O filme “Iracema – Uma Transa Amazônica”, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, volta aos cinemas brasileiros no dia 17 de julho, agora em versão restaurada. A nova cópia será distribuída pela Gullane+, marcando o relançamento de um dos filmes mais contundentes da cinematografia nacional. A restauração foi realizada na Alemanha e contou com a coordenação técnica de Alice de Andrade, além do apoio de instituições como CTAV, IMS, PUC-Rio, Mnemosine, Instituto Guimarães Rosa e Cinemateca Brasileira.
Uma estrada, duas visões e muitas urgências
Lançado em 1974, o filme mistura ficção e documentário para denunciar os efeitos sociais e ambientais da construção da Rodovia Transamazônica. A narrativa acompanha Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente de 15 anos que chega a Belém durante o Círio de Nazaré. No entanto, em vez de um novo começo, ela é tragada para a prostituição. Em seguida, embarca em uma viagem ao lado do caminhoneiro Tião Brasil Grande, símbolo da fé cega no progresso prometido pela ditadura militar.
Enquanto Tião representa o sonho desenvolvimentista, Iracema revela o outro lado: a exploração, a exclusão e o abandono. Essa dualidade dá ao filme uma força crítica que segue relevante até hoje.
“Retratar a Transamazônica de forma realista, em 1974, representou um grande risco. Enfrentamos anos de censura e lutamos para que o filme chegasse ao público. Hoje, IRACEMA mostra uma realidade ainda urgente. Talvez até mais do que na época, quando a estrada simbolizava o sonho do ‘Brasil grande’”, afirma o diretor Jorge Bodanzky.
Da censura ao reconhecimento internacional
Embora tenha sido censurado no Brasil até 1981, o filme ganhou destaque internacional e entrou para a lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Abraccine. Em 2024, durante o Festival do Rio, uma exibição comemorativa marcou os 50 anos da obra.
Ao longo de sua trajetória, o filme recebeu diversos prêmios. No Festival de Brasília de 1980, venceu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Edna de Cássia), Melhor Atriz Coadjuvante (Conceição Senna) e Melhor Edição (Eva Grundman e Jorge Bodanzky). Além disso, conquistou reconhecimento fora do país, como o Prix George Sadoul (França), o Adolf Grimme Preis (Alemanha), o Encomio Taormina (Itália) e o Prêmio Especial no Festival de Cannes.
Um filme necessário — ontem e hoje
Agora, com a distribuição da Gullane+, o relançamento busca ressignificar a memória de um filme que continua necessário. Ao mesmo tempo em que revisita o passado, “Iracema” nos obriga a olhar para o presente. Afinal, muitos dos temas abordados — como a devastação ambiental, o abandono social e as falsas promessas de desenvolvimento — ainda fazem parte da realidade brasileira.
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