técnicas e priorizar projetos de energia e infraestrutura. A mensagem central: “vamos nos descobrir mutuamente” — agora por necessidade, não apenas por oportunidade comercial.
Ambiente político brasileiro: fator lateral
No front doméstico, temas de política interna — como a situação jurídica de ex-presidentes — não entram como parâmetro técnico nas decisões tarifárias externas. A leitura é que o Executivo não interfere no Judiciário, e que a política comercial dos EUA responde a objetivos estratégicos próprios, não a eventos isolados na política brasileira.
O que está em jogo para o Brasil
Para o Brasil, os vetores principais são:
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Energia: manter suprimento competitivo de petróleo e derivados, inclusive de origem russa, sem romper compromissos internacionais.
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Indústria: evitar perda de mercado nos EUA e abrir corredores alternativos com BRICS e outros parceiros.
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Câmbio e inflação: conter repasses inflacionários oriundos de custos logísticos e de importação.
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Diplomacia econômica: costurar acordos rápidos, previsíveis e que reduzam exposição a mudanças unilaterais.
Quadro-resumo — possíveis impactos e respostas
Eixo | Risco/Impacto potencial | Mecanismo de mitigação | Horizonte |
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Energia (petróleo) | Alta de custos e logística mais volátil | Diversificar origens; contratos de longo prazo | Curto |
Manufaturas | Perda de competitividade nos EUA | Acesso preferencial em novos acordos com BRICS | Curto/Médio |
Câmbio/Inflação | Pressão de preços importados | Hedge, estoques estratégicos, otimização tributária | Curto |
Diplomacia | Erosão de preferências tarifárias | Rodadas aceleradas de negociação bilateral/multilateral | Médio |
Regras técnicas | Barreiras não tarifárias crescentes | Harmonização regulatória e certificações | Médio/Longo |
Próximos passos
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Mapeamento fino de cadeias com maior exposição às tarifas;
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Prioridade a acordos de facilitação de comércio e redução de barreiras não tarifárias;
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Coordenação público-privada para calibrar ofertas e contrapartidas;
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Acompanhamento contínuo das medidas americanas e seus desdobramentos em mercados de energia e bens intermediários.
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