
Ele foi condenado por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. Jurados foram unânimes, consideraram empresário culpado pelo crime cometido em 2019. Os dois corréus foram absolvidos. Filha de Paulo Cupertino comenta condenação do pai
Isabela Tibcherani, filha de Paulo Cupertino, gravou um vídeo parra comentar a condenação do pai a 98 anos de prisão em regime fechado por ter matado a tiros o namorado dela e os pais do rapaz em 2019 em São Paulo (veja acima).
“A Justiça, ela foi feita”, disse Isabela logo após saber que Cupertino foi considerado culpado pelas mortes de Rafael Miguel e do casal Miriam e João Miguel. Após dois dias de julgamento no Fórum Criminal da Barra Funda, o empresário foi julgado e condenado pela maioria dos sete jurados.
O Ministério Público (MP) o acusou por triplo homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas. Cabe recurso contra a decisão, mas Cupertino terá de recorrer preso. Ele está detido desde 2022.
De acordo com a Promotoria, Segundo o Ministério Público (MP), Cupertino matou o artista e a família da vítima com 13 tiros por não aceitar o namoro do rapaz com a sua filha Isabela Tibcherani, que tinha 18 anos à época. Rafael estava com 22. Câmeras de segurança gravaram o crime na frente da casa da jovem e a fuga do assassino.
Isabela Tibcherani gravou vídeo após a condenação do pai
Reprodução/Arquivo pessoal
Veja abaixo outros trechos do que a filha dele, que deixou de usar o sobrenome Cupertino após o crime, falou:
“Oi pra todo mundo. Eu não sei se é o momento certo pra aparecer aqui ou não. Não sei se eu deveria falar, mas estou sentindo no meu coração que sim de alguma forma sobre tudo, tudo que aconteceu, tudo que está acontecendo. Tudo que eu estou precisando assimilar. Eu não tô aqui pra lidar com julgamentos que podem vir sobre eu estar falando sobre, sobre eu estar aparecendo novamente, mas eu queria de alguma foram agradecer porque na mesma… não na mesma medida, mas muito mais do que as pessoas que desejaram coisas ruins ou que estavam contra ou seja o que for… tinha muita gente boa torcendo pra isso. E sabendo disso, sabendo que durante todos esses anos. Perante todo esse tempo que a gente esperou pra ter um desfecho, aceitável, né? Um senso de Justiça de fato pra tudo que aconteceu… essas pessoas estavam na torcida, desejando o melhor, desejando a Justiça, torcendo pra que as pessoas envolvidas possam dar continuidade nas suas vidas e por mais que isso jamais vá mudar o que a gente sente, a dor que foi causada, a gente consegue olhar pra frente e pensar que, pelo menos de alguma forma, fomos amparados. Eu acho que essa é a palavra, não sei explicar ao certo. Mas a justiça, ela foi feita. Do meu lado, de tudo, é só gratidão por todo mundo que esteve ao meu lado, que torceu pra que isso acontecesse. E não, eu nunca desejei me autopromover em cima de algo tão ruim, principalmente porque é a minha história de vida. Uma parte a minha história pelo menos. E pra sempre vai ser uma parte muito dolorida da minha história. Mas hoje eu entendo, mesmo diante a muito julgamento, diante a muitas lutas que eu passei, muitos anos tendo sobre a minha índole, sobre tudo. Porque ser associada a uma pessoa que fez algo tão ruim, acaba gerando esse tipo de desconforto de ter que lidar com pessoas que acreditam que de alguma forma porque você tem algum grau de parentesco com uma pessoa, você automaticamente tem a mesma índole, e faria algo parecido, mas não, eu sou completamente diferente dessa pessoa. Tanto que todos esses anos eu estive à disposição da Justiça pra que tudo desse certo. Me ausentei sim por muito tempo das redes sociais”
Rafael Henrique Miguel e os pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Silva Miguel
Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal
👨⚖️ A sentença foi dada pelo juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, da 1ª Vara do Júri da Capital, a partir da decisão majoritária dos quatro homens e três mulheres que foram jurados. Ele leu a sentença sem a presença do réu. Disse que o crime foi cometido na presença da filha de Cupertino e agravado por sua fuga do local. Os dois corréus foram absolvidos.
O advogado da família das vítimas, Fernando Viggiano, afirmou, à saída do julgamento, que “a tese de defesa de negativa de autoria [de Cupertino] foi rechaçada pelos jurados”. “Imaginávamos que ele tomaria qualquer outro caminho, dada a robustez das provas constantes dos autos”, destacou.
E emendou: “O cuidado que tivemos foi primordial para que não houvesse nenhuma nulidade. A todo momento havia questões referentes a nulidade processual, não efetivamente à tese, porque sabíamos que havia provas robustas para a condenação”.
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O juiz entendeu que nenhum dos pedidos de nulidade feitos pela defesa de Cupertino deveriam ser atendidos.
