O Banco Central elevou a taxa Selic para 14,25% nesta quarta-feira, marcando o quinto aumento consecutivo durante o governo Lula. A decisão não surpreendeu o mercado, que já precificava uma alta de 1 ponto percentual, em linha com a sinalização anterior do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas o que está motivando essa escalada dos juros, e como os investidores podem aproveitar esse cenário?
Por que a Selic continua subindo?
O principal objetivo da política monetária do Banco Central é controlar a inflação — e o aumento da Selic é uma das ferramentas para isso. Em fevereiro, o IPCA registrou alta de 1,31%, o maior índice para o mês em 22 anos. Para efeito de comparação, o CDI rendeu 1% no mesmo período, ficando atrás da inflação, o que representa uma perda real para quem investe apenas em renda fixa tradicional.
Os principais vilões da inflação recente foram:
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Educação: reajustes escolares no início do ano;
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Habitação: alta de 16% na conta de luz;
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Alimentos: com destaque para o ovo, que subiu 15% em um mês.
Além disso, o efeito da valorização do dólar no ano passado — que acumulou 27% contra o real — segue pressionando os preços internos, tanto por encarecer produtos importados quanto por elevar o preço de exportáveis.
O desafio do risco fiscal e a dívida crescente
A alta da Selic também está diretamente relacionada ao risco fiscal brasileiro. Mesmo com arrecadação recorde, os gastos públicos continuam subindo, mantendo o déficit em níveis preocupantes. Segundo a metodologia do FMI, a dívida pública brasileira se aproxima de 90% do PIB — muito acima do padrão para economias emergentes.
Cerca de 47% dessa dívida está atrelada à Selic. Ou seja, quanto mais alta a taxa básica de juros, mais caro fica para o governo rolar sua dívida, aumentando o risco fiscal e exigindo ainda mais juros para atrair capital estrangeiro.
Por que os juros são estruturalmente altos no Brasil?
O Brasil carrega um histórico inflacionário traumático. De 1980 a 1994, a inflação acumulada chegou a incríveis 13 trilhões por cento. Esse passado moldou hábitos, como a compra do mês no início do salário e a cultura de indexação de preços.
Além disso, o país enfrenta fatores estruturais como:
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Alta carga tributária: 34% do PIB, acima de países como Suíça.
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Baixa taxa de poupança: exige atração de capital estrangeiro.
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Risco jurídico: recuperação média de crédito é de apenas 18,2 centavos por dólar, contra 92 centavos no Japão.
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Spread bancário elevado: reflexo da insegurança jurídica e do custo Brasil.
Como lucrar com a Selic a 14,25%?
Apesar do ambiente desafiador, juros altos oferecem boas oportunidades para o investidor atento:
Renda Fixa
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Tesouro Selic e CDBs pós-fixados estão pagando mais de 1% ao mês com baixo risco.
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Prefixados e IPCA+ oferecem taxas atrativas, como já se viu em 2015, quando títulos pagavam até IPCA + 8%.
Bolsa de Valores
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Em 2016, mesmo antes do impeachment de Dilma Rousseff, a bolsa subiu 38,9% após três anos de queda, antecipando a melhora do cenário político e econômico.
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Atualmente, com a bolsa lateralizada e os lucros das empresas em alta, analistas apontam uma possível simetria positiva: ações baratas com bons fundamentos.
Ciclo político e oportunidades
Com eleições se aproximando em 2026, o mercado já projeta uma possível troca de governo. O JP Morgan, por exemplo, elevou sua recomendação para a bolsa brasileira diante da possibilidade de mudança de regime. A entrada de capital estrangeiro pode valorizar o real e impulsionar os ativos de risco.
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