
A massa de renda, que é a soma dos salários mensais de todos os trabalhadores do país, cresceu 6,6% em relação a 2024 e chegou a R$ 345 bilhões, o maior valor da série histórica. Renda cresce, mas inflação reduz o poder de compra dos brasileiros
Reprodução/TV Globo
Nos três primeiros meses do ano, a soma dos salários dos brasileiros chegou ao maior valor para o período. Mas a inflação em alta tem reduzido o poder de compra dos trabalhadores.
A massa de renda da economia se faz com o trabalho dos brasileiros. Gente como o gesseiro Marcos Roberto Jovino, que vem emendando uma obra na outra.
“É difícil encontrar eu aqui, viu? Quer esconder de mim é vir aqui na loja”.
Repórter: Está sempre trabalhando?
“Sempre trabalhando, para encontrar é só por telefone mesmo”.
Casada com o Marcos, a comerciante Cilene Leão da Silva Rosa só encontra o marido no fim do expediente. Faz dois meses que ela abriu uma lojinha. Sente que a vida vai entrando em ordem.
“Todos os dias eu estou vendendo. Eu conserto celular, temos capinha, temos tudo, então assim, todos os dias vem alguém”, contou.
O resultado dos negócios da Lena e do Marcão é um retrato do Brasil. A massa de renda, que é a soma dos salários mensais de todos os trabalhadores do país, cresceu 6,6% em relação a 2024 e chegou a R$ 345 bilhões, o maior valor da série histórica.
Isso explica a disparada do consumo, mas não vem acompanhado na mesma medida do crescimento do investimento e da produtividade, o que preocupa os economistas. Samuel Pessoa, pesquisador do FGV Ibre, explica o conflito dos dados bons da economia.
“Se a renda do trabalhador cresce, mas a produtividade do trabalhador não cresce na mesma proporção, que que tá acontecendo? A rentabilidade das empresas está caindo. Se a rentabilidade das empresas cai, alguma hora o investimento vai cair, o interesse das empresas em aumentar sua produção vai cair e isso gera uma pressão para desfazer um ciclo de crescimento. Salários que sobem mais do que a produtividade durante muito tempo fica uma dinâmica insustentável”.
É o professor de economia da USP Simão Silber que dá nome ao principal sintoma desse desequilíbrio.
“Junto com o crescimento da renda, houve um fator negativo que foi uma aceleração da inflação no ano de 2025. Ela come o poder de compra do consumidor brasileiro”.
O que leva a gente de volta pra família brasileira. Vem ganhando e gastando muito.
“Quanto mais a gente ganha, mais a gente gasta”, diz Cilene.
É entrar no mercado para ter a sensação de que a renda não é tão alta assim. Os preços de alimentação cresceram 7,81% em 12 meses.
“Eu ia no mercado com R$ 1 mil e você lotava o armário. Hoje, com três, você não lota”.
E o custo de serviços como transporte, por exemplo, come um pouco mais do dinheiro que vem do trabalho. Alta de 6,03%.
“Gasolina não dá. R$ 50 não sai nem da reserva. Temos internet, temos água, temos luz, temos aluguel. Você ganha bem, mas você gasta o dobro”.
Falta para investir na produtividade do trabalhador. A Cilene está adiando os estudos.
“Não é tão caro esse curso, mas se for tirar desse investimento, eu deixo faltando algo. Então não tem como agora, no momento, investir nisso”.
“O nosso grande problema é o desequilíbrio nas contas públicas. Se o governo está gastando muito mais do que arrecada, ou se a taxa de crescimento do gasto público é muito alta, o governo está induzindo uma demanda grande. Isso gera pressão sobre a inflação e obriga o Banco Central a manter juros elevados. Se a renda cresce, mas esse crescimento da renda não tem como contrapartida maior produtividade do trabalhador, não tem uma prosperidade real. Em algum momento a conta vai vir”, diz Samuel de Abreu Pessôa, pesquisador do FGV Ibre .
“É uma coisa efêmera. É igual uma flor que vai se esvair muito rapidamente”, completa Simão.
O casal espera que esse momento bom se sustente. E está investindo nisso.
“Um salão de cabeleireiro, né? Aí estou investindo e daqui eu quero alugar outro salão, montar uma loja de vendas, bastante material de drywall”, conta Marcos.
“Eu sei que eu vou lutar muito e vou conseguir uma casa própria”, afirma Cilene.
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