Rogério Zagalo, promotor do MP-SP, disse ter se surpreendido com a pena: “Porque o Brasil tem uma cultura chamada cultura da pena mínima, e o Judiciário tem que começar a pensar como esse juiz que jogou essa causa hoje, nós temos que fazer condenações pensando entre outras coisas também, nas consequências do ato ilícito. E nesse caso específico, da mesma família, foram eliminadas três vidas, então é um caso que realmente é muito grave”.
O empresário, no entanto, negou o crime quando foi interrogado no primeiro dia de júri.
“Impossível eu ter cometido esse crime. Não tinha motivo, nunca existiu crime premeditado”, chegou a dizer no plenário. “Nunca na minha vida tive conhecimento do Rafael, João e Miriam. Como posso ter cometido o crime se nunca tive acesso a eles.”
O que Cupertino disse no interrogatório:
No alto, da esquerda para a direita: Eduardo Jose Machado, Paulo Cupertino Matias e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora. Os três são réus no processo que apura os assassinatos de Rafael Henrique Miguel e dos pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Silva Miguel
Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal
Cupertino negou o crime, dizendo que saiu da casa e viu os três corpos (de Rafael e dos pais) na rua;
negou que a silhueta de um vídeo de câmera de segurança que mostra um homem e as três vítimas é a dele;
que viu ainda “vagabundos” fugindo, sugerindo que eles cometeram os assassinatos;
que se arrepende de não ter ido atrás deles;
que não os denunciou na delegacia por medo do que poderia acontecer com a sua família;
que a imagem de outra câmera que mostra ele fugindo ocorreu mesmo e é ele porque estava com medo dos “vagabundos”;
falou ainda que não fugiu e nem se escondeu. E que estava trabalhando
Após os assassinatos, o empresário se escondeu em outros estados e países. Ele só foi preso quase três anos depois do crime, em 2022.
Além de Cupertino, também foram interrogados na quinta-feira (29) outros dois réus no processo: Wanderley Antunes e Eduardo Machado, acusados de ajudado a fugir e se esconder após o crime. Eles respondem em liberdade a acusação de favorecimento pessoal por terem ajudado o empresário a fugir e se esconder após o crime. Os dois também se disseram inocentes.
Isabela Tibcherani e Rafael Miguel eram namorados até o pai dela matar o ator a tiros em 2019
Reprodução/Redes sociais
Foram ouvidas sete testemunhas no total. Entre elas, Isabela e Vanessa Tibcherani, respectivamente, a filha e a ex-esposa de Cupertino. As duas contaram que não viram como Rafael, Miriam e João foram baleados, mas disseram na audiência que quem os matou foi Cupertino.
“Foi muito rápido, questão de segundos. Ouvi os disparos, me abaixei e comecei a gritar ‘não, não e fui para fora’”, disse Isabela.
“O que posso dizer é que ele assassinou as três pessoas a sangue frio”, contou Vanessa no julgamento.
Cupertino chegou algemado, acompanhado por dois policiais militares, e começou a ser interrogado por volta das 18h30 de quinta, já sem algemas. O primeiro dia de julgamento foi encerrado às 22h30. O réu só respondeu às perguntas da defesa, feitas por suas advogadas.
E avisou ao juiz que não queria responder aos questionamentos da acusação. Por isso o Ministério Público não o indagou sobre o crime. O MP foi representado pelos promotores Thiago Marin e Rogério Leão Zagallo.
Plenário onde ocorre o julgamento de Paulo Cupertino
Divulgação/Assessoria de Imprensa/Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP)
Na fase final do julgamento de Paulo Cupertino, nesta sexta-feira (30), a defesa questionou a falta de provas concretas apresentadas pelo Ministério Público. As advogadas Juliane Oliveira e Miriam Souza afirmaram que não há testemunha ocular, que a denúncia é baseada em suposições e que Cupertino é um cidadão comum. Disseram ainda que ele fugiu por medo de linchamento midiático e circulou por dez estados e dois países. Criticaram também a ausência de análise pericial das cápsulas encontradas no local do crime.
Durante a tréplica, Cupertino permaneceu calado ao lado das advogadas e se emocionou ao saber que a filha retirou seu sobrenome. Em determinado momento da argumentação, ele abaixou a cabeça e esfregou as mãos no rosto. A defesa mostrou uma carta escrita pela sobrinha dele dizendo o quanto o Cupertino era amoroso, além de imagens da prisão, alegando comemoração indevida por parte da polícia.
O primeiro julgamento de Cupertino em 2024 foi anulado pela Justiça e remarcado para essa semana após o réu demitir seu advogado ainda no plenário.
Julgamento de Paulo Cupertino acontece no Fórum Criminal da Barra Funda.
Lucas Jozino/TV Globo
O ator era conhecido na mídia por ter interpretado o personagem Paçoca na novela “Chiquititas”, do SBT, e trabalhado em um famoso comercial de TV em que uma criança pede brócolis à mãe. Ele também atuou em novelas da Globo, como “Pé na Jaca”, “Cama de Gato” e o especial de fim de ano “O Natal do Menino Imperador”.
Cupertino está preso preventivamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo.
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