Ciclistas de Belo Horizonte se reuniram com parlamentares nessa quinta-feira (12) em audiência na Câmara de Vereadores para discutir o futuro da proposta de ciclovia na avenida Afonso Pena. Em conversa com membros da Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços, os cicloativistas cobraram a retomada das obras na região, paralisadas desde abril de 2024.
Segundo requerimento, de autoria dos vereadores Wagner Ferreira (PV), Helton Junior (PSD) e Luiza Dulci (PT), a suspensão ocorreu por causa de questionamentos do Ministério Público e reclamações de motoristas, comerciantes e moradores.
Durante a discussçao, a representante do grupo Bike de Elite, Juliane Cristina Martins Morais Rocha, lembrou que a obra na Avenida Afonso Pena está presente no Plano Diretor de Belo Horizonte, que prevê 400 km de ciclovias e foi elaborado com participação da sociedade civil.
“São obras de caráter social, onde privilegia-se o acesso descomplicado e a mobilidade humana”, afirmou.
Os convidados também homenagearam o ciclista Fabrício Almeida, atropelado fatalmente em 2023, enquanto atravessava uma faixa de pedestre de bicicleta. A irmã da vítima, Fabíola Almeida, destacou que, assim como Fabrício, muitas pessoas usam a bicicleta como meio de transporte, e não só por esporte ou lazer, e por isso é preciso criar uma infraestrutura segura na cidade.
Wagner Ferreira, que presidiu o debate, se comprometeu a enviar o registro da audiência para o processo judicial, a fim de argumentar a favor da continuidade da obra. Além disso, salientou que fez solicitação ao gabinete do prefeito Álvaro Damião para que ele se reúna com grupo de ciclistas e enviará pedido de informações para sanar dúvidas levantadas no encontro.
“A manifestação política do prefeito é importante, já que a questão técnica, pelo menos para nós aqui, já está mais do que superada, dependendo obviamente da decisão judicial. É importante que o prefeito, como principal agente político desta cidade, se posicione em relação a isso”, disse Wagner.
Impactos da ciclovia
O representante do grupo Ciclo Rota BH, Cristiano Scarpelli, rebateu argumentos utilizados para justificar a paralisação da obra. Sobre o impacto no tráfego de veículos, por exemplo, ele afirmou que a ciclovia ocuparia apenas cerca de 1,6% do espaço destinado aos carros, justamente em um trecho da avenida com menor fluxo.
Além disso, o ativista acrescentou que, em filmagens diárias da via, conseguiu observar a presença média de 1.000 ciclistas por dia, mesmo sem um espaço exclusivo. Cristiano argumentou que, assim como o número de bicicletas triplicou em um ano após a implantação da ciclovia na avenida Augusto de Lima, o mesmo pode ocorrer na Afonso Pena. Segundo ele, isso pode resultar na redução do número de carros e na melhora do trânsito.
Problemáticas
A fragmentação da malha cicloviária foi citada por participantes contrários à proposta de uma ciclovia na Afonso Pena. Braulio Lara (Novo) destacou que “BH tem vários pontos em que as ciclovias não se conectam” e defendeu investimentos descentralizados, especialmente em regiões periféricas.
O vereador afirma que a obra está sendo questionada pelo “valor e outros pontos”, mas que o pior é “ficar no meio do caminho”, sem resolução.
Já Vinicius Mundim, do grupo Inconfidentes Pedalantes, apesar de discordar sobre a questão central, corrobora a opinião sobre a falta de integração entre as vias para bicicletas. Por meio de um site colaborativo, que mostra as estruturas cicloviárias nas cidades, ele demonstrou que a capital mineira ainda não possui uma estrutura totalmente organizada e interligada, com muitas “áreas vazias” pelo mapa. O convidado pontuou que com a implantação de uma ciclovia na “avenida mais famosa da cidade”, ganha-se força para conseguir mais espaços similares nas vias que mais precisam.
O que diz a PBH?
Liliana Hermont, diretora de Planejamento Estratégico e Inovação da Superintendência de Mobilidade (Sumob), esclareceu que a rede planejada, que está na legislação municipal, apresenta as conexões entre as ciclovias, mas existe “muita dificuldade em implantar”. Ela também explicou que a primeira versão do projeto em questão previa a supressão de árvores, mas após uma revisão, a nova versão prevê somente um transplantio. A representante reiterou que é desejo da pasta seguir com as intervenções.
”A implantação de infraestruturas específicas para pedestres e ciclistas é o único caminho para criarmos condições de segurança para essas pessoas transitarem. Então, nos preocupa a interrupção da implantação da rede cicloviária nesse sentido”, declarou Liliana.
A assessora da Sumob, Eveline Prado Trevisan anunciou que a PBH está nas etapas finais de aprovação de financiamento federal para implantação de mais 70 km de ciclovias na cidade. Ela também disse acreditar que a estrutura na Afonso Pena será “uma espinha dorsal”, com papel importante na integração com outros trechos.
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