Cruzeiro e Atlético entram em campo nesta quarta-feira (27), na Arena MRV, pelo jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil. Mais do que aspectos técnico e tático, o clássico carrega uma carga emocional que pode definir o rumo da partida. A pressão da rivalidade histórica, o peso da competição nacional e o ambiente de arquibancada fazem com que controlar a mente seja tão importante quanto mostrar habilidade com as pernas.
Segundo o professor e psicólogo do esporte Edson Filho, da Boston University, a ansiedade é um fenômeno natural em jogos dessa dimensão. “Se é um jogo importante, é normal sentir ansiedade. O ponto é como o atleta interpreta esse sentimento: pode ser energia psíquica para se preparar e performar, ou ela vira um peso que paralisa”, afirma.
Essa ansiedade, acrescenta o pesquisador, manifesta-se de duas formas: somática, quando o corpo responde com aceleração do coração, tremores ou frio na barriga; e cognitiva, ligada a pensamentos repetitivos e autocrítica. Ambas são relacionados a atuação do sistema nervoso central e autônomo diante da percepção de pressão competitiva.
Em outras palavras, isso significa que um jogador pode sentir o corpo “pesado” ou perder a precisão em movimentos simples, como um passe ou finalização, por causa da ansiedade. Do mesmo modo, pensamentos negativos podem atrapalhar a tomada de decisão rápida, essencial em lances decisivos. A ansiedade interfere com a concentração e o atleta pode ficar mais propenso a cometer erros que não costuma cometer em treinos ou jogos de menor pressão.
O desafio de lidar com a pressão
No futebol, a preparação mental ainda carrega estigmas, sobretudo no universo masculino, onde buscar apoio psicológico pode ser visto como fraqueza. No entanto, lembra Filho, a psicologia do esporte é uma ciência consolidada, com mais de um século de pesquisas e práticas reconhecidas mundialmente. “Não se trata apenas de tratar problemas clínicos, mas de intervenções proativas: trabalhar autoconfiança, foco, coesão de grupo e até mesmo periodizar o treinamento mental como se faz com o físico”, afirma.
Exemplo dos efeitos da pressão sobre o organismo de um atleta pode ser percebido nas reações do tenista João Fonseca, de apenas 19 anos, promessa do tênis brasileiro que vem arrancando elogios dos principais nomes do esporte, como o maior campeão da história, o sérvio Novak Djokovic. Na primeira partida do torneio grand slam US Open, Fonseca em quadra vomitou durante o duelo contra Miomir Kecmanovic. “A primeira rodada é sempre um pouco mais tensa, e hoje me senti um pouco mais enjoado no terceiro set”, afirmou o brasileiro, que, apesar da juventude, diz adorar a pressão do esporte.
Algo semelhante se passava com o ex-atacante do Atlético, Luan, o Menino Maluquinho, que, por repetidas vezes, relatava ter vomitado no estádio. Em 2014, no dia da final entre Atlético e Cruzeiro pela Copa do Brasil, ele relatou a tensão da noite que antecedeu o clássico. “Já vomitei uma vez, tomei três banhos… Na hora do jogo, mais uma vomitada e vamos “brocar” hoje se Deus quiser. Dormi nada ontem, mas vamos que vamos”, disse Luan.
Fatores que influenciam
A influência da mente também aparece em fatores típicos de grandes jogos. Jogar em casa, por exemplo, costuma aumentar a probabilidade de vitória em qualquer jogo, mas pode se tornar uma armadilha em duelos grandes e decisivos. O excesso de expectativa faz com que alguns times atuem “para não perder”, em vez de jogar “para ganhar”, o que tende a gerar erros.
Episódios como goleadas históricas, lembra o doutor em psicologia do esporte, muitas vezes acontecem após uma quebra de coordenação coletiva (quando o grupo/time saí do equilíbrio) provocada por eventos críticos — uma expulsão, um erro de arbitragem ou um gol sofrido em sequência. E no caso do clássico mineiro, a rivalidade amplifica cada detalhe.
Para Edson Filho, a motivação pode se dividir entre quem joga para vencer e quem entra em campo apenas para evitar a derrota. A diferença em confrontos de alto nível pode estar justamente na forma como atletas e comissão técnica lidam com esses fatores psicológicos. “É preciso preparar os jogadores para momentos de adversidade, antecipar cenários críticos e oferecer ferramentas mentais para manter o equilíbrio. Isso otimiza o rendimento e o bem-estar, em vez de apenas apagar incêndios quando a crise já está instalada”, completa.
Em campo, portanto, não estarão apenas os maiores clubes de Minas Gerais, mas também dois elencos que precisarão demonstrar preparo mental para suportar a pressão de um duelo que transcende os 90 minutos. Afinal, no clássico, a cabeça pode pesar tanto quanto a bola.
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