Fazenda prevê economia em alta em 2025, mas inflação castiga os mais pobres

O Ministério da Fazenda divulgou nesta semana uma nova edição do Boletim Macrofiscal, trazendo uma leve elevação na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano de 2025. A estimativa subiu de 2,3% para 2,4%, sinalizando um otimismo moderado por parte da equipe econômica com a atividade do país nos próximos meses.

Apesar do ajuste parecer tímido — apenas 0,1 ponto percentual — a revisão mostra uma tentativa do governo de reforçar uma narrativa de resiliência econômica, mesmo diante de um cenário de juros altos e inflação resistente. A projeção para 2026 também foi elevada, passando para 2,5%.

Inflação prevista em 5% supera o teto da meta

Em contrapartida, o governo também revisou para cima a estimativa da inflação oficial medida pelo IPCA, de 4,9% para 5% no fim de 2025. O número supera o teto da meta fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5%, acendendo um alerta sobre o impacto do custo de vida, especialmente para as famílias de menor renda.

Especialistas ouvidos por canais de análise econômica apontam que essa inflação tem efeito particularmente perverso sobre os mais pobres, que destinam uma parcela maior da renda a alimentos, transporte e energia — itens que tendem a sofrer reajustes acima da média.

Mercado mais cético com o ritmo de crescimento

Enquanto o governo aposta em uma expansão de 2,4%, o mercado financeiro permanece mais conservador, com expectativas girando em torno de 2%. A diferença entre as projeções revela uma tensão entre a narrativa oficial e a percepção dos agentes econômicos.

Analistas destacam que parte da melhora do PIB vem do aumento dos investimentos públicos e estímulos via crédito, como programas habitacionais e empréstimos subsidiados. No entanto, alertam que esses mecanismos geram efeitos colaterais ao injetar dinheiro na economia em um ambiente de inflação elevada.

Déficit primário revisto: melhora contábil ou sinal fiscal?

Outro dado divulgado no boletim foi a revisão do déficit primário do governo. A nova estimativa reduziu o rombo de R$ 80 bilhões para R$ 72,7 bilhões. Embora isso possa ser interpretado como uma melhora fiscal, comentaristas apontam que sinais de “contabilidade criativa” por trás da mudança, com receitas extraordinárias e reclassificações contábeis ajudando a fechar a conta.

A percepção é que o ajuste não decorre de uma reforma estrutural ou corte de gastos, mas sim de manobras temporárias, o que pode comprometer a confiança no médio e longo prazo.

Juros devem seguir altos por mais tempo

Em paralelo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicou que a taxa de juros deve permanecer em patamar elevado por um período mais prolongado. A decisão visa controlar uma inflação persistente, mesmo com impactos negativos sobre o crédito e o consumo.

A política monetária apertada tem travado setores como o varejo e a indústria, limitando investimentos e freando a geração de empregos. Ainda assim, é considerada necessária diante da dificuldade de manter os preços sob controle em um cenário internacional ainda instável.

Dependência do Estado segue alta

Outro fator de preocupação é a forte dependência da economia brasileira em relação ao investimento público. O crescimento recente do setor imobiliário, por exemplo, foi impulsionado por programas governamentais, em vez de surgir como resposta natural do mercado.

Especialistas defendem que o país precisa estimular reformas estruturais, como a administrativa e a tributária, para garantir um crescimento sustentável, reduzir desigualdades e ampliar a produtividade — elementos que não se resolvem com medidas pontuais.

A elevação da projeção do PIB para 2025 oferece um alívio momentâneo ao governo, mas não afasta os desafios de fundo da economia brasileira. Com uma inflação acima da meta, juros altos e dependência do Estado para alavancar investimentos, o país ainda caminha sobre uma base frágil.

Mais do que revisar números, será preciso encarar de frente os entraves que limitam o crescimento de longo prazo e impedem que o avanço econômico se reflita na melhoria da qualidade de vida da população.

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