Número de pinguins mortos passa de 800 no litoral de SP; entenda o fenômeno


Passa de 700 o número de pinguins encontrados mortos em praias do litoral de SP
O número de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) encontrados mortos no litoral sul de São Paulo passou de 800, segundo Instituto de Pesquisa Cananéia (Ipec). A quantidade corresponde aos pinguins encontrados mortos desde o dia 15 de agosto até este sábado (23) nas praias de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida.
As equipes continuam monitorando as praias do litoral sul paulista para registrar e contabilizar os animais que aparecem mortos à beira-mar. Na manhã deste sábado, os técnicos realizaram a biometria de nove pinguins em Ilha Comprida.
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A maior quantidade de pinguins mortos apareceu em Ilha Comprida, que possui 74 km de praias. Segundo o Ipec, 106 pinguins foram encontrados mortos nas últimas 24h. Eles se somam aos outros 739 que já haviam sido localizados. O último balanço, divulgado pelo Instituto, contabiliza 845 animais mortos em Iguape, Cananéia e Ilha Comprida.
Número de pinguins mortos passa de 800 no litoral de SP; entenda o fenômeno
Rinaldo Rori/g1
Exames
O Instituto explicou ao g1 que a maioria dos animais não vão passar por necrópsia, um exame capaz de identificar a causa do óbito. A ausência do procedimento é devido ao avançado estágio de decomposição dos animais.
Os animais passarão apenas por exame biométrico e registro técnico, com coleta de medidas, sexo e peso. Os pinguins serão enterrados em seguida, conforme prevê a legislação, segundo o Ipec.
“Só retiramos da praia e levamos para nossa base animais debilitados ou frescos (morte recente, em que ainda temos material para avaliar e chegar a uma causa da morte)”, destacou o Ipec, em nota.
Causas das mortes 🐧
Segundo especialistas, houve um “encalhe em massa”, ou seja, um alto registro de pinguins em avançado estado de decomposição que chegaram à beira da praia. Ao g1, especialistas pontuaram que eles parecem ser jovens e também podem ter sofrido influência de fatores como:
falta de alimento
interferência humana
interação com redes de pesca
O biólogo Alex Ribeiro destacou que os encalhes podem estar relacionados com a juventude dos animais – que aparentam ser jovens devido à falta de coloração definida. “Às vezes, na primeira viagem, não estão muito bem orientados, e acabam se perdendo”, disse. Ele pontuou que os animais podem ter se aproximado demais das praias, ficado à deriva no mar e sem alimentos.
Pinguins foram encontrados mortos em Ilha Comprida (SP)
Rinaldo Rori/TV Tribuna
Segundo ele, os pinguins também podem ter se aproximado da costa devido à influência humana. “Se os animais estão sujos de óleo ou se ingeriram lixo de alguma forma”, destacou Alex. O especialista destacou, no entanto, que a causa real da morte depende da análise necroscópica do animal.
O biólogo William Rodriguez Schepis destacou a possibilidade de interação com redes de pesca. “É um animal que não tem mercado, não tem valor econômico, então ele [pescador] já descarta no mar”, disse.
Alex pontuou que, mesmo com o alto número de exemplares, o caso pode se enquadrar no contexto da seleção natural. Na Patagônia argentina, região nativa da espécie, ele disse que podem ser encontrados mais de 1 milhão de pinguins. “Existe um descarte natural”, contou.
A aparição em um curto espaço de tempo também está relacionada ao período migratório do animal, quando deixam suas colônias na Patagônia argentina e nadam rumo ao norte, passando pelo Uruguai e chegando ao Sul e Sudeste do Brasil.
Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) registrou ‘encalhe em massa’ de pinguins-de-magalhães em Ilha Comprida (SP)
IPec/Divulgação
De acordo com Alex, a migração da espécie ocorre por meio da Corrente Tropical do Atlântico Sul, que eles utilizam em busca de alimentos. O período de migração da espécie ocorre entre os meses de junho e setembro.
“Como a viagem é muito longa, muitos chegam fracos, debilitados, não conseguem se alimentar o suficiente para fazer a viagem toda e acabam morrendo. Muitas vezes morrem em alto mar ou chegam bem fracos, bem debilitados na praia. Morrem na praia ou acabam sendo resgatados por grupos que fazem monitoramento de praia”, conta Alex.
O biólogo Rafael Santos disse, ainda, que as águas do Sudeste – principalmente ao norte – não oferecem a alimentação necessária para todos os pinguins, que costumam migrar em grupos de 10 a 15 mil animais.
“Tanto que a maioria que encalha tem características muito parecidas: São animais que estão magros e a grande maioria é filhote”, explica.
William, porém, destacou que não é comum a aparição de uma grande quantidade em curto espaço de tempo. “É um número expressivo. Uma quantidade bem grande, num período bem curto aí de tempo. Precisa estar fazendo uma análise mais aprofundada com as carcaças dos pinguins”, disse.
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