
Raul Rodrigues Costa Lages, acusado pela morte de Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, em depoimento à Justiça.
Reprodução
Réu pelo assassinato da advogada Carolina França Magalhães, de 40 anos, morta após ser arremessada do 8º andar de um edifício em Belo Horizonte, Raul Rodrigues Costa Lages entrou em contradição durante depoimento à Justiça na última semana.
Além disso, ele se recusou a responder os questionamentos formulados pela acusação – Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o advogado que representa a família da vítima. Ele se limitou às perguntas feitas por seu advogado de defesa e pela Juíza.
Raul Lages prestou depoimento na última quarta-feira (20). Ele se tornou réu por homicídio triplamente qualificado em novembro de 2024, após uma reviravolta no caso, que foi foi tratado como suicídio por dois anos. Ele não chegou a ser preso e espera o julgamento em liberdade. (relembre abaixo)
Durante a fase de investigações e elaboração do inquérito, Raul disse à Polícia Civil que, no momento em que Carolina caiu da janela, ele já estaria no interior do elevador do prédio, de onde teria escutado um “forte” barulho enquanto descia – sugerindo que fosse o impacto do corpo da vítima ao solo.
Em juízo, corrigiu-se para dizer que o barulho ouvido podia estar relacionado a fogos e torcida durante um jogo de futebol que ocorria naquela noite.
Tentando corrigir outras inconsistências do interrogatório na Polícia, Raul alegou ter ficado algum tempo na porta do apartamento arrumando sacolas que levava consigo antes de acionar o elevador.
As imagens de segurança do circuito interno de segurança demonstraram que ele acionou o elevador pelo menos quatro minutos após a queda.
Relações sexuais no dia do crime
Raul também mudou a versão sobre ter mantido relações sexuais com a vítima no dia da ocorrência. Laudos confirmaram a presença de esperma no corpo de Carolina.
À polícia, ele havia negado o contato. Mas à justiça, respondeu que sim, no período da manhã daquele dia. Vale destacar que o réu se recusou a fornecer material genético para ajudar na elucidação do caso.
Questionado sobre o consumo de entorpecentes, o réu respondeu que não utilizava substâncias ilícitas. Entretanto, durante uma ação de busca e apreensão no imóvel onde Raul residia, drogas foram encontradas no quarto dele. Raul, então, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Em nota, o advogado Maurício Campos Júnior, que representa a família da vítima, afirmou que o interrogatório de Raul Lages retratou uma realidade paralela que não encontra aderência à prova do processo.
“Atacar a condição emocional da vítima, culpar sua família e colocar-se como companheiro solidário e razoável é fazer pouco da memória de Carolina e da incontroversa relação abusiva que o réu mantinha com ela, Testemunhas, antigos áudios, mensagens escritas e e-mails, além da prova pericial, apontam para o covarde feminicídio. Não será o seu fantasioso depoimento, que não se dispôs a enfrentar perguntas da acusação, suficiente para livrá-lo da inevitável condenação amparada nos demais elementos de prova do processo”, destacou Campos Júnior.
O g1 procurou a defesa de Raul Lages, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
RELEMBRE: Fantástico tem acesso às câmeras de segurança que registraram morte de advogada em MG
PM que atendeu ocorrência de advogada morta ao cair do 8º andar diz ter sido orientado a liberar namorado da vítima
Raul Rodrigues Costa Lages
Reprodução/OAB-MG
Reviravoltas do caso
O caso foi tratado como suicídio por dois anos. Em novembro de 2024, Raul Lages virou réu por homicídio triplamente qualificado. Ele não chegou a ser preso e espera o julgamento em liberdade.
A família de Carolina apontou diversas falhas na investigação, que provocaram reviravoltas no caso e levaram Raul Lages a se tornar réu pelo possível feminicídio.
“Eu soube dos porteiros do prédio que ninguém tinha puxado as imagens antes de eu ir lá e pedir o acesso. Isso foi depois do sepultamento da minha irmã, que foi no dia seguinte”, disse o irmão de Carolina, Demian Magalhães.
“Os porteiros me disseram que a polícia, na noite do crime, não tinha tido acesso a essas câmeras, e eles poderiam constatar, se quisessem, que a narrativa que ele estava apresentando no momento das alegações iniciais, de lavratura do boletim de ocorrência, não batia com a realidade”, afirmou.
Imagens contradizem versão do réu
As imagens contradizem a versão de Raul Lages, que disse à polícia que não estava no apartamento quando Carolina caiu.
O sensor da câmera da área de lazer do prédio marca o horário da queda: 23h10. Somente quatro minutos depois, Raul aciona o elevador para o oitavo andar, e entra carregando duas sacolas aparentemente pesadas.
“As câmeras têm que ser o primeiro ato de uma investigação. Se elas flagraram algum momento, ali de um ato criminoso, ou possivelmente criminosos, ela deveria ter sido solicitada de imediato”, explicou o presidente do Instituto de Proteção das Garantias Individuais (IPGI), Carlos Eduardo Gonçalves.
Carolina da Cunha Pereira França Magalhães
Reprodução/redes sociais
Ferimentos provocados antes da queda
A família também aponta falhas no laudo da necrópsia. O irmão de Carolina diz que uma foto mostrando um corte profundo na cabeça da advogada foi anexada ao laudo de levantamento de local. No entanto, o ferimento foi omitido no documento da necropsia.
A reportagem teve acesso ao documento, que foi mostrado pelo médico perito Fernando Esbérard. Ele afirma que o corpo apresentava lesões que podem ter sido provocadas antes da queda e, provavelmente, Carolina estava viva quando foi jogada do oitavo andar.
“Esse ferimento corte contuso na região da cabeça dela pode ter sido provocado por um impacto dela contra uma parede. Inclusive foram achados vestígios de sangue na porta do banheiro. O que chama atenção também são as lesões nas costas da vítima”, disse Esbérard, que é membro especialista da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícia Médica de Minas Gerais.
Esse ferimento, uma vez que a queda causou impacto do lado esquerdo do corpo, dificilmente foi causado pelo baque. Importante a gente ressaltar também que […] ela ainda estava viva, porque muitos desses ferimentos apresentam reação vital”, afirmou Esbérard.
Sacolas e mochila sem perícia
As imagens de câmeras de segurança mostraram Raul Lages saindo do prédio carregando as sacolas e a mochila poucos segundos depois de ver Carolina morta.
O inquérito policial destacou que as “sacolas deveriam conter objetos de crucial importância para Raul, que mantém as mesmas consigo mesmo diante da visão trágica e desesperadora de sua mulher ao solo”.
Depois de ver o corpo de Carolina, o advogado guarda as sacolas e mochila no porta-malas e chega a arrancar com o carro. A luz de um giroflex aparece na esquina e ele então volta a estacionar o carro. Familiares acreditam que ele só retornou por acreditar que a iluminação vinha de alguma viatura da polícia, mas era de uma ambulância.
As sacolas, mochila e celular de Raul nunca foram periciadas pela Polícia Civil. A busca e apreensão na casa do acusado foram feitas onze meses depois da morte de Carolina.
Imagens exclusivas mostram últimas horas de vida da advogada
Carolina da Cunha Pereira França Magalhães morreu aos 40 anos
Reprodução/redes sociais
LEIA TAMBÉM
Quem é advogada morta após cair do 8º andar de prédio; suspeito do crime é o namorado
Justiça nega pedido de autópsia psicológica em advogada que caiu do 8º andar de prédio
Homem vira réu suspeito de jogar namorada do 8º andar de prédio; caso era tratado como suicídio
Vídeos mais assistidos do g1 Minas