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Show de Lobão no TCAA noite na Concha Acústica também será a oportunidade de mostrar um pouco das músicas do seu próximo projeto, o álbum Vale da Estranheza. O nome é inspirado em uma síndrome real, caracterizada pela sensação de desconforto que surge quando pessoas encontram algo não-humano que simula a aparência humana. “Eu acho que quando esse disco estiver pronto, eu quero que a pessoa que comece a ouvir ele de cabo a rabo tenha a sensação de que ela vai pegar uma asa enorme, colocar nas costas e sair voando”, garantiu.Além da robótica, outro tema que será importante dentro desse projeto é a desterritorialização. Se autoproclamando alguém sem lado políticos, o compositor considera que todo “engavetamento é um reducionismo”. “O disco é uma ode a desterritorialização. Eu sou um homem completamente desterritorializado, eu não tenho pátria, time de futebol, partido político, turma, religião, eu não tenho nada marcado no Universo que possa dizer ‘isso aqui eu começo, isso aqui eu termino’”, afirmou.A viagem de volta a Salvador também possibilitou que o músico explorasse ainda mais sua criatividade. Foi durante as viagens, principalmente no Nordeste, que Lobão compôs suas novas produções. “A região Nordeste toda eu estava há muitos anos sem ir. Desde o final do ano passado eu visitei muito o interior de Pernambuco, do Ceará, fui várias vezes lá agora. Eu compus muita coisa na viola caipira e muita coisa que está me influenciado são os lugares em que eu estou indo”Falando sobre a Bahia, além de desafetos, a terra também é fruto de muita inspiração. O compositor rasgou elogios à cultura do estado. “Eu acho que o cenário da música baiana é de uma riqueza. Eu tenho uma paixão pela música do Recôncavo Baiano, o violão do Recôncavo é uma coisa que eu tenho admiração. Eu gravei o Expresso 2222 do Gil, depois eu estudando vi que aquela levada de violão é típica do Recôncavo. Tem o Luiz Caldas, que é um gênio, uma pessoa que eu admiro para caramba”, acrescentou.Lobão começou a carreira ainda jovem e com 17 anos entrou na banda Vímana, ao lado de nomes como Lulu Santos, Patrick Moraz e Ritchie. Ao longo de 50 anos de carreira, colecionou diversas polêmicas, seja no mundo da música ou na política. Entretanto, a opinião pública nunca o impediu de tecer seus comentários ácidos. “Se eu fosse me preocupar com esse tipo de dilema, eu seria um canalha, porque o artista é feito para provocar. Você está ali para provocar, se você não é um provocador enquanto artista, você é um mero entretor. A posição gravitacional de um artista é provocar quem está observando sua arte”, comentou.Sobre o cenário atual do rock, o cantor fez como Pilatos e resolveu lavar suas mãos. Mesmo que não se preocupe com o que acontece com a cena, ele parece ter uma visão otimista sobre como está o rock no Brasil. “Eu estou olhando para o meu próprio umbigo. Acho que estou em um momento raro para minha história como compositor, eu tô percebendo que estou fazendo um repertório de um disco que vai ser um marco. Posso concluir que, se eu tô bem, o rock está bom. Se eu estou melhor do que nunca, então o rock está melhor do que nunca”, argumentou.Se o tempo é rei como diz Gilberto Gil, talvez ele tenha transformado a forma de viver de Lobão. O artista vive uma nova fase em sua carreira, estando focado apenas em produzir o seu próximo álbum. Apesar disso, a ferocidade de um lobo ainda continua andando ao seu lado. “Eu não me sinto uma pessoa domesticada atualmente, eu simplesmente sinto que estou um pouco mais inteligente do que era. Estou artisticamente mais refinado, posso produzir coisas bem mais provocativas e bem mais eficazes em relação a provocação que eu vou lançar no ar”, contou.Lobão e críticas a Caetano e GilA relação do músico com Caetano Veloso e Gilberto Gil foi repleta de altos e baixos. Lobão já disparou algumas críticas contra os dois baianos, seja por suas produções musicais, seja por opiniões políticas. No passado, o roqueiro se referiu a ambos como membros da “máfia do dendê”, expressão popularizada pelo jornalista Cláudio Tognolli e que abrange os artistas da MPB que exercem influência no cenário musical brasileiro.Em 2016, as coisas entre os três ficaram mais calmas, com Lobão pedindo desculpas para os dois e reconhecendo o talento de ambos por meio de uma carta aberta publicada no Facebook. Apesar de considerá-los grandes artistas, ainda existem alguns pontos sobre os dois que não agradam muito ao roqueiro. “Os meus sermões com eles continuam os mesmíssimos. Eu sempre deixei claro que eu acho eles artistas excelentes, mas não significa que eles sendo artistas excelentes que eu vá concordar com determinados tipos de conduta, determinados tipos de atitude”, afirmou.O cantor é uma verdadeira afronta a qualquer tipo de visão binária. Defensor de que a vida é algo complexo demais para ser definida por binarismos, o dono dos hits “Me Chama” e “Rádio Blá” argumenta que é completamente possível gostar de alguém e discordar dela. “Você não pode chegar assim ‘esse cara é isso, então tudo eu vou colocar num pacote e detonar o cara’. Eu acho que isso é muito burro, mesquinho, cruel e não é legal”, acrescentou.Quase dez anos depois, a postura do autor da carta aberta não parece ter mudado. A admiração pelos gigantes da MPB continua a mesma, apesar de reiterar que não concorda com certos posicionamentos políticos dos baianos. “Eu acho que o mais honesto na vida é você ter essa multiplicidade de facetas, ainda mais em um artista, que tem essa riqueza de facetas e que às vezes você pode concordar e as vezes não. Não é tudo que eu acho sensacional no Caetano e no Gil, mas acho eles excelentes artistas e tenho ‘mó’ respeito como artistas”, completou.Para o álbum “Canções de Quarentena”, o roqueiro gravou tanto “Expresso 2222”, de Gilberto Gil, quanto “Você Não Entende Nada”, de Caetano Veloso, o que mostra o seu reconhecimento pelo trabalho de ambos. Mesmo com as discordâncias políticas, o ex-Blitz defende que é difícil não ter um laço afetivo com os baianos. “Você tem uma memória afetiva desses caras que é inevitável você ter um sentimento até de parentesco, de família, a pessoa que te acompanha na vida o tempo todo”, contou.
Serviços
CONCHA PARA TODOS | LOBÃO: 50 ANOS DE VIDA BANDIDA
Quando: 11 de abril (sexta-feira), às 19h
Onde: Concha Acústica do TCA (av. Alberto Pinto, 11, Campo Grande)
Quanto: R$ 45 (meia) e R$ 90 (inteira), com vendas na bilheteria do TCA e pelo Sympla
Classificação: 18 anos