Uma nova marca de carros elétricos começará a ser produzida no Brasil a partir do segundo semestre de 2025, que traz um diferencial inédito para o segmento: câmbio manual. A proposta, pouco comum em veículos elétricos – que, por padrão, não exigem embreagem para se movimentar –, tem como foco atender, principalmente, ao mercado de Centros de Formação de Condutores (CFCs), as populares autoescolas.
A tecnologia é desenvolvida pela montadora chinesa JMEV (Jiangling Motors Electric Vehicle) – que tem como sócia a Renault – em parceria operacional com a E-Motors, empresa fundada pelos empresários mineiros Mercídio de Souza Givisiez e Rodrigo Pereira de Freitas. Ambos atuam no setor de autoescolas na cidade de Divino, na Zona da Mata mineira, e decidiram investir na inovação como solução para os desafios do setor.

O marco inicial do projeto do carro elétrico com câmbio manual aconteceu nesta terça-feira, 27 de maio, com a assinatura oficial da parceria durante solenidade em um hotel de Belo Horizonte. Executivos da JMEV vieram da China especialmente para o evento, entre eles o presidente do grupo, Qiu Tiang; o presidente da Huaqi (HK) Internacional, Peace Lau; e o governador da cidade de Nanchang e membro do alto escalão do Partido da Província de Jiangxi, Li Hongjun, além de outras autoridades chinesas.

Embora idealizado por mineiros, o projeto do carro elétrico será implantado no Espírito Santo: a linha de montagem em sistema SKD (semi knock-down, ou seja, com carros desmontados) será instalada na cidade de Jaguaré, norte do estado. A E-Motors será responsável pela produção local de dois modelos compactos e 100% elétricos: o EV2 e o EV3 – ambos com câmbio manual, mas sem sistema mecânico tradicional.
Na prática, a transmissão é eletrônica e simula o funcionamento de uma caixa manual. Isso permite que os veículos sejam homologados para uso em autoescolas, onde o ensino da troca de marchas é obrigatório. CEO da E-Motors e dono de quatro CFCs em Divino, Mercídio Givisiez destaca o impacto econômico da iniciativa.
“O maior gargalo dos CFCs é o custo operacional. Com os elétricos com câmbio, vamos conseguir reduzir bastante. Uma carga completa custa em média R$ 12,80 e permite realizar até 24 aulas práticas – o equivalente a um tanque de combustível em um carro a etanol, que custa cerca de R$ 250,00”, compara o empresário.
Além da economia com combustível, os modelos elétricos oferecem outros benefícios: não exigem troca de óleo, filtros, embreagem ou manutenção de componentes mecânicos tradicionais, o que reduz ainda mais os custos. “Sem contar que são veículos sustentáveis, sem emissão de poluentes”, ressalta Givisiez.
Alguns protótipos do carro elétrico EV3 estão no Brasil desde 2024 e já foram testados e homologados pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). De acordo com o cronograma da E-Motors, a produção nacional terá início em setembro de 2025, com os primeiros modelos saindo da fábrica capixaba.
A expectativa da empresa é montar até 5 mil unidades por ano, com uma meta inicial de 400 veículos nos primeiros meses. Os preços devem girar em torno de R$ 75 mil para o EV2 e R$ 95 mil para o EV3.
Apesar do foco inicial ser o mercado de CFCs – que conta com cerca de 18 mil unidades registradas nos Detrans e uma frota de 360 mil veículos –, os carros também poderão ser comercializados para outros segmentos, como transporte por aplicativo, entregas urbanas e até para uso particular.
Fundado em 1947, o grupo JMEV emprega 30 mil pessoas e está entre as 500 maiores empresas da China. Conta com 30 subsidiárias, incluindo cinco fábricas de veículos, três de veículos especiais, 21 de autopeças e dez empresas do setor financeiro. Parceira da Renault, a empresa tem 85% de automação em suas linhas e capacidade de produção de até 300 mil veículos por ano, incluindo os modelos EV2, EV3, eWind e ELight.
Texto e fotos: Luís Otávio Pires



O post Carro elétrico com câmbio manual? Marca chinesa quer produzir no Brasil para atender as autoescolas apareceu primeiro em BHAZ.