Municípios do Portal do Sertão têm vocação natural para a pecuária

A vocação natural para a pecuária ainda é fator de grande relevância para o desenvolvimento econômico e social de Feira de Santana e demais municípios do Território de Identidade Portal do Sertão. A atividade é tão tradicional na região, que lhe rendeu o codinome de ‘terra das boiadas’.A cidade tem este nome em alusão as feiras de animais que aconteciam na localidade, que nasceu como um entreposto para onde convergiam as caravanas de tropeiros com suas boiadas, vindas dos sertões para o litoral mais povoado. Também contribuiu para a nomenclatura do município a devoção à Nossa Senhora Santana, cuja primeira capela foi construída antes da povoação, na fazenda que existia neste lugar.Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Humberto Miranda reforçou a importância da atividade para a interiorização da população no estado, que tem um rebanho bovino estimado em 15 milhões de animais. Miranda salientou que ainda hoje a atividade continua “extremamente relevante do ponto de vista da economia, da geração de emprego e renda”.Ele também evidenciou a qualidade genética do rebanho estadual, afirmando que tanto o gado de leite quanto o de corte da Bahia são referência nacional, assim como a caprinovinocultura, que tem no estado os maiores rebanhos do país.No final de julho, o território Portal do Sertão somava um rebanho bovino de 252.580 cabeças, com destaque para Feira de Santana, com 63.505 bovinos registrados pelo Sistema de Defesa Agropecuária da Bahia (Sidab/Adab). O sistema apontava ainda um total de 20.919 suínos, 70.881 caprinos e 24.812 ovinos nesta região.Embora atualmente outras atividades econômicas, como indústria, comércio e serviços, dividam a responsabilidade econômica com a pecuária, a criação de gado primária ainda é forte, tendo como um dos fatores de desenvolvimento a criação há cinco décadas da Cooperativa Pecuária de Feira de Santana (Cooperfeira).Com cerca de 800 bovinocultores cooperados, a instituição possui há 34 anos o Frigorífico Feira de Santana (Frifeira) que absorve a produção bovina de 156 municípios baianos, com média de abate/mês entre 6 mil e 7 mil cabeças.“A Bahia é autossuficiente na produção de carne bovina’, afirmou o presidente da Cooperfeira, Beto Falcão, salientando que o município continua a exercer a função de entreposto no caminho dos bois entre as fazendas e o mercado consumidor, passando agora pelo Frifeira.Com cerca de 300 empregos diretos e entre 600 a 700 indiretos, o produto do frigorífico é dirigido principalmente para as regiões metropolitanas de Salvador e a região de Feira. Segundo Falcão, atualmente grande parte das fazendas criadoras de bovinos que fornecem animais ao Frifeira está nos municípios do Recôncavo. “Onde antes tinha cana-de-açúcar, eles estão botando pasto e criando gado. O boi ocupou o lugar na cana”.Dentre outros processos adotados na atividade pecuária nos últimos anos, o melhoramento genético com seleção dos melhores animais para reprodução é apontada por ele como determinante para turbinar os resultados. O pecuarista exemplificou, destacando que há 100 anos os animais eram abatidos, em média, quando pesavam entre 12 e 13 arroubas. Atualmente, a média é 20 arroubas.

Pecuarista Luiz Alberto (Beto) Falcão, presidente da Cooperativa Pecuária Feira de Santana Ltda (Cooperfeira)

|  Foto: Azevedo Filho Arte / Divulgação

A bolsa do boi que funcionava em um caféNos idos de 1950, quando foi aberto o Café São Paulo na praça da Bandeira, o preço da arroba do boi gordo era assunto corriqueiro entre seus frequentadores, pois a pecuária bovina era o principal produto da economia de Feira de Santana e municípios vizinhos. Enquanto as boiadas vindas dos sertões descansavam no Campo do Gado, era no café que muitos negócios eram fechados.Há 75 anos aquela região da cidade concentrava comércios diversos e por suas ruas passavam fazendeiros, tropeiros e boiadeiros, profissionais liberais e as famílias que prosperavam com o crescimento da cidade. As casas de louças, de tecidos, o armarinho, a padaria e a farmácia eram estabelecimentos próximos que, com outros comércios e o Café São Paulo, movimentavam o centro antigo.Naquele tempo, o local era um ponto de encontro que fez parte da história em uma Feira de Santana que era famosa no Brasil por determinar a cotação do boi, cujos valores eram anunciados em grandes jornais e nas emissoras de rádio de todo país.Além do café, que espalhava seu cheiro apetitoso pelas ruas históricas, o local era procurado pelo desfrute das demais companhias, para conversas amenas e acalorados debates sobre economia e política.Mas, o que mais atraia eram mesmo as discussões sobre a atividade pecuária, notadamente pelos homens de negócios ligados à criação comercial, ao transporte das boiadas, bem como a compra e venda para os abatedouros do litoral, onde ficava o principal mercado consumidor.Fechado há cerca de 15 anos, segundo o pecuarista Beto Falcão, o Café São Paulo deixou seu nome marcado na história econômica feirense. Ele pontuou que as boiadas que vinham de outros municípios ficavam no ‘Campo do Gado’, onde compradores e vendedores começavam as conversas, que depois terminavam no emblemático Café São Paulo.

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