Tragédia com corredor retoma debate sobre drogas, direção e saúde pública

O caso do motorista, Cleydson Cardoso Costa, que atropelou o corredor Emerson Pinheiro, no último sábado, no bairro da Pituba, mais uma vez chama atenção da sociedade para os tão rotineiros acidentes (ou sinistros) de trânsito. Ainda que não tenha sido confirmada a embriaguez do suspeito – que não conseguiu fazer o teste do bafômetro e se recusou a fazer o exame de sangue – a defesa da vítima aponta que existem provas de embriaguez, como vídeos e testemunhos dos presentes no momento do acidente. Especialistas em segurança no trânsito alertam para o risco do uso de substâncias ao volante.Apenas em 2023 foram registrados 981 óbitos em sinistros de trânsito no estado, por uso de álcool, conforme dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). O número representa um crescimento de 12,6% em comparação com 2022 e uma taxa de mortalidade por álcool no trânsito por 100 mil habitantes superior à média nacional – 6,9% para a Bahia e 5,8% para o país.O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, Antônio Meira, ressalta que são diversos os efeitos do uso de substâncias e mais especificamente do álcool na direção. “Quase metade dos acidentes fatais tem o envolvimento do álcool e drogas na direção. Para dirigir um veículo motorizado é fundamental que a pessoa esteja em pleno gozo da sua capacidade física e mental. Pouca quantidade de álcool já tira o indivíduo desse estado. O álcool reduz os reflexos, a visão periférica, barreiras morais e faz perder a autocrítica”.Saúde PúblicaAs mortes no trânsito no estado são uma questão de saúde pública que exigem cada vez mais atenção, tanto que a Bahia alcançou seu pior índice dos últimos 25 anos em 2024. A média era de 8 óbitos por dia, o que é um aumento de 5,1% quando comparado com 2023 e um total de 2.993 mortes no ano, conforme dados reunidos pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).A presidente do Conselho Estadual de Trânsito da Bahia (Cetran), Mag Gramacho, ressalta que os óbitos no trânsito acontecem por uma série de atos equivocados, que são potencializados pelo álcool. Excesso de velocidade, uso de celular enquanto dirige, ultrapassagens perigosas em rodovias, todas potencializadas pelo consumo do álcool. Diante deste cenário, ela indica que a educação no trânsito é cada vez mais importante. “Precisamos de campanhas de trânsito mais assertivas. O Código de Trânsito precisa estar no currículo escolar como matéria interdisciplinar”, afirma.Atleta atropeladoO atropelamento aconteceu enquanto Emerson Pinheiro, de 29 anos, corria pela Pituba como treinamento para a maratona de Buenos Aires, marcada para setembro. Após a ocorrência, no último sábado, Emerson teve uma perna amputada, outra fraturada e foi internado no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador. Ontem, ele foi retirado da intubação. O motorista Cleydson Cardoso Costa, filho da vereadora de Salvador Débora Santana (PDT), foi preso em flagrante, com “sintomas de embriaguez”, aponta a defesa da vítima.

Atropelo de atleta indignou familiares, amigos e outros corredores, que mobilizaram doação de sangue

|  Foto: José Simões/Ag A TARDE

A advogada de Emerson, Losangela Passos, comenta o caso.“Ele (Cleydson) se negou a fazer o exame de sangue, mas acho que isso é assunto superado, porque temos outras provas contundentes. Vídeo dele cambaleando, demonstrando sinais de embriaguez, o perito diz ter sentido forte odor etílico, o depoimento dos policiais, dos agentes de trânsito, das testemunhas afirmando o estado de embriaguez dele”. A defesa do acusado não respondeu ao contato da Reportagem.O amigo de corrida de Emerson, Genildo Lawinscky, de 68 anos, fala sobre a situação. “Quando descobrimos a comoção foi geral. Ele estava correndo com o objetivo de ser professor de educação física, ia participar de uma maratona em Buenos Aires (Argentina), e, de repente, sofre um acidente e perde um membro que é essencial para a atividade dele”, diz. A notícia do atropelamento de Emerson gerou grande comoção em famíliares, amigos, colegas, na comunidade de corredores e no geral, que chegaram a se organizar para doar sangue para a vítima.

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