A reforma tributária, já aprovada e com implementação prevista em fases até 2027, promete simplificar o sistema de impostos no Brasil. Porém, para micro e pequenas empresas, a mudança pode representar um desafio à sobrevivência financeira. O contador Charles Golar, CSO da Contabilizei, maior escritório de contabilidade do país, explica como o novo sistema impactará diretamente o fluxo de caixa, a precificação e a competitividade dos pequenos negócios.
A promessa de simplificação com impacto complexo
Um dos objetivos centrais da reforma é reduzir a complexidade do sistema tributário, unificando tributos federais, estaduais e municipais. Para empresas maiores, isso pode significar agilidade e clareza na gestão fiscal. Mas para os pequenos, especialmente aqueles enquadrados no Simples Nacional, o efeito pode ser mais desafiador.
Segundo Charles Golar, a simplificação trará impactos indiretos — e diretos — sobre a gestão financeira desses negócios, exigindo maior controle de fluxo de caixa e uma nova abordagem para formação de preços.
Split payment: o imposto será cobrado na hora do pagamento
A grande virada de chave é o mecanismo de split payment. Hoje, o pequeno empresário vende, fatura, apura e paga seus impostos no mês seguinte. Com o novo modelo, o imposto será recolhido automaticamente no momento em que o valor é recebido — seja por Pix, cartão ou boleto.
Na prática, isso significa menos dinheiro entrando no caixa da empresa no ato da venda. “O empresário vai receber já com o imposto descontado, o que pressiona o fluxo de caixa. E fluxo de caixa é o que mantém o negócio funcionando”, alerta Golar.
Precificação vai exigir mais estratégia
Outro ponto crítico será a forma como os pequenos empresários definem o preço dos seus produtos e serviços. Hoje, muitos se baseiam apenas na concorrência. Com a reforma, será preciso considerar quem é o cliente (pessoa física ou jurídica), o regime tributário dele e o impacto dos tributos ao longo da cadeia.
“Vai ser necessário recalcular tudo. O preço não poderá mais ser apenas ‘o que o mercado cobra’, mas sim baseado em custo, margem e efeito tributário”, explica o especialista da Contabilizei.
Crise ou oportunidade: o crédito tributário na reforma
Um dos pilares da reforma é o sistema de não cumulatividade, em que empresas poderão abater o imposto já pago em etapas anteriores da cadeia produtiva. Porém, quem está no Simples Nacional continuará não gerando esse crédito para o cliente — o que pode afetar sua competitividade.
“Hoje, empresas no Simples não geram crédito para quem compra. Isso pode se tornar um problema competitivo, pois o cliente pode preferir comprar de quem oferece esse abatimento”, afirma Golar.
A boa notícia é que será possível mudar de regime tributário duas vezes ao ano, o que permite ao empresário maior flexibilidade para se adaptar ao mercado.
Novo sistema será automatizado, mas depende da Receita
A promessa do governo é que todo o sistema funcione de forma automática. A Receita Federal está desenvolvendo uma plataforma capaz de cruzar dados de faturamento e compras em tempo real, calculando os tributos e aplicando o desconto automaticamente na transação.
Esse modelo lembra o Imposto de Renda com desconto na fonte, mas sua aplicação prática ainda depende de testes e de integração com o sistema financeiro nacional.
Preparação é o segredo: adaptar-se antes da virada
Mesmo com as promessas de simplificação, Golar alerta que os pequenos empresários devem se preparar desde já. “A reforma vai mudar o dia a dia da gestão. Não dá para esperar 2027 para agir. É preciso rever contratos, simular o impacto dos tributos, formar colchões de caixa ou buscar crédito com planejamento.”
A Contabilizei, que atende mais de 70 mil negócios, já se mobiliza para oferecer ferramentas e orientação prática para que seus clientes façam essa transição de forma segura.
A reforma tributária traz modernização e justiça fiscal, mas exige que o pequeno empreendedor entenda profundamente seu negócio. Gerir melhor o caixa, precificar de forma estratégica e planejar mudanças de regime serão atitudes indispensáveis para manter a competitividade no novo cenário.
O post Reforma Tributária vai apertar o caixa dos pequenos negócios: entenda por quê apareceu primeiro em O Petróleo.