Tesouro IPCA+ pagando até 10%: a oportunidade do ano ou armadilha?

Com a volta de títulos públicos oferecendo rentabilidade de IPCA+10% ao ano, muitos investidores estão se perguntando se essa é a melhor chance do ano para garantir altos retornos na renda fixa. Mas será que vale mesmo trocar seus títulos antigos com IPCA+6% ou +7% por esses papéis com taxa mais alta?

A resposta não é tão simples. Especialistas apontam que essa movimentação envolve riscos relevantes, que vão desde perdas de capital no curto prazo até ilusões sobre a consistência dos retornos no longo prazo.

O que torna os títulos IPCA+ tão atrativos?

Os títulos públicos atrelados à inflação têm se mostrado, historicamente, um dos melhores investimentos para o longo prazo. De acordo com o índice IMA-B5, que acompanha os IPCA+ com vencimentos superiores a 5 anos, esse tipo de papel superou quase todos os ativos do mercado brasileiro nos últimos 10 anos — perdendo apenas para os grandes índices acionários americanos como S&P 500 e Nasdaq.

E agora, em 2025, estamos diante de uma nova janela de oportunidade: nos últimos 15 anos, taxas superiores a 7% só foram vistas em menos de 5% do tempo. Ou seja, quem aproveita esse tipo de janela pode ter ganhos muito acima da média.

Por que tanta gente ainda não está aproveitando?

Apesar das taxas atrativas, o Tesouro Nacional está enfrentando queda na demanda pelos títulos IPCA+. Em 2023, a taxa de sucesso nas vendas caiu de 77% para 52%. Isso acontece porque altas taxas também sinalizam risco elevado, principalmente o risco fiscal do Brasil.

Mesmo sendo o investimento mais seguro em termos de crédito (já que o governo é o emissor), a percepção de instabilidade econômica faz com que muitos investidores exijam retornos maiores para manter seus aportes no país.

Simulação: IPCA+8 vs outros investimentos

Um estudo comparativo mostra que um título teórico de IPCA+8% ao ano tem um crescimento mais estável e previsível que ativos como Ibovespa, IFIX ou até o CDI. Porém, nem tudo são flores.

Quem investiu, por exemplo, no Tesouro Renda+ 2065 em 2023, viu uma desvalorização de 50% do seu capital. Isso ilustra o risco de mercado: os títulos públicos também sofrem oscilações severas, principalmente quando a marcação a mercado entra em cena.

Vale a pena trocar um título IPCA+6 por um IPCA+10?

Não, na maioria dos casos.
Quem comprou um título no passado com IPCA+6% garantiu essa taxa até o vencimento. Vender esse papel agora para comprar um novo, com rentabilidade mais alta, significa assumir uma perda real. Isso porque o valor de mercado atual desses títulos está abaixo do que o investidor pagou.

Trocar títulos só porque a taxa nova é mais alta parece lógico, mas consolida prejuízos e só beneficia quem recebe comissões pelas movimentações no mercado financeiro.

Diversificação: a verdadeira chave

A melhor estratégia não está em “apostar tudo” em um único título, mas sim em montar uma carteira diversificada entre diferentes indexadores:

  • IPCA+ (proteção contra inflação)

  • Pós-fixados (atrelados à Selic ou CDI)

  • Prefixados (como os que pagam até 16,5% ao ano hoje)

Dessa forma, o investidor se protege em diferentes cenários macroeconômicos, com ganhos consistentes tanto em tempos de inflação alta quanto de queda dos juros.

Há outras alternativas com IPCA+10?

Sim. Além do Tesouro Direto, o mercado está repleto de CDBs de bancos médios, CRI/CRA e até fundos de papel (FIIs) com rendimentos semelhantes ou superiores, em alguns casos com isenção de IR.

Por exemplo, alguns papéis privados classificados como “janela verde” por casas de análise financeira oferecem IPCA+8% líquidos, o que equivale a CDBs com IPCA+11% brutos, considerando o imposto de renda.

Risco x Retorno: é seguro?

O Tesouro IPCA+ é muito seguro contra calote, mas não é livre de volatilidade. Especialmente os papéis de longo prazo, como os vencimentos em 2045 ou 2065, podem oscilar fortemente no curto prazo — algo que pode surpreender quem acredita que renda fixa é sinônimo de estabilidade absoluta.

Por isso, é essencial entender que investimentos IPCA+ são para quem tem horizonte de longo prazo e tolerância a oscilações de mercado.

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