
Rede será credenciada ao Redário e inicia atividades com contrato para fornecimento de 800 quilos de sementes. Encontro na comunidade Pedreira marcou criação da primeira rede de sementes da Flona Tapajós
Márcio Santos / PSA
Com participação de mais de cinquenta coletores de sementes, a comunidade de Pedreira, na Floresta Nacional do Tapajós, recebeu o I Encontro da Rede de Sementes, evento que marcou a criação oficial da primeira Rede de Sementes da Flona Tapajós, que será credenciada ao Redário, articulação nacional que reúne mais de 27 redes de sementes distribuídas em várias regiões do país.
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A atividade foi organizada pela Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (Acosper) e Projeto Saúde e Alegria em parceria com a Federação da Flona Tapajós, Coomflona, Redário, e apoio da WWF Brasil, Konrad Adenauer e da empresa Morfo.
A criação da rede é resultado de um processo importante, que contou com apoio técnico do Redário na elaboração do planejamento e das estratégias de coleta no território da Flona.
“O evento atingiu seu objetivo, que foi a criação oficial da primeira rede de sementes de coletores da Flona Tapajós. Para a gente esse processo foi muito importante, pois a equipe técnica do Redário ajudou na construção da rede e no planejamento da coleta de sementes dentro da Flona”, explicou o coordenador de assistência técnica do Projeto Saúde e Alegria, Márcio Santos.
Rede de Sementes da Flona inicia com contrato para fornecimento de 800kg de sementes (imagem ilustrativa)
Mais Agro/TV Centro América
A rede inicia as atividades com o primeiro contrato firmado, que prevê a entrega de 800 quilos de sementes à empresa Morfo, que atua na recuperação de áreas degradadas. Para o presidente da Acosper, Manoel Edivaldo, a estruturação da rede é um passo importante para fortalecer a cadeia produtiva no Ecocentro da Sociobioeconomia, com foco no reflorestamento de áreas degradadas.
“Foram criados quatro polos dentro da Flona, e cada um vai contar com um ‘elo’, uma pessoa da própria comunidade que será treinada para recepcionar as sementes e facilitar a logística até a cooperativa. Ficamos muito satisfeitos, porque os coletores participaram do encontro, questionaram, perguntaram e demonstraram interesse. Esse momento foi importante porque a gente começou com um projeto piloto no ano passado e agora a rede começa a ganhar forma”, ressaltou.
Segundo Eduardo Malta, representante do Redário, cada rede de sementes define o seu jeito de trabalhar. “Esse momento está sendo fundamental para fazer acordos e alinhar tudo desde a identificação das espécies, os padrões de qualidade, até a comercialização e a divisão dos pagamentos. Isso garante que todo mundo saiba como vai funcionar e possa trabalhar tranquilo e mais abre portas para que essa rede se expanda, gerando renda e oportunidades aqui no Tapajós.”
Márcio Santos falou sobre os benefícios da rede de sementes
Divulgação
Para os coletores que participaram do encontro, a troca de conhecimentos foi um dos principais ganhos. Marileide Silva, da comunidade São Domingos, avaliou que o encontro possibilitou ampliar o conhecimento sobre espécies importantes para a restauração.
“Muito bom, porque nós, como coletores de sementes aqui da floresta, muitas das vezes a gente não sabe tudo, sabe um pouco. Pudemos olhar para outras sementes que são interessantes para restauração e que ainda não estavam na lista. Acho que demos passos muito importantes que vão ajudar na profissionalização de uma nova rede de sementes”, disse Marileide.
Geração de renda
João Pedro, morador da comunidade Pedreira, reforçou que a iniciativa representa uma oportunidade de geração de renda aliada à conservação. Para ele, para quem como ele mora dentro de uma unidade de conservação, a rede é uma oportunidade de geração de renda.
“Essas outras espécies de sementes ainda não tinham essa questão de mercado. Acho muito importante isso porque prova que a natureza, que a floresta, ela também traz renda para as famílias. Porque nós fomos acostumados aqui, eu principalmente e outros companheiros do meu tempo, a trabalhar com roça, para fazer agricultura familiar. A gente quase não valorizava a questão extrativista, de não madeireiro principalmente. Espero que dê tudo certo, que é uma nova oportunidade para geração de renda e também para manter a floresta em pé”, ponderou.
Comunitários aprenderam sobre a importância e o valor das sementes
Márcio Santos / PSA
Juliana Castro, da comunidade de Jaguarari, participou do encontro e destacou que a rede pode trazer benefícios diretos para quem vive na floresta. “Foi um grande prazer estar aqui. É gratificante pra gente ter esse momento, porque trabalhamos diretamente na mata, fazendo a coleta das sementes. Isso não é só uma fonte de renda pra nossa comunidade, mas pra toda a Flona”
Sociobioeconomia
O Projeto de Sementes Florestais da Acosper teve início em 2023, a partir de uma parceria com a empresa Morfo. A iniciativa estrutura a cadeia de coleta, processamento e comercialização de sementes nativas e envolve moradores de dez comunidades: São Domingos, Chibé, Jaguarari, Acaratinga, Aldeia Takuara, Pedreira, Itapaiúna, Piquiatuba, Aldeia Marituba e Prainha 1.
Os moradores realizam atividades de campo, desde a identificação das espécies até a coleta e o armazenamento, contribuindo para a conservação da floresta e gerando alternativas de renda baseadas na sociobioeconomia.
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