Engie sobe 7% em dois dias; Auren enfrenta desafio de alavancagem após IPO

Nos pregões de 29 e 30 de junho de 2025, as ações da Engie Brasil (EGIE3) registraram alta acumulada de 7%, saltando de cerca de R$ 35 para R$ 45. No mesmo período, a Auren Energia (AURE3) viveu movimento de correção após forte volatilidade impulsionada pela elevada alavancagem decorrente da aquisição da AES Brasil.

Engie acelera valorização em meio a ciclo de investimentos

A Engie vem acompanhando o desempenho do índice de energia elétrica, que registra 30% de valorização no ano até 27 de junho. No acumulado dos últimos cinco anos, o setor cresce 38%, reflexo de um movimento global de busca por fontes renováveis. Apesar de o fluxo estrangeiro ter desacelerado em junho, os papéis da Engie ganharam força a partir da emissão de R$ 2,2 bilhões em debêntures, anunciada em fato relevante em 17 de junho, que financia o robusto programa de expansão da companhia.

Perfil de investimento e fundamentos

  • Baixa volatilidade: a Engie está entre as empresas de energia elétrica com menor oscilação de preço na bolsa, o que traz segurança ao investidor de longo prazo.

  • Ciclo de investimentos: em 2024, a empresa investiu R$ 9,6 bilhões; para 2025, são esperados cerca de R$ 7 bilhões, incluindo R$ 2,9 bilhões destinados à aquisição de novas usinas hidrelétricas.

  • Endividamento controlado: a dívida bruta atingiu R$ 26,6 bilhões em 2024, mas a dívida líquida/EBITDA permanece dentro da média setorial (3×), com 100% dos débitos em moeda local e 66% indexados ao IPCA. O prazo médio de vencimento é de 7 anos, com obrigações apenas de R$ 2,6 bilhões até dezembro de 2025, e caixa de R$ 5,5 bilhões em 1T25.

  • Geração e transmissão: a capacidade instalada soma 9,9 GW de geração própria, 2.700 km de linhas de transmissão e participação na TAG de transporte de gás. A produção cresceu 11% no 1T25 em comparação ao mesmo período de 2024.

  • Lucratividade e dividendos: o payout mínimo semestral é de 55%, embora em 2025 esteja mais conservador devido aos investimentos. Com P/L de 10,9 e dividend yield projetado em torno de 5,1%, suas ações negociam próximo ao valor justo de R$ 40 para quem busca retorno de 6% ao ano.

Auren Energia: alavancagem em foco após grande aquisição

A oferta pública inicial da Auren em 2023 permitiu sua ascensão como a terceira maior geradora do país, com 8,8 GW de capacidade instalada — atrás apenas de Eletrobras e Engie. No entanto, o forte endividamento gerado pela compra da AES Brasil elevou sua relação dívida líquida/EBITDA para 5,7× (meta de 3,5×), gerando receios entre investidores.

Desafios e perspectivas

  • Disponibilidade de ativos: a empresa investiu em capex para elevar a disponibilidade dos parques eólicos adquiridos de 88% para 95%, reforçando a geração de caixa estimada em R$ 3,3 bilhões de EBIT em 2024 e receita de R$ 11,3 bilhões.

  • Estratégia de desalavancagem: com caixa de R$ 8,1 bilhões, a Auren projeta amortizar gradualmente sua dívida, utilizando o fluxo de ativos adquiridos da AES Brasil. O cronograma de vencimentos se estende até 2048, mas com montantes mais robustos entre 2025 e 2027.

  • Rentabilidade e volatilidade: desde o IPO, as ações acumulam queda de 37%, com picos acima de R$ 15 que já recuaram a R$ 9,95. O valor patrimonial de mercado é atualmente inferior ao patrimonial contábil, o que atrai quem busca desconto, mas com perfil de investimento indicado apenas para investidores experientes e horizonte de longo prazo.

  • Dividendos tímidos: enquanto a Engie mantém payout de 55%, a Auren distribuiu apenas R$ 0,06 por ação em 2025, cumprindo o mínimo estatutário antes de levar o patamar de alavancagem ao recomendado.

O que esperar para o setor

A correlação com o índice de energia elétrica evidencia que as variações nas ações de Engie e Auren acompanham tendências macro, como fluxo de capitais globais e ciclo de investimentos em energias renováveis. Para Engie, a projeção é de valorização contínua, sustentada por fluxo de caixa robusto e rating AAA. Já a Auren precisa provar sua capacidade de reduzir alavancagem sem comprometer a competitividade em licitações de concessões.

Investidores devem avaliar o trade-off entre segurança e rentabilidade:

  • Engie oferece menor oscilação, dividendos estáveis e posição consolidada.

  • Auren pode proporcionar ganhos em cenários de desalavancagem bem-sucedida, mas com maiores riscos de volatilidade e distribuição de proventos.

A dinâmica de aportes no setor elétrico em julho de 2025 mostra que as empresas com sólida geração de caixa e endividamento controlado tendem a se destacar, enquanto aquelas em fase de consolidação via aquisições precisarão demonstrar rapidez na desalavancagem para reconquistar a confiança do mercado.

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