Álvaro Damião diz que projeto de tarifa zero nos ônibus em BH é ‘utopia’

O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (PSB), criticou o Projeto de Lei da Tarifa Zero (60/2025) no transporte coletivo da capital e classificou a proposta como “utopia” e “maldade” contra quem depende do ônibus. Segundo ele, a medida é inviável financeiramente e poderia trazer impactos negativos à mobilidade urbana.

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Em entrevista nesta segunda-feira (18), Damião afirmou que não há clareza sobre como a gratuidade seria financiada. “Quem vai pagar a conta? Já combinaram com as empresas de ônibus? Eles vão ceder motorista e diesel de graça? Isso não existe. Dar essa impressão para a população é criar uma expectativa que não tem como ser cumprida”, disse.

“O transporte público em Belo Horizonte, ele custa R$ 2,5 bilhões, aproximadamente, e pode chegar a R$ 3 bilhões. Por causa de aumento de combustível, aumento de salário daqueles que trabalham nas garagens, daquele que dirige o ônibus e tudo isso é muito difícil. E a planilha que apresentaram para a gente não tem sustentação nenhuma”, afirmou.

O prefeito também destacou que a gratuidade poderia dobrar a demanda por ônibus em BH, exigindo aumento da frota de 2,8 mil para até 5 mil veículos, o que, segundo ele, sobrecarregaria ainda mais o trânsito e elevaria os custos de manutenção da cidade. “Nada disso está previsto na conta. O que se apresenta hoje é uma utopia. Eu acho uma maldade muito grande você começar a discutir uma coisa que você sabe que não é viável”.

O projeto prevê que empresas com 10 ou mais funcionários paguem uma “Taxa de Transporte Público”, cujo valor seria destinado a um fundo municipal. Para o chefe do executivo, a proposta afastaria as empresas de BH: “Quem tem uma empresa com 10 funcionários ou mais vai tirar a empresa de Belo Horizonte. Para que que eu vou manter o CNPJ em Belo Horizonte se eu posso manter a sede em BH e levar o CNPJ para uma outra cidade. Quem vai agradecer são as cidades vizinhas que vão receber esses CNPJs”.

Damião também comentou a participação em uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater o projeto de lei que trata do marco legal do transporte público coletivo urbano no Brasil.

“Nós fomos a Brasília para poder buscar recursos do dinheiro federal, inclusive para ajudar os municípios, não só Belo Horizonte, a subsidiar a passagem, para não deixar a passagem aumentar mais e pesar no bolso daquele que utiliza todos os dias”, completou.

Tarifa Zero

O Projeto de Lei (PL) que autoriza a gratuidade no transporte coletivo por ônibus está prestes a ser votado ainda em primeiro turno no plenário da Câmara Municipal. Caso seja aprovado pelos parlamentares de forma definitiva e sancionado pelo prefeito Álvaro Damião (União Brasil), a capital mineira pode se tornar a maior cidade do país a instituir o passe livre, em todos os dias do ano e para todos os usuários.

Com 10 páginas e 22 autores, o Projeto de Lei da Tarifa Zero (60/2025) começou a tramitar no início da nova legislatura. Na redação original, a justificativa é de que o modelo de financiamento atual dos ônibus em BH sofre, há anos, por sua ineficiência. “O ciclo vicioso da tarifa não é novidade: quanto mais se aumenta a tarifa do ônibus, menos passageiros podem pagá-la, reforçando a necessidade de aumentos tarifários para fechar as contas, o que reduz ainda mais o número de passageiros no transporte público da cidade”, registra o PL.

De acordo com a proposição, há um incentivo para a diminuição da qualidade do serviço prestado, em termos de frequência e estado de manutenção da frota, que acaba também por afastar ainda mais potenciais usuários do sistema. “O modelo com remuneração tarifária incentiva um sistema de pouca qualidade, porque se torna necessário ter ônibus lotados e cortar linhas de horários e lugares pouco lucrativos para que os concessionários lucrem com o serviço”, justificam os autores do projeto.

Atualmente em BH, o transporte público por ônibus é sustentado pela tarifa paga pelo usuário (26,6%), pelo vale-transporte (31,8%) e pelo subsídio repassado pela Prefeitura às empresas (40,8%). Só em 2025, a expectativa é de que devam ser transferidos dos cofres públicos cerca de R$744 milhões às concessionárias.

Desde março de 2023, houve mudança no cálculo de repasse às empresas. Antes, o valor transferido pela Prefeitura levava em conta o número de passageiros. Agora, as concessionárias recebem por quilômetro rodado. Cada quilômetro custa R$10.

Por outro lado, pela legislação brasileira, as empresas devem custear a passagem do trabalhador e podem descontar até 6% do valor do salário. Em BH, ao receber o vale-transporte, o usuário paga entre R$2,75 e R$5,75 para ir ou voltar. Com a aprovação do PL da Tarifa Zero, as duas realidades para empregadores e empregados mudariam.

Pela proposta que tramita na Câmara:

> Empresas com 10 ou mais funcionários passariam a pagar uma “Taxa de Transporte Público”, cujo valor seria destinado a um fundo municipal, que já existe.

Todas elas teriam isenção até sobre o 9º funcionário. A partir do décimo, a ideia é que sejam consideradas diferentes faixas, em que empresas com 20 empregados contribuam por 11, 30 por 19, e assim sucessivamente.

> Em todos os casos, os cálculos apresentados no PL estimam que o empresário teria um custo médio mensal de R$168,82 por trabalhador.

> Não haveria desconto na folha de pagamento. E mesmo empresas que hoje não pagam o vale transporte, por escolha delas ou dos empregados (para não terem descontado o valor de 6%) teriam que pagar a taxa.

 “Com isso, o sistema de ônibus de Belo Horizonte passará a ser gratuito para todas as pessoas”, assegura o projeto.

De acordo com o texto, se aprovada, a Tarifa Zero, além de beneficiar as empresas, “uma vez que não haverá custo algum no caso de terem menos de 9 funcionários”, trará ganhos também para cidadãos e Prefeitura. “É esperado aumento do direito à cidade, inclusive com o potencial de existirem mais recursos disponíveis para gastos na economia local, uma vez que as famílias não terão de reservar orçamento para andar de ônibus”, prevê o projeto.

Para a prefeitura, o PL garante que haverá aumento da arrecadação, uma vez que o custo do sistema convencional e suplementar de transporte coletivo por ônibus, de ‘forma conservadora’, hoje é no valor de R$1,486 bilhão. “Já a taxa proposta visa arrecadar R$ 2 bilhões, uma vez que se prevê o aumento da demanda”.

“Há a possibilidade concreta de expansão, melhoria e financiamento total do sistema. A adoção da tarifa zero trará soluções sistêmicas e profundas, de necessidade urgente para a cidade de Belo Horizonte”, finalizam os vereadores.

Em julho, o BHAZ publicou reportagem especial em que explica o conteúdo do Projeto de Lei (PL), as justificativas e formas de financiamento que fundamentam a proposta. Em primeira mão, o portal apresentou dados e resultados preliminares de estudos conduzidos por instituições e entidades que se colocam tanto a favor quanto contra. A reportagem também investigou experiências semelhantes, já implementadas dentro e fora de Minas Gerais, e ouviu usuários do transporte, gestores públicos, empresários e especialistas. Um levantamento entre os vereadores também traz um Raio-X sobre o que pensam cada um deles.

Para ler a íntegra, clique aqui.

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