
A decisão do presidente Donald Trump de enviar navios de guerra à costa da Venezuela tem mais relação com estratégia política e econômica do que com risco real de intervenção militar, apontam especialistas ouvidos pelo podcast O Assunto.
Segundo Thiago Rodrigues, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, a manobra está inserida em um contexto mais amplo de pressão sobre governos latino-americanos, especialmente diante do crescimento da influência da China na região e das negociações em curso entre os países do BRICS — bloco que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — com incentivo à desdolarização das transações comerciais.
“Pode parecer desconexo falar de narcotráfico, crime organizado e, ao mesmo tempo, de comércio internacional e desdolarização, mas essas questões estão interligadas quando se trata de pressionar governos por todos os meios”, disse Rodrigues.
Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela
Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters
O especialista ressalta, entretanto, que é improvável que essa pressão se transforme em ação militar concreta, seja na Venezuela ou em outros países da região.
“A Venezuela não é um Estado falido. Possui forças armadas pró-governo e bem equipadas, o que dificulta qualquer operação americana direta”, explica.
Ele lembra que a manobra também serve para reforçar uma narrativa de combate ao narcotráfico e ao crime transnacional, que ganha ressonância junto a parte do público brasileiro.
Também fica evidenciada a complexidade das relações internacionais no continente. A manobra americana se soma à acusação formal de narcoterrorismo contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro e seus aliados, incluindo membros do alto escalão militar.
Para Rodrigues, a medida também cumpre um papel simbólico de pressão: “É uma forma de intimidação, de mostrar força, mas sem intenção concreta de iniciar um conflito”.
Enquanto isso, o governo venezuelano respondeu mobilizando milícias e reforçando sua capacidade militar, em um jogo de cena que evidencia a tensão entre retórica e realidade. No Brasil, a ação americana é observada com preocupação pelo governo, principalmente em um momento de intensificação das relações comerciais do país com a China e de protagonismo no BRICS.
O episódio evidencia ainda a complexidade das relações internacionais no continente. Enquanto o Brasil desempenha papel ativo no BRICS, movimentos americanos como o de Trump são vistos como tentativas de manter influência na região, utilizando ferramentas que vão desde a política econômica até a pressão militar simbólica.
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